O Chapeleiro, a Rainha de Copas e o Coelho que está sempre atrasado vão transportar o público para o País das Maravilhas. O espetáculo Alice no País das Maravilhas estreia amanhã no Teatro da Trindade, em Lisboa, onde ficará em cena até dia 28 de dezembro. Com as luzes ainda acesas, começa a tocar a música Living Next Door to Alice da banda britânica Smokie. As luzes de toda a sala começam a piscar e o habitual aviso para não gravar é dado por uma das personagens - o Gato. O público é assim transportado para o País das Maravilhas juntamente com a Alice. O mundo de loucura que vai passar pela Sala Dolores é uma adaptação musical do conto de Lewis Carroll com encenação de Marco Medeiros. Esta peça surgiu de um convite do Diogo Infante. “Eu já tinha feito uma versão da Alice num jardim ao ar livre. Não era uma versão musical, mas era uma versão também para adultos. O Diogo tinha assistido a essa versão e depois convidou-me aqui para fazer uma nova versão, como um espetáculo musical”, explica o encenador em conversa com DN. Apesar das inúmeras versões deste conto, Marco Medeiros não se inspirou em nenhuma, criando o seu próprio mundo. “Gosto de pegar na ideia base e depois deformá-la, adaptá-la e direcioná-la para um público. Foi o que aconteceu aqui: peguei num conto, que para mim não é infantil, e adaptei-o aos adultos com todas as mensagens, as metáforas que ele possa ter. Depois, pintei-o numa estética que me pertence muito”, acrescenta. Este espetáculo continua a contar a história de uma jovem chamada Alice que vai parar a um mundo de bizarria que a ajuda a crescer. Marco Medeiros afirma que este mundo louco da peça é o mundo onde vivemos. “A nossa sociedade situa-se numa fase de transição e politicamente o cidadão sente-se, às vezes, com necessidade de votar num partido mais extremista, porque acha que o equilíbrio e a centralidade não funcionam. Depois arrepende-se, porque já assistimos, no decorrer dos tempos, a esse extremismo que nos leva a fatalidades. Portanto, se calhar, não vale a pena envergar pelo desespero e sinto-me numa sociedade desesperada à procura do seu verdadeiro eu. E esta Alice é exatamente isso, uma jovem que procura a sua essência e para lá chegar tem de experimentar outros caminhos, uns certos, outros errados.”Adaptar a peça da Alice no País das Maravilhas para um musical foi um desafio. A música da peça foi criada por Artur Guimarães e Marco Medeiros. “Eu não sou um grande apreciador de musicais e raramente assisto. Por isso, foi difícil perceber como é que fugimos do típico musical, que não me agrada muito, que às vezes parece que a música não faz sentido, porque é que cantam e não falam.”O elenco conta com Soraia Tavares, FF, Ruben Madureira, Sissi Martins, Diogo Mesquita, Rita Tristão da Silva e Romeu Vala. Relativamente à sua escolha, Marco Medeiros explica que já tinham os atores selecionados. “Nunca houve duas opções para cada personagem. Nós sabíamos quem queríamos ter neste elenco, e felizmente conseguimos todos. Soraia Tavares interpreta Alice. A atriz explicou em conversa com o DN que nesta peça quiseram dar luz a uma nova versão da personagem. “Esta minha Alice começa mais infantil e depois ao longo da peça é uma Alice que começa a crescer. Acho até que o livro, o original, leva um bocadinho por aí, porque é uma história sobre o crescimento de uma menina que depois se transforma numa mulher”. Soraia Tavares preparou-se para esta peça estudando a verdadeira história da Alice. “Tentei abstrair-me totalmente de todas as histórias da Disney, porque aqui não seria isso, mas sim uma abordagem adulta”, menciona a atriz, acrescentando que, no entanto, foi ver a versão do Tim Burton. “Eu ainda não tinha visto, e na realidade é até um cheirinho disso, mas o Marco sempre disse que queria uma menina, mas que também tivesse garra e força. E eu acho que os filmes que existem não pegam muito por aí. Portanto, isto teve que ser uma versão nossa”.