Quem quer sentar-se na sala de estar de Albano Jerónimo?
O teatro nunca é "uma navegação calma ou fácil", mas antes "uma luta", diz o dramaturgo e encenador paquistanês Shahid Nadeem, autor da mensagem deste ano para o Dia Mundial do Teatro. Nadeem começa por recordar o difícil caminho percorrido pela sua companhia: fundada em 1984, a Ajoka faz peças sobre a tolerância religiosa, a paz, a violência de género e os direitos humanos. Isto num país que viveu "várias ditaduras militares, horríveis ataques de extremistas religiosos e três guerras com a vizinha Índia". "Ainda hoje vivemos com medo de uma guerra desenfreada com o nosso irmão gémeo vizinho, até mesmo de uma guerra nuclear", diz o dramaturgo. No entanto, nunca desistiu. "Fazer teatro pode ser um ato sagrado e os atores podem, de facto, tornar-se avatares dos papéis que interpretam", afirma o encenador. "O teatro eleva a arte de representar a um plano espiritual superior, tem o potencial de se tornar num santuário e o santuário num espaço performativo", conclui.
Este ano, as comemorações do Dia Mundial do Teatro são particularmente difíceis, uma vez que em muitos países os teatros estão fechados por imposição de quarentena devido ao covid-19. Desta vez, os palcos estarão vazios. E o público ficará em casa. As celebrações acontecerão à distância.
Deixamos aqui algumas sugestões:
As comemorações começam às 11:00 de sexta-feira, com a transmissão de A origem das espécies. Dirigido a maiores de 6 anos, esta criação de Carla Maciel, Crista Alfaiate, Marco Paiva e Paula Diogo a partir de Charles Darwin, estreada em 2016, estará disponível na "sala" online do teatro.
À tarde, serão transmitidas duas iniciativas no Instagram: às 14:00, o D. Maria II e a Casa Fernando Pessoa promovem a Maratona Clube dos Poetas Vivos. Às 17:00, é a vez do TEATRA, podcast mensal do D. Maria II, ocupar a conta de Instagram do teatro, numa emissão especial na qual a jornalista Mariana Oliveira conversa em direto com artistas portugueses como Albano Jerónimo, Elmano Sancho, Hélder Gonçalves e Manuela Azevedo, Inês Barahona e Miguel Fragata, Isabel Abreu, Manuel Coelho, Mariana Monteiro, Pedro Moldão e Tiago Rodrigues sobre o seu trabalho e a forma como se estão a adaptar a este momento particular.
À noite,será a estreia online de Sopro , uma criação de Tiago Rodrigues, estreada em 2017 no Festival d'Avignon e vencedora do Globo de Ouro de Melhor Espetáculo, em 2018.
Às 18:00 será transmitida, via Facebook e Instagram, uma visita guiada ao teatro pelo realizador Luís Porto enquanto à noite será exibida a peça Castro, de António Ferreira, com encenação de Nuno Cardoso.
Ao longo desta semana, o Teatro São João tem também estado a disponibilizar quatro peças da saga Ubu, de Alfred Jarry, em ebooks de descarga gratuita assim como a coleção integral dos Manuais de Leitura do teatro.
A Culturgest assinala a data com a transmissão online, às 21.00,de 100% Lisboa, um espetáculo da companhia Rimini Protokoll que pega nas estatísticas oficiais da cidade e dá-lhes um rosto. A transmissão acontece nas redes sociais Facebook, Instagram e Youtube.
O São Luiz tem uma programação especial para o Dia Mundial Teatro que começou à 00.00 e vai durar até à meia-noite. No site do teatro vão estar disponíveis sete espetáculos que passaram por aqueles palcos: Júlia, de Daniel Gorjão, a partir de August Strindberg; As Ondas, de Sara Carinhas, a partir de Virginia Woolf; O Dia do Juízo, texto de Ödön Von Horváth e encenação de Cristina Carvalhal; A Voz Humana, de Francis Poulenc e Jean Cocteau, com voz de Lúcia Lemos; Professar, de Lígia Soares e Sara Duarte; e, para os mais novos, Oceano, de Ainhoa Vidal, e O Convidador de Pirilampos, de António Jorge Gonçalves, com texto de Ondjaki.
Esta é a mensagem da diretora do São Luiz, Ainda Tavares, para este dia:
O TEC vai disponibilizar online espetáculos seus, começando por Auto da Índia, de Gil Vicente.
Além disso, neste tempo de quarentena e estado de emergência, o TEC tem já programadas mais oito sessões de teatro até 18 de maio, sempre à segunda-feira. O Comboio da Madrugada, de Tennessee Williams, As you lite it e Macbeth, de Shakespeare, A Cozinha, de Arnold Wesker, Auto do Solstício de Inverno, de Natália Correia, Deserto, Deserto, de Jean-Pierre Renault, D. Carlos, de Teixeira de Pascoaes, e Woyzeck, de Georg Büchner, são as restantes peças que o TEC transmitirá no seu canal do Youtube.
Os Artistas Unidos irão ler Restos, um dos últimos textos de Bernardo Santareno, para o Teatro Sem fios, da Antena 2, pelas 19:00 desta sexta-feiraa. Restos conta com a participação de Inês Pereira, João Estima e Nuno Gonçalo Rodrigues, e com a direção de Pedro Carraca.
O programa é repetido na emissão da Antena 2, nos dias 5 e 10 de abril, às 14:00.
A companhia está a difundir um vasto programa através das redes sociais, a que cahmou o Teatro do Noroeste em Sua Casa. A programação para sexta-feira inclui ainda três produções: Salta para o Saco, de António Torrado, encenada por Elisabete Pinto, Perdição, uma encenação de Fernando Gomes, a partir de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, e A Estalajadeira, de Carlo Goldoni, encenada por Ricardo Simões. Os espetáculos do Teatro do Noroeste são transmitidos pelo canal da companhia no Youtube e ficam disponíveis até 9 de abril.
A companhia Teatro Nacional 21 comemora a efeméride com leituras de textos de dramaturgos como Gil Vicente, Harold Pinter, Mickael de Oliveira e Cláudia Lucas Chéu, entre outros, alguns dos quais levados à cena pela companhia, nos últimos dez anos. As leituras serão transmitidas nas páginas oficiais do Teatro Nacional 21, nas redes sociais. Rita Blanco, Bruno Nogueira, Albano Jerónimo, Luísa Cruz, Ana Busttorf, Virgílio Castelo, Custódia Gallego, Emília Silvestre, João Reis, Miguel Raposo, Anabela Moreira e António Durães contam-se entre os 21 atores que leem os textos.
Pelas 21:00, para fechar a efeméride, será apresentado, em NETeatro - "designação que já há muito se previa, mas agora parece ter ganho contornos reais" -, o texto Veneno, de Cláudia Lucas Chéu que foi reformulado para esta versão "doméstica" em streaming, e será interpretado por Albano Jerónimo, na sua própria sala de jantar, em direto para as plataformas. Veneno, que já correu o país em digressão, vê-se, assim reformulado de forma precária, mas tentará manter as qualidades do original - violento e perturbador", refere uma nota da estrutura teatral.
A Companhia Mascarenhas-Martins lança, esta a sexta-feira, um episódio do podcast O Lugar da Mediação, com João Brites, numa parceria com a Mapa das Ideias, enquanto o texto Há Dois Anos que Eu Não Como Pargo, de Miguel Branco, cujo espetáculo foi suspenso de cena devido ao covid-19, vai ficar disponível para leitura.
Enquanto durar o isolamento, vai ficar também online o documentário Cortar a Rua para Abrir Caminho, com realização de Levi Martins.