Há cinco anos, na sua última viagem a Hong Kong, o presidente chinês, Xi Jinping, alertou contra quaisquer atos que poderiam pôr em risco a soberania chinesa na região. Um alerta que se viria a revelar profético, face ao movimento de protesto que irrompeu em 2019 e consequente repressão que culminou numa nova lei de segurança que, segundo os críticos, põe em causa as promessas de autonomia e liberdade feitas na altura da passagem de poder do Reino Unido para a China, há 25 anos..Xi Jinping regressou ontem a Hong Kong, na sua primeira viagem desde o início da pandemia de covid-19, para assinalar hoje o aniversário dessa transferência de soberania e a tomada de posse do novo líder. "Hong Kong resistiu uma e outra vez a sérios testes, superando os desafios um a um", disse o presidente chinês num pequeno discurso à chegada, após viajar de comboio. "Depois do vento e da chuva, Hong Kong renasceu das cinzas com uma vitalidade robusta", acrescentou..A viagem está rodeada de medidas de segurança, mesmo se não são esperados os protestos que ocorreram há cinco anos, quando dezenas de milhares de pessoas se manifestaram contra a visita. Agora não só está em vigor a polémica lei de segurança, como a maioria dos opositores e ativistas estão já detidos ou no autoexílio. Os que ainda estão em liberdades receberam a visita das autoridades, sendo alertados contra a ideia de protagonizarem protestos..A viagem serve também para reafirmar o controlo que a China tem sobre o território, 25 anos após a passagem de soberania do Reino Unido. É o meio caminho até ao final do período de transição acordado com Londres, segundo o qual a cidade manteve alguma autonomia e liberdades que não existem na China Continental - promessas que os críticos dizem terem sido rasgadas nos últimos anos..Xi Jinping defendeu contudo que os "factos provam que a política de Um País, Dois Sistemas tem uma grande vitalidade" e garante "estabilidade e prosperidade a longo prazo" para Hong Kong, defendendo também o "bem estar" dos habitantes da cidade. A viagem servirá também para a tomada de posse do novo líder da cidade, com o até agora número dois, John Lee, a suceder a Carrie Lam..Nesta visita, o presidente chinês está envolto numa espécie de bolha, sendo a sua primeira saída da China Continental desde o início da pandemia - mas passou a noite em Shenzhen, antes de voltar hoje de manhã para as cerimónias oficias. Assim, todas as pessoas com as quais Xi Jinping contactou estiveram isoladas e em quarentena em hotéis, com testes de PCR diários. O presidente chegou ontem, acompanhado da primeira-dama e do chefe da diplomacia, sendo recebido na estação de comboio por um grupo de alunos com bandeiras e ramos de flores e cânticos de "Bem-vindo" em mandarim. Seguiu-se um encontro com empresários e a elite política..Um dos encontros foi com o líder do governo de Macau, Ho Iat Seng, a quem Xi Jinping pediu que continue a "lutar pela recuperação económica" e a aplicar "esforços incessantes na prevenção e controlo de epidemias"..susana.f.salvador@dn.pt