Josiane Balasko, veterana estrela da comediante francesa, diz que nunca viu uma histeria tão grande em relação a um filme. Apanhamo-la ao lado de Hélène Vincent, outra das rainhas do cinema e teatro francês, que também ainda está a “ressacar” do acolhimento francamente favorável que Quando Chega o Outono, de François Ozon teve na seleção oficial a concurso do Festival de San Sebastián. Duas atrizes felizes que interpretam duas senhoras com um passado como profissionais do sexo a tentar gerir um caso de crime ou o suicídio da morte da filha de uma delas. Uma história de maternidade sobre o tempo a passar, a morte a chegar e a culpa a permanecer eterna. Belo filme outonal com duas senhoras de respeito..Curiosamente não se conheciam, embora já tenham estado no mesmo elenco de um filme de Ozon, Graças a Deus, onde não contracenavam….Hélène Vincent- Incrível, mas agora estes papéis são um verdadeiro presente! Nesta altura da minha vida já não esperava que algo assim me acontecesse…agora que revi o filme consegui ver tudo. Meu Deus! Que atores.Josiane Balasko- E que presente! E o François Ozon também tem agora esta prenda. Este filme tem uma história magnífica. E entre nós duas descobrimos uma extraordinária alquimia. Quem vê o filme vai acreditar que nós duas somos amigas toda a vida! E as personagens são bem diferentes. Creio que a personagem da Hélène trabalhou bem mais tempo na prostituição do que eu. Era mais careira!.HV- (risos)Não me faças rir….JB- A minha personagem é mais modesta, vive bem com os seus pequenos rituais. .E é curioso que vocês acabam por ter percursos como atrizes bem diferentes….JB- Eu vim do café-teatro. Ao contrário de ti nunca fiz aquele teatro de textos clássicos…Acabámos mesmo por nunca nos cruzarmos. E, agora, este encontro absolutamente magnífico! HV- Entre nós nunca sucede aquela coisa da rivalidade. JB- Entre atores não há rivalidade. Tu e eu trabalhámos como uma equipa. Havia amizade. HV- Desde o começo… JB- Fala-se demasiado da rivalidade dos atores, mas acho mesmo que não existe, acho…Podem acontecer pequenas rivalidades, mas nada de coisas terríveis..Lembro-me uma vez de entrevistar o vosso realizador, François Ozon, e ele contar-me que não era fácil gerir os egos das atrizes de 8 Mulheres….HV- As atrizes talvez possam ser mais rivais do que os homens…E esse filme também era sobre rivalidades. JB- Isso faz parte dos lugares comuns ligados às mulheres. Por outro lado, quando a rivalidade chega também atinge os homens. .Nota-se que estão ambas muito felizes com o filme..HV- Muito, é um filme comovente! Ontem aqui em San Sebastián as pessoas estavam surpresas! O entusiasmo era notório sobre esta história sobre velhas damas que se agarram à vida! É tão raro este tema que julgo que possa tocar muito o público….JB- É raríssimo vermos alguém como nós sermos protagonistas de um filme..HV- Há o Amor, do Haneke, mas esse é tão duro. É Haneke…Aqui o Ozon filma com “joie de vivre”..JB- Ele tem uma ternura!.O plateau é trabalho ou é o lar?.JB- Um pouco dos dois! Sinto-me em casa numas filmagens mas não deixa de ser trabalho. Cada vez que chego a um plateau penso sempre na sorte que tenho em ter este trabalho, sobretudo na nossa idade..HV- Podermos ainda fazer isto, é isso mesmo! A palavra “jouer” em francês é interpretar, mas acho mesmo que é brincar, como uma criança..JB- Exato, nós brincamos a interpretar. É preciso sempre manter esse entusiasmo, esse espírito de fantasia. Por outro lado, a disciplina de uma rodagem é algo verdadeiramente duro durante semanas ou meses….HV- Sem dúvida! Mas há coisas, mesmo assim, bem mais complicadas. Além do mais, somos bem pagos. Gosto muito de ir para um plateau..JB- Também não me queixo. O teatro cansa muito mais..HV- E nos filmes do Ozon não se espera muito. Ele é muito rápido a filmar..JB- Tem a câmara pronta, faz o enquadramento e começa a filmar..HV- Um cineasta extremamente dinâmico..Este é um filme com fantasmas, mas são fantasmas de cinema, não?.HV- Sim, há um sentido de simbolismo. A minha personagem quando pensa na filha ela aparece, é uma forma de se reconciliar. Creio até que a partir de certa altura na vida pensamos naqueles que já partiram e eles estão mesmo ali.