Xavier Dolan: um beijo entre rapazes. Cinema "queer" para quem o apanhar

Matthias e Maxime é o novo filme do canadiano Xavier Dolan, o mais afamado realizador do Quebeque. Trata-se da única estreia em sala numa semana onde os cinemas estão a abrir a conta-gotas.
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O menino querido do Festival de Cannes está de regresso com Matthias e Maxime, direto à coleção dos seus títulos mais auto-confessionais. Xavier Dolan, cineasta precoce do Quebeque continua a filmar num ritmo assustador, mesmo quando ao mesmo tempo tem apostado numa carreira de ator em Hollywood em títulos como Boy Erased - O Rapaz que Sou, de Joel Edgerton; Sete Estranhos no El Royale, de Drew Goddard, It Capítulo 2, de Andy Muschietti. Se ainda há pouco chegava a sua estreia na realização em língua de Shakespeare no desastroso A Minha Vida com John F. Donovan, agora regressa com um conto de amor onde é o protagonista. A boa notícia é que é bem melhor do que anterior, a má é que ainda não é desta que recupera o "hype" ganho com títulos como Laurence para Sempre ou Mamã.

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Afinal, de Cannes podem sair cineastas que ganham um balanço mediático excessivo. Aos 34 anos já realizou oito filmes, muitos deles na seleção oficial do maior festival do mundo. Dolan tem provado que é quase sempre irregular e são muitos os que torcem o nariz a toda a aclamação dos festivais (Toronto e Veneza também já o adularam...).

Ou seja, mais apoiado pelos programadores do que pelos críticos, um "caso de estudo" autêntico. Se por um lado há uma energia "queer" em Como Matei a Minha Mãe e o vibrante Amores Imaginários, por outro há também uma nostalgia em Laurence Para Sempre que lembra Almodóvar - e esses são literalmente os seus primeiros filmes. Depois, veio o lado "blazé", os filmes falhados, os filmes muito "pseudo", onde Tom na Quinta está à cabeça. Pelo meio, conseguiu também atrair "craques" do cinema francês como Marion Cotillard, Vincent Cassel e Léa Seydoux, como se fosse "cool" trabalhar com o tal jovem prodígio.

Quem agora entrar no seu cinema com Matthias e Maxime vai perceber que do menino maravilha há muito pouco. Sobra um gesto de indulgência, uma irritante cacofonia com o francês do Canadá e uma histeria que apenas fadiga. O filme nasce de uma dúvida: pode um beijo para um vídeo de escola de cinema entre dois amigos ser um rastilho para uma história de amor gay mal resolvida? De um lado temos Maxime, um jovem gay que sente que nunca viveu a sua grande história de amor, do outro, Matthias, heterossexual que se sente em dúvida quanto à sua identidade sexual. Ambos pertencem a um grupo de amigos que sempre festejou o melhor da vida juntos. Mas numa das suas últimas reuniões, Matthias e Maxime percebem que os 30 estão à porta e a vida não espera, a única que coisa que pode ficar em "stand-by" é a atração romântica entre os dois.

O filme, em si, parece mistura sobrecarregada de tudo o que o cineasta tem feito. Nada contra mas não deixa de haver um efeito de repetição nas fórmulas do realizador. Para quem não quiser o efeito repetitivo da narrativo, Matthias e Maxime pode ser um suplício, mesmo quando Gabriel D'Almeida Freitas se revele tremendamente eficiente como coprotagonista. Há que salientar que este ator do Québec é de origem portuguesa.

O pior de Mattias e Maxime é que é um filme de graúdo a tentar ser graúdo. Xavier Dolan, no mínimo, não está a crescer bem.

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