No começo desta semana Portugal tem On Falling, a obra de estreia de Laura Carreira, na competição pela Concha de Ouro. Depois de Marco Martins e Great Yarmouth- Provisional Figures, em 2022, voltamos a competir neste prestigiado festival, e de novo como o tema da emigração portuguesa na Grã-Bretanha, neste caso na Escócia com a história de uma mulher portuguesa (Joana Santos) a deixar-se “apagar” num armazém de central de compras. Uma odisseia de dor e abandono face a uma existência solitária e uma escravidão laboral que é um escândalo consentido nesta Europa em nome de uma liberalismo económico desumano..Filme de denúncia que ao contrário de Listen, de Ana Rocha, enceta um diálogo feroz com os tempos do cinema de real-socialismo. Uma estreia em cheio de uma cineasta que estudou cinema na Escócia e que nas suas curtas anteriores já prometia coisas bem fortes. Com coprodução britânica, On Falling, tem a produção portuguesa dos manos Patrocínio da Bro Cinema. Mário Patrocínio, o produtor, em breve com projeto de realização com Paulo Branco, falou ao DN sobre esta aposta numa cineasta fora do mapa….Depois de Listen e Great Yarmouth, mais uma abordagem ao universo da experiência dos emigrantes portugueses no Reino Unido. Como vê esta insistência no tema? A Bro Cinema tem desde o início um compromisso factual , e estratégico, de procurar, desenvolver e promover talento português, e as histórias que nos ajudem a “desenhar” o nosso país, e a revelar o que de mais especial e singular se faz por aqui. On Falling faz isso mesmo de uma forma prática pela magia da tela e do cinema, lançando uma luz sobre o tema sob uma perspetiva singular.Como produtor qual o grande desafio desta obra? Tudo começou quando nós detetámos o talento da Laura através da sua primeira curta metragem, Red Hill. Entrámos em contacto com ela e perguntámos se teria alguma ideia para uma futura longa metragem, e a Laura apresentou a ideia do On Falling. O grande desafio enquanto produtor neste caso foi acreditar no talento da realizadora, no seu “esboço” e plano inicial, e ajudá-la passo a passo a crescer. O filme, que estava já previsto ser filmado no Reino Unido, tinha custos muitos diferentes de uma primeira obra em Portugal, e nesse sentido iniciámos contactos com a BBC, e pelo género e universo, encontrámos a coprodutora Sixteen Films do Ken Loach. O grande desafio foi ter feito esta caminhada mantendo sempre o nosso amor pelo cinema, pelo potencial do filme, e tentar sempre unir os que foram se juntando ao projeto e lembrar a todos a verdadeira razão porque fazemos cinema.Qual a importância efetiva de estar a competir pela Concha de Ouro? É um privilégio estar ao lado de filmes incríveis, e estar rodeado de tanto talento e criatividade num dos grandes momentos do circuito mundial dos festivais de cinema. É um elogio sobretudo à “viagem” da Laura Carreira, ao filme e a todas as equipas que fizeram parte integral deste projeto. Na Bro Cinema estamos todos muito felizes por este reconhecimento, pela caminhada de quase cinco anos, e por sabermos que este é mais um passo seguro na direção do que pretendemos construir no futuro.O Mário Patrocínio realizador já foi prejudicado pelo Mário Patrocínio produtor, sobretudo a nível de tempo? Boa pergunta… sem uma resposta muito clara, tive essa discussão dentro de mim durante muitos anos. O realizador foi muito prejudicado durante uns bons anos, e ganhou o produtor. Mas se ganhou o produtor durante um tempo, ganharam também muitos talentos que tiveram a oportunidade de filmar e desenvolver projetos que fizeram a diferença, o que é muito bom e tem que continuar. Mas também ganhou o escritor Mário Patrocínio, que agora se vê com três longas metragens para filmar com o realizador Mário Patrocínio. Em suma, a vida é assim, repleta de desafios, aventuras, desilusões e a aceitação do que não podemos mudar, mas há que manter uma paixão imensa pela vida, pelo que amamos fazer e pelo que nos faz trazer ao de cima a nossa humanidade. Singular, sempre. .Rui Pedro Tendinha, em San Sebastian
No começo desta semana Portugal tem On Falling, a obra de estreia de Laura Carreira, na competição pela Concha de Ouro. Depois de Marco Martins e Great Yarmouth- Provisional Figures, em 2022, voltamos a competir neste prestigiado festival, e de novo como o tema da emigração portuguesa na Grã-Bretanha, neste caso na Escócia com a história de uma mulher portuguesa (Joana Santos) a deixar-se “apagar” num armazém de central de compras. Uma odisseia de dor e abandono face a uma existência solitária e uma escravidão laboral que é um escândalo consentido nesta Europa em nome de uma liberalismo económico desumano..Filme de denúncia que ao contrário de Listen, de Ana Rocha, enceta um diálogo feroz com os tempos do cinema de real-socialismo. Uma estreia em cheio de uma cineasta que estudou cinema na Escócia e que nas suas curtas anteriores já prometia coisas bem fortes. Com coprodução britânica, On Falling, tem a produção portuguesa dos manos Patrocínio da Bro Cinema. Mário Patrocínio, o produtor, em breve com projeto de realização com Paulo Branco, falou ao DN sobre esta aposta numa cineasta fora do mapa….Depois de Listen e Great Yarmouth, mais uma abordagem ao universo da experiência dos emigrantes portugueses no Reino Unido. Como vê esta insistência no tema? A Bro Cinema tem desde o início um compromisso factual , e estratégico, de procurar, desenvolver e promover talento português, e as histórias que nos ajudem a “desenhar” o nosso país, e a revelar o que de mais especial e singular se faz por aqui. On Falling faz isso mesmo de uma forma prática pela magia da tela e do cinema, lançando uma luz sobre o tema sob uma perspetiva singular.Como produtor qual o grande desafio desta obra? Tudo começou quando nós detetámos o talento da Laura através da sua primeira curta metragem, Red Hill. Entrámos em contacto com ela e perguntámos se teria alguma ideia para uma futura longa metragem, e a Laura apresentou a ideia do On Falling. O grande desafio enquanto produtor neste caso foi acreditar no talento da realizadora, no seu “esboço” e plano inicial, e ajudá-la passo a passo a crescer. O filme, que estava já previsto ser filmado no Reino Unido, tinha custos muitos diferentes de uma primeira obra em Portugal, e nesse sentido iniciámos contactos com a BBC, e pelo género e universo, encontrámos a coprodutora Sixteen Films do Ken Loach. O grande desafio foi ter feito esta caminhada mantendo sempre o nosso amor pelo cinema, pelo potencial do filme, e tentar sempre unir os que foram se juntando ao projeto e lembrar a todos a verdadeira razão porque fazemos cinema.Qual a importância efetiva de estar a competir pela Concha de Ouro? É um privilégio estar ao lado de filmes incríveis, e estar rodeado de tanto talento e criatividade num dos grandes momentos do circuito mundial dos festivais de cinema. É um elogio sobretudo à “viagem” da Laura Carreira, ao filme e a todas as equipas que fizeram parte integral deste projeto. Na Bro Cinema estamos todos muito felizes por este reconhecimento, pela caminhada de quase cinco anos, e por sabermos que este é mais um passo seguro na direção do que pretendemos construir no futuro.O Mário Patrocínio realizador já foi prejudicado pelo Mário Patrocínio produtor, sobretudo a nível de tempo? Boa pergunta… sem uma resposta muito clara, tive essa discussão dentro de mim durante muitos anos. O realizador foi muito prejudicado durante uns bons anos, e ganhou o produtor. Mas se ganhou o produtor durante um tempo, ganharam também muitos talentos que tiveram a oportunidade de filmar e desenvolver projetos que fizeram a diferença, o que é muito bom e tem que continuar. Mas também ganhou o escritor Mário Patrocínio, que agora se vê com três longas metragens para filmar com o realizador Mário Patrocínio. Em suma, a vida é assim, repleta de desafios, aventuras, desilusões e a aceitação do que não podemos mudar, mas há que manter uma paixão imensa pela vida, pelo que amamos fazer e pelo que nos faz trazer ao de cima a nossa humanidade. Singular, sempre. .Rui Pedro Tendinha, em San Sebastian