Nos seus encontros de Hollywood Mário já falou algumas vezes com Quentin Tarantino....
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Mário Carvalhal - entre John Lasseter e Paulo Branco

Mário Carvalhal, um argumentista de Braga em alta em Hollywood. É um dos escritores da série de animação 'WondLa', do estúdio de John Lasseter, a Skydance Animation, agora na AppleTV+. Mas há também o projeto Os Canibais, a ser cozinhado com Paulo Branco. Inacreditável como em Portugal ainda não é figura mediática….
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Há um português em Hollywood na alta roda dos argumentistas. Depois de década e meia em Los Angeles, cada vez mais se começa a ver o trabalho de Mário Carvalhal, por estes dias na berra por ser um dos staff writers da série já disponível na Apple TV+, WondLa, animação com a mão de John Lasseter. Um feito inédito de um português na indústria americana.

A série, apesar de ser pensada para um público mais jovem, é bastante acessível aos graúdos. Uma ficção-científica sobre uma adolescente que é criada por um robô, num silo, depois de a Terra ter ficado “doente”. Animação para streaming  com desígnio de cinema e aquela vertigem visionária de Lasseter, o mago que criou a Pixar e que está a ter agora o seu comeback  na Skydance Animation, após ter sido cancelado por alegado mau comportamento sexual.

Antes de chegar a este estatuto, Mário, agora com 40 anos, estudou Cinema em Inglaterra, Lincoln, e foi para Los Angeles para se tornar assistente do colaborador de Quentin Tarantino, Michael Bacall. Depois foi arranjar agente (sim, na América os argumentistas têm de ter agente…), escrever, escrever e escrever para ter sorte e conseguir vender uma série de longas-metragens - para já, uma foi feita: Browse (2020), de Mike Testin e outra está em pré-produção, uma espécie de sequela de Pesquisa Obsessiva, de Aneesh Chaganty.  e  Missing - Desparecida, de Nicholas D. Johnson e Will Merrick, em que o conceito é escrever uma história na qual tudo se passa através de ecrãs de computador ou telemóvel. 

Vida de Los Angeles

“No meu caso, como em todos os outros, para se chegar até aqui, o segredo é ter sorte. Isso e não parar de tentar e de estar sempre a trabalhar. Em Los Angeles, cidade complicada de viver, há que ter o foco sempre na escrita”, diz-nos este membro das guildas de animação e dos argumentistas.

“Vejo-me como um argumentista de cinema de high concept com pontos de partida ligados ao fantástico e ao surrealismo, mas o que me interessa mais são os detalhes e as personagens com as suas relações, bem como a maneira como o mundo à sua volta as afeta. Não me vejo propriamente como um argumentista de ideias, o que é mais importante é como se pensam as ideias de base”, conta-nos, concordando que o universo de WondLa vive com um humor que pede sempre ao espectador que pense. Mário afirma que quando escrevia para esta série não fazia qualquer tipo de concessão ao facto de ser desenho animado. 

WondLa , uma série recomendável com o toque de Mário Carvalhal.

Sem esquecer o cinema português

Para o futuro, o seu sonho é ser realizador-argumentista. Mário está preparado para dirigir, quer em Hollywood, quer em Portugal, onde já está a tentar, com o produtor Paulo Branco, uma nova versão de Os Canibais, a partir de Álvaro do Carvalhal. Não terá nada a ver com a versão de 1988 de Oliveira - desta vez não há ópera e ninguém canta! O trineto de Carvalhal está bastante entusiasmado, mas lembra que está ainda dependente da avaliação do júri do financiamento do ICA.

Numa altura em que ainda respira de alívio depois da greve dos argumentistas, não se exalta quando se fala de IA: “Não devemos diabolizar a Inteligência Artificial, mas também não devemos promovê-la. 90% das vezes a sua utilização não serve para nada e sinto que não vai nada tirar muitos empregos. Em trabalho criativo não terá utilidade, nunca vai ser usada. Digo isso com toda a confiança, mesmo quando alguns produtores a experimentarem. Mais tarde, se o fizerem, vão ter de contratar uns três escritores para consertarem a porcaria feita.”

Enquanto não chega o canibalismo português - e o cinema português é um desejo seu forte - está de novo a escrever para uma série animada: o spin-off  de Contra Todos, de Moritz Mohr, mas agora é ele sozinho.

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