Não é a primeira vez que atua em Portugal e, só este ano, Kara-Lis Coverdale já lançou três álbuns de originais. A promessa da compositora canadiana - que assume que os teclados são o tecido que liga todas as suas facetas musicais - é no sentido de partilhar com o público um espetáculo que, ao DN, descreve como uma diálogo entre dois mundos sonoros “muito distintos nas dinâmicas”: um percurso entre um “piano solo, que é tão íntimo e silencioso”, e uma versão eletrónica, com “um corpo inteiro e música muito orientada para o sistema”. Para ser ouvido esta quarta-feira, 26 de novembro, às 21h00 horas no Auditório Emílio Rui Vilar, na Culturgest, em Lisboa..As peças vêm sobretudo de dois dos três álbuns lançados em 2025, intitulados From Where You Came e A Series of Actions in a Sphere of Forever. Em relação ao terceiro disco - Changes in Air - não haverá nada neste espetáculo, mas há a garantia de serem interpretadas “algumas peças que são um pouco mais velhas”, dentro do vasto trabalho de Kara-Lis Coverdale, e ainda “algumas coisas” que nunca foram partilhadas com o público. E apela ao pensamento crítico do público português, porque, admite, o objetivo é o desafio e não a alienação durante o espetáculo.A compositora canadiana começou a tocar aos 5 anos e teve oportunidade de passar por vários universos musicais, incluindo ingressões, por razões familiares, na música de matriz rural da Estónia, que, confessa ao DN, foram muito importantes para si.“Tenho uma compreensão muito ampla da poética estónia, que é tão distinta, e a forma de pensar sobre a língua e o entendimento é realmente importante. Acho, no meu trabalho, que só posso descrever coisas em estónio, porque têm uma forma tão única de pensar sobre as coisas. Acho que é o mesmo com todas as línguas, que há esses tesouros intelectuais escondidos na língua - ou não necessariamente intelectuais -, é como se a alma fosse parte da língua”, observa.Kara-Lis Coverdale diz mesmo que só consegue aceder a uma parte da sua alma quando pensa ou fala em estónio, e é essa ligação dialética que transporta também na sua música. Na sua página no Instagram - k__lc - a compositora mostra parte do ambiente em que toca, desde a sala de ensaios até aos palcos que pisa. Todos eles são habitados por teclados, desde cravos, pianos, órgãos de tubos em ambientes sagrados e instrumentos eletrónicos. A ligá-los, além da óbvia morfologia dos instrumentos, por todos terem teclados, há a espiritualidade de Kara-Lis Coverdale, que admite que cria “música sagrada”.Mas este espetáculo, em torno de dois álbuns e de música nunca antes ouvida, transporta também as suas raízes estónias, por vários motivos. Questionada sobre se sente a ligação própria da Estónia à terra - até porque a Estónia tem um instrumento típico relacionado com a família das gaitas de fole, cujo fole é feito tradicionalmente a partir da pele de focas, chamado torupill , Kara-Lis Coverdale não hesita em assumir que sim, e é isso que diz transportar para o espetáculo de hoje.“Quando visito a Estónia, parece que eles quase esqueceram o meio-termo [da tecnologia]: é medieval e depois é futurista. É como a identidade digital, e, depois, a Idade de Pedra, e nada entre eles. Eu identifico-me com isso, eu sinto esse espetáculo muito amplo de coisas, quase como o começo e o fim, mas depois entrelaçados, numa espiral”, relata.Com uma ligação profunda à música, a compositora canadiana tem dificuldade em lembrar-se de momentos que não são musicais, mas há um ritual, mais uma vez familiar, que a define para além da música: “A minha família interessa-se por desportos motorizados e conduzir motas todo-o-terreno. Eu também adoro conduzir.”.Culturgest cria biblioteca "online" com programação passada e futura