A biblioteca de Hermano Saraiva pode ser licitada num click

Depois da sua coleção de arte e recheio da casa, está a decorrer o leilão online dos livros que pertenciam ao historiador, entre eles o Manuscrito - Regimento Interno da Maçonaria, de 1849, ou os Sonetos de Petrarca, de 1512

Dos 392 lotes que podem ser licitados online até amanhã, terça-feira, às 22.00 no Palácio do Correio Velho, 350 são compostos por livros que vêm da vasta biblioteca que José Hermano Saraiva foi construindo na sua quinta em Palmela. O leilão da biblioteca segue-se ao da coleção de arte e recheio da casa do historiador e professor que muitos conhecem da televisão.

O leilão em curso é a primeira parte de uma venda desta biblioteca que, segundo a leiloeira, revela "um grande intelectual e reúne, na sua generalidade, livros de arte, literatura clássica, religião, Lisboa, história e leis, crónicas, Índia portuguesa, filosofia, e dos quais destacamos as seguintes importantes e raras obras".

A distribuição das obras foi feita por Isabel Maiorca, a responsável do Correio Velho por livros raros e manuscritos. Neste primeiro leilão, estão a maioria das obras mais antigas e raras. Entre elas conta-se o Manuscrito - Regimento Interno da Maçonaria, de 1849, De Plínio a Historia Natural, 1629, Constituiçõens Sinodaes do Bispado de Braga, de 1697, os Sonetti et Canzione de Petrarca, de 1512, a Cronica dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, de Nicolau de Santa Maria, de 1668.

João Pinto Ribeiro afirmou ao DN que entre a biblioteca do historiador também há muitas obras que não são raridades bibliográficas, a maioria delas sobre Portugal, que Hermano Saraiva usava para preparar as suas aulas e os seus programas televisivos, e que deverão ter uma presença mais forte no leilão seguinte. O CEO do Palácio do Correio Velho adiantou ainda que "provavelmente serão três leilões" ao todo, sendo este o primeiro.

A estimativa mínima para este leilão é de 33 mil euros, adianta o responsável financeiro da leiloeira Sebastião Pinto Ribeiro. O leilão online já conta cerca de 30 mil visualizações e 700 licitações. "Amanhã estes números vão dar um salto gigantesco. As pessoas têm tendência a achar que fazem melhor negócio nas últimas duas horas", afirma, dando conta do que a experiência já ensinou à leiloeira no negócio online.

Ainda assim, o número de visualizações é assinalável. Sebastião Pinto Ribeiro dá o exemplo do leilão anterior, também de uma biblioteca, que terminou com 10 900 visualizações. "É uma movimentação acima da média", afirma o CFO do Palácio do Correio Velho.

Algumas das obras em leilão estão anotadas por Hermano Saraiva, que foi ministro da Educação entre 1968 e 1970, período depois do qual partiria para o Brasil, onde foi embaixador até 1974. Rodrigo Saraiva, um dos cinco filhos do historiador e também ele professor universitário recordou ao DN quando da venda da coleção de arte que o pai os deixava ler quase tudo o que queriam da sua biblioteca.

Foi em março que as salas do Palácio do Correio Velho foram pequenas para tantos que quiseram comprar ou apenas visitar a coleção de arte e o recheio da casa de Hermano Saraiva, que morreu em 2012 aos 92 anos. A receita da venda, que atingiu os 700 mil euros, foi repartida pelos filhos.

"Quando nós éramos muito miúdos o meu pai trabalhava no escritório. Mais tarde, vinha para onde estavam as pessoas. Nós podíamos falar, ter as discussões mais teóricas entre nós, que o meu pai lia, escrevia, e às vezes, no meio da discussão, dizia: 'Tu dizes isso porque...' Depois mergulhava outra vez nas coisas dele. Tinha uma capacidade de concentração como nunca vi e uma energia...", contou ainda o filho, Rodrigo Saraiva.

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