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Grande Museu Egípcio é inaugurado neste sábado junto das Piramides de Gizé

Com mais uma área de 47 hectares, o GEM reúne as mais emblemáticas peças da história egípcia, como a coleção completa do Rei Tutankhamon. Marcelo Rebelo de Sousa assiste à cerimónia de abertura.
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Perguntei ao mais famoso arqueólogo egípcio, Zahi Hawass, que visitou Portugal no início do ano, como explicava que figuras de há tantos milénios, como Tutankhamon, Nefertiti ou Hatshepsut, hoje em dia sejam nomes que praticamente toda a gente conhece em todo o mundo. A resposta foi: “porque o Antigo Egito tem mais magia do que qualquer outra civilização no mundo. Se perguntar a uma criança nas ruas de Lisboa para lhe dizer o que é o Egito, ela responder-lhe-á a Grande Pirâmide de Khufu [Quéops], conhecida por todos. Ou dirá a Esfinge, sobre a qual revelei os segredos. Ou falará de Tutankhamon e das múmias. Portanto, isso é realmente natural, porque o Antigo Egito é incrível. É uma civilização que traz emoção, magia e mistério a todos”.

A civilização do Antigo Egito, com toda a sua magia, tem agora um novo espaço de excelência para ser vista e apreciada, pois este sábado inaugura-se  o Grande Museu Egípcio (GEM, na sigla em inglês), situado junto às Pirâmides de Gizé, não muito longe do Cairo, e do Nilo, rio que na mesma entrevista ao DN, Hawass  descreveu como “uma fonte de vida para o Egito”, hoje como no passado.

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Segundo o comunicado de imprensa divulgado pela embaixada egípcia em Lisboa,  “com mais de 100.000 artefactos e uma área de 47 hectares, o GEM será o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização, reunindo as mais emblemáticas peças da história egípcia. A inauguração simboliza o compromisso do Egito com a paz, o diálogo intercultural e a preservação do património universal”.

Entre os destaques do museu incluem-se, acrescenta o comunicado, “a colossal estátua de Ramsés II, com 83 toneladas, que dá as boas-vindas aos visitantes no átrio principal; o lendário Barco Solar do Rei Khufu, meticulosamente transferido da base da Grande Pirâmide para uma galeria de conservação moderna; a coleção completa do Rei Tutankhamon, composta por 5398 objetos, exibida pela primeira vez em conjunto desde a descoberta do seu túmulo em 1922; os tesouros da Rainha Hetepheres, mãe de Khufu e avó de Khafre, que agora, e pela primeira vez, se tornam acessíveis ao público”.

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Num texto escrito por Zawas por ocasião desta inauguração, e a que o DN teve acesso, o arqueólogo, que já foi diretor do Departamento de Antiguidades e ministro da Cultura, sublinha que  “os tesouros de Tutankhamon serão, sem dúvida, o coração do museu. Pela primeira vez desde a descoberta do túmulo por Howard Carter em 1922, os 5.398 objetos serão exibidos em conjunto. Duas vastas galerias foram dedicadas exclusivamente ao jovem faraó, concebidas para mergulhar os visitantes no mundo do antigo Egito. O meu desejo pessoal é que a máscara dourada - o artefacto mais icónico da história da arqueologia - seja apresentada como o último objeto no percurso do visitante. Entre todos os artefactos, o objeto que mais me comove é o trono de Tutankhamon, onde o Rei é retratado serenamente enquanto a Rainha Ankhesenamun o unge com perfume e lhe coloca uma grinalda de flores. Poucos reparam num detalhe delicado que os une: partilham um par de sandálias - o pé direito do Rei e o esquerdo da Rainha - símbolo de união perfeita e amor eterno”.

O turismo vale 10% do PIB egípcio, e vai das praias à cultura. Mais de 15 milhões de turistas visitaram no ano passado o chamado "país dos faraós", afirmou numa entrevista ao DN, também em 2025, o presidente da Autoridade Egípcia do Turismo, Amr El-Kady, que veio a Lisboa para a BTL. “Temos as pirâmides, mas também o legado greco-romano, o islâmico, o copta. O Egito é um país muito diverso”, alertou El-Kady, mesmo reconhecendo todo o atrativo dos monumentos ligados ao Antigo Egito, realçado agora pelo GEM.

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A longevidade como civilização e as abundância e exuberância da produção artística forneceram, em épocas em que não havia controlo de exportação de bens culturais, museus pelo mundo inteiro, basta pensar na riqueza das alas egípcias do Museu do Louvre, em Paris, ou do Museu Britânico, em Londres. Mesmo em Portugal há interessantes coleções de peças egípcias, incluindo múmias, no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, e no Museu de História Natural da Universidade do Porto.

As autoridades egípcias têm consciência de que a popularidade das coleções no estrangeiro serve o softpower do mais populoso dos países árabes, uma grande nação entre África e Ásia, e conquista muitos futuros visitantes. Mas há algumas peças em capitais europeias que gostariam de ver de volta ao Egito, para serem expostas no GEM. Na entrevista ao DN, Hawass disse quais as prioritárias: “quando era chefe do Departamento de Antiguidades e ministro, consegui que fossem devolvidos 6000 artefactos roubados do Egito. E foi por isso que fui escolhido em 2006 pela revista Time como uma das pessoas mais influentes, pela forma como recuperei a herança do Egito. Em 2010, enviei uma carta a Berlim a pedir a devolução de Nefertiti. Mas tivemos logo depois a revolução no Egito. E eu realmente não consegui acompanhar o processo. Mas agora existem duas petições. Uma petição pelo regresso da Pedra de Roseta do Museu Britânico e outra pelo regresso do Zodíaco do Louvre, em Paris. E fiz outra petição para pedir a devolução do busto de Nefertiti”.

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Nessa visita a Lisboa, o arqueólogo que usa um chapéu à Indiana Jones e foi recente estrela num documentário da Netflix, disse estar “ a trabalhar para trazer uma grande exposição do Antigo Egito para ser exibida pela primeira vez na vossa bela capital, Lisboa. Não será este ano, mas creio que talvez no próximo ano. Temos de providenciar esta exposição”.

O GEM vem dar novas condições de exibição às peças grandiosas que durante mais de um século estiveram no antigo Museu Egípcio do Cairo, na praça Tahrir. Visitar esse museu inaugurado no início do século XX era um mergulho na tal civilização que “traz emoção, magia e mistério a todos”. As autoridades egípcias querem agora que essa experiência mágica seja ainda mais grandiosa, e para esta cerimónia de abertura o presidente Abdel Fattah El Sisi convidou dezenas de chefes de Estado e chefes de governo. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa encabeçará a delegação portuguesa que estará neste sábado nas Pirâmides de Gizé.

GEM foi prometido em 2002, a construção começou em 2005 mas atrasada pela Primavera Árabe e a pandemia, e custou mais de mil milhões de euros.

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Zahi Hawass: “A crença na vida após a morte construiu o Antigo Egito”
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“Temos as pirâmides, mas também o legado greco-romano, o islâmico, o copta. O Egito é um país muito diverso”

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