Fernanda Montenegro: uma bruxa contra a censura no Brasil
Vestida de preto e amarrada, tal como uma bruxa pronta a ir para a fogueira feita com todos os livros proibidos - é assim que a atriz brasileira Fernanda Montenegro aparece na capa da edição de outubro da revista Quatro Cinco Um, especializada em literatura. A foto remete para a caça às bruxas da Idade Média e é, obviamente, uma tomada de posição contra a censura no Brasil dos dias de hoje. "Salvem os livros. E as bruxas", pede o título da revista.
A foto é uma mensagem contra as tentativas de proibição de publicações promovidas recentemente pelo prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, na Bienal do Livro, e pelo governador de São Paulo, João Doria, que vetou vários livros didáticos.
Ao Estado de São Paulo, Fernanda Montenegro deixou clara a sua opinião: "Há uma mentalidade de censura moral. Estamos nos transformando em um país conduzido por uma visão religiosa e quem não apoiar não terá nada. E a cultura tornou-se o primeiro item a ser revisto e, se possível, exterminado. A arte é demoníaca, e nós, artistas, somos o instrumento do demónio."
Para além deste ensaio fotográfico, Fernanda Montenegro também será uma bruxa nos cinemas, no filme As Bruxas, realizado pelo seu filho, Cláudio Torres.
Prestes a fazer 90 anos, a conhecida atriz lançou esta semana um livro de memórias, intitulado Prólogo, Ato, Epílogo, resultado de uma série de entrevistas realizadas ao longo de dois anos pela escritora e jornalista Marta Góez. Epílogo? Ela responde no livro: "Tudo vai se harmonizando para a despedia inevitável. Inarredável. O que lamento é a vida durar apenas o tempo de um suspiro. Mas acordo e canto."