Vestido com a túnica cinzenta popularizada pelo pai fundador Mao Tsé-tung, o presidente chinês, Xi Jinping, assinalou ontem o 100.º aniversário do Partido Comunista Chinês (PCC). Num discurso de uma hora na praça Tiananmen, o secretário-geral lembrou as conquistas do passado, elogiou os sucessos do presente que permitiram retirar "milhões da pobreza" e estabeleceu metas para o futuro, entre as quais a "missão histórica" da reunificação com Taiwan. E deixou um aviso para fora: "Nunca vamos permitir que qualquer força estrangeira faça bullying, nos oprima ou subjugue"..Cem anos após a fundação, em julho de 1921, e no poder desde a revolução de 1949, o PCC tem atualmente cerca de 95 milhões de militantes (mais 3,2 milhões desde janeiro de 2020) e é o segundo maior partido do mundo - tem metade dos membros do Partido do Povo Indiano, o BJP do primeiro-ministro Narendra Modi. Segundo Xi Jinping, sem o PCC "não haveria uma nova China", reiterando também que "o sucesso da China depende do PCC"..100 ANOS DO PC CHINÊS. "Os chineses percebem que sem o PCC não haveria a Nova China".O líder chinês disse diante de 70 mil pessoas em Tiananmen que "através dos esforços continuados de todo o Partido e de toda a nação", a China "concretizou o primeiro objetivo centenário de construir uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspetos", com a "resolução histórica do problema da pobreza absoluta" no país. "Agora marchamos com passos confiantes para o segundo objetivo centenário de transformar a China num grande país socialista moderno em todos os aspetos", referiu, lembrando ainda que "ninguém deve subestimar a determinação, forte vontade e extraordinária capacidade do povo chinês de defender a soberania"..Neste aspeto, e num recado para o estrangeiro, Xi Jinping disse que o povo chinês não se deixa intimidar por ameaças de força e que não será vítima de bullying, nem se deixará oprimir ou subjugar por ninguém. "Quem quiser tentar fazê-lo irá encontrar-se numa rota de colisão com uma grande muralha de aço forjada por mais de 1,4 mil milhões de chineses", referiu, segundo a tradução oficial em inglês do discurso. Mas, segundo o relato de várias agências de notícias estrangeiras, o presidente chinês terá dito que quem quiser tentar "terá a sua cabeça partida" e enfrentará "um derramamento de sangue"..No discurso, o presidente chinês disse trabalhar "para salvaguardar a paz mundial, contribuir para o desenvolvimento global e preservar a ordem internacional". Contudo, também defendeu que é preciso "acelerar a modernização" militar do país - algo que tem gerado críticas da comunidade internacional, tendo a China sido designada de "desafio sistémico" na cimeira da NATO sob a pressão dos EUA e do presidente Joe Biden. Xi Jinping defendeu contudo que "um país forte deve ter um exército forte, já que só então pode garantir a segurança da nação.".No poder desde 2013 e com a porta aberta para continuar à frente dos destinos da China para lá de 2023 (em 2018 aprovou-se levantar o limite de dois mandatos), Xi Jinping é considerado o líder chinês mais poderoso desde Mao Tsé-tung. No discurso, não evitou temas polémicos como a situação em Hong Kong, com a contestada nova lei de segurança, ou Taiwan, com o aumento das atividades militares chinesas no estreito que separa a ilha do continente. Mas não mencionou os uígures, uma minoria étnica muçulmana que é acusado de perseguir, falando sempre na "união de todo o povo chinês de todos os grupos étnicos"..Dizendo que a China "irá continuar fiel à letra e ao espírito" do princípio de Um País, Dois Sistemas, que garante um "alto nível de autonomia" aos governos de Hong Kong e Macau, o presidente lembrou que o governo central irá continuar a exercer a sua jurisdição. "Ao mesmo tempo que protegemos a soberania, a segurança e os interesses da China, vamos garantir a estabilidade social em Hong Kong e Macau e manter a prosperidade e estabilidade duradouras nas duas regiões administrativas especiais", afirmou..Sobre Taiwan, que a China considera como sendo parte do seu território e cujo reconhecimento internacional tenta travar (Taipé só tem relações com 14 dos 193 países da ONU), Xi Jinping lembrou que a reunificação é uma "missão histórica e um compromisso inabalável do PCC". Explicando que vai defender o princípio de uma só China e o consenso de 1992, referiu que também irá promover "uma reunificação pacífica". Taiwan respondeu dizendo que apesar de o PCC ter alcançado o desenvolvimento económico na China, é responsável por ataques à democracia, violações de direitos humanos e tornou-se mais ditatorial a nível interno..No discurso, Xi Jinping lembrou os mais de cinco mil anos de história da China e a experiência que o PCC já reuniu em cem anos de história e 70 anos no poder. "Ao mesmo tempo, estamos desejosos de aprender as lições que pudermos das conquistas de outras culturas, e agradecemos sugestões úteis e críticas construtivas. Não vamos, contudo, aceitar pregações hipócritas daqueles que sentem que têm o direito a nos dar sermões", afirmou..susana.f.salvador@dn.pt