Em vez três exposições pequenas ou médias, apenas uma de grande fôlego de um artista internacional de renome. É o que poderá ver na MAAT Gallery a partir de hoje e até 1 de setembro deste ano. O artista é Jeff Wall, que com 63 quadros cobre todas as paredes do espaço. A exposição intitula-se Times Stands Still e mostra fotografias do autor canadiano produzidas entre 1980 e 2023. “Ele é um dos artistas mais admirados, influentes e discutidos no panorama da arte contemporânea nas últimas quatro décadas. Primeiro pela qualidade do trabalho, e isso é comprovado até no reconhecimento crítico e institucional, é um artista que fez retrospetivas no MoMA, na Tate, em todas as grandes instituições”, diz ao DN o curador, Sérgio Mah. Depois, acrescenta, “da sua geração, foi um dos artistas que se distinguiu pela tentativa de encontrar um modo de continuar uma tradição - por isso também a relação com a pintura -, usando todas as qualidades estéticas que são importantes na prática artística. É por isso que ele fala muitas vezes de composição, da qualidade cromática, da técnica, ao mesmo tempo que desenvolve uma reflexão sobre o mundo”. . O também diretor-adjunto do MAAT diz que o artista “foi muito generoso, ele reservou um conjunto de obras para esta exposição. O projeto foi crescendo e, de repente, percebemos que esta é a segunda maior exposição que ele fez até hoje”, adiantou na visita de imprensa à mostra, que decorreu ontem. São 63 de um total de 200 obras produzidas pelo artista. Jeff Wall, também presente nesta apresentação, diz que apesar do elevado número de obras a exposição não foi planeada para ser uma retrospetiva e aponta para a arquitetura da galeria: “Do que gostei foi do contraste entre a espiral do edifício e a ‘retangularidade’ dos quadros”. Sérgio Mah diz que ficou contente por o artista querer trabalhar com o edifício: “É uma oportunidae para as pessoas compreenderem o espaço”. Ao longo do percurso, Jeff Wall vai chamando a atenção para as afinidades entre os trabalhos expostos. “A escada que vem até aqui conecta-se, de alguma forma, com a linha que aparece na próxima foto, e assim por diante. Existem este tipo de coisas. Aqui nestas duas fotos são as cores vermelho e rosa”, vai dizendo. E depois há também a parede curva que aparece numa das fotografias e que liga com a curva da parede do próprio edifício. “Eu gosto, nas minhas exposições, que as coisas pareçam bonitas, como se estivessemos a colocar flores num vaso. Estamos basicamente a fazer decoração de interiores na galeria”, afirma. . O artista está habituado a encenar, porque as suas obras, embora sejam fotografias, mais parecem quadros. Jeff Wall é conhecido por isso mesmo, pelos seus quadros fotográficos, ou fotografias pictóricas, pela sua “cinematografia”. Há quem descreva o seu trabalho como “imagem documental enquanto arte”. As fotografias apresentam uma composição típica da pintura. Nalguns casos fazem lembrar os quadros do pintor norte-americano Edward Hopper, com pessoas a representarem situações em cenários detalhadamente pensados. São uma paragem no tempo, instantes de um acontecimento em curso. “As imagens fixas têm uma relação muito específica com o tempo uma vez que estão paradas. Isso significa que elas têm uma relação intrincada com a narrativa, que é uma espécie de vida, o fluxo de vida. E essa inter-relação é fascinante”, diz Jeff Wall ao DN. “Mas eu não quero contar essa história, eu quero erradicar a história da minha cabeça e criar uma imagem que silencie a história, para que quando a vê, e se gostar dela, comece a contar a história a si mesmo”, acrescenta. . Entre 1978 e 2008 Jeff Wall trabalhou com transparências coloridas apresentadas em caixas de luz associadas à publicidade. São estas caixas de luz que estão expostas no espaço principal do MAAT. Mas a partir de 2008 o artista largou esta forma de apresentação das suas fotografias - “não queria ficar conhecido como o homem das caixas de luz” , diz , apesar de reconhecer que o é - e passou para a impressão a jato de tinta sobre papel fotográfico para as imagens a cores, continuando com a impressão em gelatina e prata para as imagens a preto e branco. São estas impressões que podem ser vistas na galeria secundária do MAAT Gallery. As fotografias de Jeff Wall são grandes, remetendo mais uma vez para a publicidade e para a história da pintura. Para o artista a explicação é esta: “Não estou interessado em fazer quadros grandes, estou interessado em fazê-los do tamanho certo para transmitir o sentimento”, diz ao DN. As ideias para as fotografias vêm de fontes diversas. “Tudo pode ser um ponto de partida para fazer algo”, diz o artista canadiano, que tanto pode pegar num episódio que vê na rua, como numa cena de um livro que transforma em imagem. "Percorrendo a exposição encontramos temas que são públicos, o problema da pobreza, de pessoas que vivem isoladas, de uma certa alienação, ou seja, as sociedades contemporâneas são sociedades de progresso, de progresso tecnológico, mas também têm efeitos perversos sobre as pessoas, e muitas vezes encontramos esses sinais no seu trabalho", aponta Sérgio Mah. "Ele diz que muitas vezes as imagens têm um certo pendor dramático, não é que ele tenha um entendimento dramático do mundo, mas é que ele como observador vê-se muitas vezes confrontado com imagens que têm essa carga dramática", sublinha o curador. Jeff Wall defende liberdade total para o artista, tanto em relação às questões abordadas, como ao meio utilizado. O vídeo não chama por ele: “Não estou interessado em movimento, não creio que as imagens em movimento sejam a mesma coisa que estas tableau fixas que se penduram na parede. São entididades muito especifícas”. E embora sempre tenha desenhado e pintado, mantém-se fiel à fotografia. “Aprendi a amar a fotografia, e ainda estou muito interessado nisso.”