Apesar de a conversa estar inicialmente agendada com todos os membros dos Keep Razors Sharp, à hora combinada apenas puderam estar presentes três deles. É o preço por todos eles pertencerem a outras bandas, a disponibilidade tem de ser multiplicada e o tempo não estica, mas mesmo assim isso não afetou a carreira (e a popularidade) desta espécie de superbanda do rock alternativo português, como inicialmente foi apresentada, quando do lançamento do álbum de estreia homónimo, em 2014..A tentação do rótulo era fácil, afinal todos eles fazem (ou fizeram) parte de outras bandas bens conhecidas: Afonso Rodrigues é vocalista e guitarrista dos Sean Riley & The Slow Riders, Rai cumpre as mesmas funções nos The Poppers, Bráulio (o ausente nesta entrevista) foi baixista nos Capitão Fantasma e Bibi é baterista nos Riding Pânico. Os próprios, porém, recusam tal estatuto, como começa por sublinhar Afonso: "Isso é um bocado piada, superbanda eram os Traveling Wilburys. Percebo o conceito, porque pertencemos todos a outras bandas, mais ou menos conhecidas, mas é quase como se o todo fosse ainda maior do que a verdadeira soma das partes. Nunca levámos isso muito a sério, porque a nossa música não é um espelho do que fazemos nas nossas outras bandas.".A história dos Keep Razors Sharp é aliás bem mais parecida com a de muitas outras bandas e tem mais que ver com amizade, gostos comuns e a dose certa de coincidências.."Houve uma altura em que o Bráulio e o Afonso vieram viver para Lisboa e parávamos muito nos mesmos locais, até chegámos a pôr música juntos nalguns bares", recorda Rai. Os Poppers, a sua outra banda, tinha na altura um espaço em Mem Martins e foi Bráulio quem sugeriu que por lá se juntassem todos, para fazer algo juntos. "Foi assim que tudo começou, de uma forma superdescontraída e sem grandes planos", garante o músico. Curiosamente, "os primeiros dias marcaram logo a identidade dos Keep Razors Sharp e a partir daí foi só continuar a fazer canções"..Mesmo antes de editado o primeiro disco, já a banda se tinha apresentado ao vivo diversas vezes, construindo à sua volta um pequeno fenómeno de culto, que foi crescendo a cada nova atuação. "Nunca tivemos nenhum plano, mas assim que começámos a tocar ao vivo, percebemos logo que íamos fazer mais música juntos. Essa era uma vontade clara por parte de todos, mas nem sabíamos muito bem em que moldes", afirma Afonso..E mesmo agora pouco mudou. "Este segundo disco, por exemplo, teve para ser muitas outras coisas, inclusive até começámos a trabalhar num suposto álbum de hip hop, com instrumentais nossos e alguns mc convidados, mas depois abandonámos a ideia e começámos a trabalhar nestas novas músicas", desvenda o músico. O longo intervalo entre os dois discos é em parte explicado pela complicada agenda dos músicos, mas, mesmo assim, a banda nunca parou de dar concertos.."Tudo isto precisa de tempo, para escrever, ensaiar, gravar, mas como não deixámos de tocar ao vivo, também nunca sentimos que a banda estivesse parada", salienta Afonso. Estes quatro anos, "muito bem vividos", como os classifica Carlos BB, são também apontados pela banda como uma das razões para o disco só sair agora. "Não nos fez ter tanta necessidade de ir a correr para o estúdio, compor e gravar mais canções", sustenta o baterista, para quem o novo disco "acaba por ser o resultado de todas as diferentes influências que têm os quatro membros da banda"..Foi portanto com o objetivo bem definido de não repetir as mesmas fórmulas do trabalho anterior, muito marcado pelas sonoridades do rock psicadélico, que voltaram para a sala de ensaio. "Nem nos impusemos qualquer limite estético e desta vez foi desde o início assumido por todos que iríamos explorar novos territórios. O outro disco é passado e todos nós queremos fazer coisas diferentes", diz Afonso, adiantando que Overcome esteve quase para sair ainda antes do verão. "Houve essa possibilidade, mas seria como estar a construir uma casa durante um ano e ir viver para lá sem ter as janelas e as portas. Este é um disco que toca em várias estéticas e para funcionar teria de ser desenhado com algum cuidado, em termos de alinhamento, para a história poder ser contada de uma forma fluida."