Exclusivo Fernando Rocha: "Um humorista não tem o direito de humilhar ninguém para fazer rir a sua plateia"
O humorista português Fernando Rocha esteve à conversa com o DN sobre os limites do humor, a sua carreira nos palcos, na televisão e no cinema e... tatuagens.
Para os espetáculos de stand-up há alguma preparação?
Eu não me preparo. É deixar as coisas acontecer. Quanto mais genuíno fores e quanto mais criares no momento as coisas, mais o público se identifica. Estou a falar de coisas que estão a acontecer, da pessoa que está ao meu lado, ou do penteado que ela traz, ou da camisa do outro, elementos novos que só podem ser criados na altura. Tenho um alinhamento mais ou menos definido, entro com uma parte de stand-up em que já sei o que vou fazer. Depois vou buscar seis, sete ou oito pessoas do público para o palco e faço ali um jogo com eles, uma interação, mas normalmente é tudo improviso.
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Às vezes nas suas atuações fala de assuntos mais controversos. Acha que há limites para o humor?
Eu não defendo que existam limites para o humor. Apenas defendo que há timings certos e errados. Se alguém cair agora ao chão e eu me rir só estou a ser estúpido. Se eu te ajudar a levantar, ficares bem, e só depois faço uma piada, então, aí aceito. O problema não está na piada mas sim no timing da piada. Às vezes os humoristas fazem piadas de desgraças e as desgraças ainda estão a acontecer e eu não sou muito adepto desse tipo de comédia. Acho que um humorista não tem o direito de humilhar ninguém para fazer rir a sua plateia. Pode brincar mas não causar danos à outra pessoa. Eu tenho a máxima: não faças aos outros o que não gostarias que fizessem a ti. Um humorista tem de pensar quando vai fazer uma piada: se eu tivesse no lugar desta pessoa, como é que me ia sentir? É por isso que utilizo os meus personagens, porque quando tenho piadas fortes se eu metesse pessoas iam sentir-se ofendidas. Nessas situações recorro aos meus personagens e é ficcionado. Ninguém se sente ofendido. Há humoristas que têm uma perspetiva completamente diferente e eu respeito, mas não sou adepto desse tipo de formas de trabalhar.