Esta é uma peça onde tudo dá para o torto, do cenário às falas. A Peça que Dá Para o Torto chega diretamente do West End para o Teatro Tivoli em Lisboa e ficará em cena a partir de terça-feira até 27 de abril. É uma peça dentro de uma peça. O espetáculo fictício é do Núcleo de Teatro da Sociedade Cultural e Recreativa do Sobralinho que se prepara para a grande estreia. Passa-se numa mansão do campo, onde acontece um assassinato. Um inspetor é chamado para descobrir o culpado, mas acaba por dar para o torto, com cenários a cair e adereços a partir. Esta produção continua em cena em Londres desde 2014 e chegou à Broadway em 2017. Já recebeu mais de 11 prémios, incluindo um Olivier, Tony e Molière. Passou também por cerca de 49 países em cinco continentes.O encenador residente, Frederico Corado, viu o espetáculo em Londres há nove anos e quis trazê-lo para Portugal. “Tentei falar com alguém, depois de ver a peça. Por acaso, havia um produtor ali. Falei com ele e quando cheguei ao hotel mandei um mail. Falei com o Paulo Dias, diretor-geral da UAU, depois demorou cinco anos”, explicou ao DN.Esta comédia é uma réplica do original de Henry Lewis, Jonathan Sayer e Henry Shields e chegou a Portugal em 2020, sendo a terceira vez que está em cena. Conta com uma tradução para português feita por Nuno Markl. Uma das adaptações feitas é que em vez da companhia de teatro ser a Cornley Polytechnic Drama Society passou a ser o Núcleo de Teatro da Sociedade Cultural e Recreativa do Sobralinho.O elenco conta com nomes como Telmo Ramalho, Valter Teixeira, Ana Marta Contente, André Leitão, Duarte Grilo, Leonardo Proganó, Matilde Breyner e Miguel Santiago.Apesar de ser um espetáculo com mais de dez anos, continua a transformar-se e a adaptar-se. “Não é uma produção fechada. Neste caso, as coisas em inglês são feitas de uma maneira e quando traduzimos temos de mudar. Os atores são todos artistas e eles estão a fazer um papel que já foi criado, mas todos estão a trazer as suas próprias versões desses personagens. E se alguém fizer uma boa brincadeira, pode ficar na peça”, disse Hannah Sharkey, a encenadora da produção original do West End, que esteve em Portugal e falou com o DN.O primeiro trabalho de Hannah Sharkey há dez anos foi de diretora residente. “Eu viajei pelo país, assistia à peça e tirava notas. Foi muito bom e muito divertido. Consegui ver muitas coisas do Reino Unido e obviamente aprendi muito sobre esta peça. Já a vi não sei quantas vezes e ainda rio todas as vezes que a vejo”.Os dois encenadores afirmaram que esta parece uma produção pequena, mas não é.“É uma coisa muito complicada de fazer”, diz Frederico Corado.Os bastidores têm também um papel importante, sendo que não podem falhar os tempos certos para os desastres acontecerem em palco. “Tem de se ter um bom sentido de tempo de comédia. O elevador estraga-se, por exemplo, e se estragar no tempo errado, a piada deixa de existir”, acrescenta a encenadora.Um conselho que Hannah Sharkey deu ao elenco foi para sofrerem mais. “É uma comédia para o público, mas para os atores é uma tragédia. Então essa é a coisa que temos que continuar a trabalhar. Eu digo-lhes o tempo todo: vocês não estão a sofrer o suficiente e precisam de sofrer mais. Eles têm que continuar a sofrer para que seja engraçado”, acrescenta.Para a encenadora de West End, esta é uma peça para rir e esquecer o mundo ao nosso redor. “Podes estar sentado perto de outra pessoa e vocês estão a rir. Atualmente estamos num mundo muito dividido e ali estamos a rir. Não sabemos o contexto sociopolítico da pessoa ao nosso lado e estamos apenas a compartilhar uma experiência. E isso é tão poderoso. A comédia tem um poder que é unificar as pessoas e curar o mundo”.Segundo Hannah Sharkey, as pessoas em tempos difíceis procuram musicais e a comédia. “Elas querem um momento de fugir de tudo no mundo. É isso que lhes devemos dar. Isso é o que elas precisam. Eu espero que as pessoas continuem a fazer teatro que cativa as pessoas”, acrescenta.Sobre trabalhar com Hannah Sharkey, Frederico Coradodiz que “foi uma conexão maravilhosa, eu aprendi muito. Acho que nós temos uma boa conexão para colocar esta peça a funcionar”.A Peça que Dá Para o Torto irá depois viajar até ao Porto, onde vai estar de 5 a 7 de junho no Coliseu Porto Ageas. O preço dos bilhetes varia entre 15 e 25 euros.