Frágil, instável, efémero: uma nova exposição no MAC/CCB que desafia os sentidos
A nova exposição do MAC/CCB, Experiências do Mundo, apela aos sentidos, gera a dúvida e mostra a vulnerabilidade humana. Essa fragilidade é sentida em várias das obras expostas. Por exemplo, em The Wind (2022), uma instalação de três ecrãs da artista finlandesa Eija-Liisa Ahtila, que utiliza a linguagem do cinema na sua obra. No filme, o vento entra por uma janela aberta de um escritório e os papéis voam, os livros caiem, a cadeira tomba - nem quatro paredes conseguem conter a força dos elementos.
Na obra +and- (1994-2004), Mona Hatoum, artista palestiniana que vive em Inglaterra, criou um circulo de areia com um braço metálico dividido em duas partes, uma que ao rodar cria sulcos perfeitos e outra que ao passar alisa a areia desfazendo-os, num ritmo de criação/destruição que nos lembra que nada é permanente.
Mona Hatoum tem várias obras nesta exposição com curadoria de Nuria Enguita, construída com obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, da Coleção Ellipse e da Coleção de Teixeira de Freitas.
Ann Veronica Janssens está presente nesta exposição com Blue, Red & Yellow (2001), uma estrutura colorida imersiva com neblina no seu interior. Tem uma porta pela qual se entra e o efeito que cria no visitante é de desorientação, de perda de controle, de instabilidade.
Nesta mesma sala, no piso zero do MAC/CCB onde esta mostra pode ser vista até ao dia 26 de outubro deste ano, está a instalação Prédio (2010) do artista português Mauro Cerqueira. Parece uma estante de cinco 'prateleiras' de madeira assentes em copos de vinho. O contraste entre a madeira e o vidro, entre o opaco e a transparência, entre a densidade e a leveza, cria no espectador a sensação de fragilidade.
Um equilíbrio instável que também se observa na escultura Bloco (2006) do artista brasileiro Ernesto Neto. Um retângulo branco suporta um almofadão mole que parece estar quase a cair - mas não sai do lugar.
Nesta exposição veem-se também ventoinhas no teto nas quais se atou papel higiénico que flui com graça ao ritmo do movimento das pás. Esta instalação intitulada Ventilators (1997), do artista mexicano Gabriel Orozco, dialoga com uma obra do português Fernando Brito, um conjunto de espelhos circulares nas quais se refletem as ventoinhas, fragmentado-as.
Mas há mais para ver na Experiências do Mundo que, além de trabalhos de Eija-Liisa Ahtila, Mona Hatoum, Ann Veronica Janssens, Mauro Cerqueira, Ernesto Neto, Fernando Brito e Gabriel Orozco, já mencionados, inclui obras de Belén Uriel, Fischli & Weiss e Wiilliam Kentridge.
Há ainda dois artistas a quem foram comissariadas intervenções para esta mostra que envolvem o uso da palavra. Horácio Frutuoso enche várias paredes brancas com texto em negro, no que é descrito como "poesia concreta que se cola às paredes do museu". E Mattia Denisse, artista francês que vive entre as Caldas da Rainha e Lisboa, participa na exposição com um projeto editorial encartado na folha de sala da exposição intitulado Raccord, com um texto para cada obra exposta.
Os 12 artistas em exibição "trabalham com objetos deslocados do seu contexto habitual, fora de escala ou com materiais transformados; criam ambientes que distorcem a perceção sensorial; combinam luz e escuridão, som e silêncio, vazio e presença; e exploram imagens e linguagens que ativam a memória e o pensamento crítico. O resultado é um percurso expositivo que coloca em crise as nossas convicções, desafiando a forma como habitamos o mundo e nos relacionamos com ele", resume o museu.