Violador consegue seduzir mulher pelo Facebook a partir da prisão

Condenado a 15 anos e meio, Rogério Pebre usou dois telemóveis na prisão da Carregueira para aceder à rede social e convencer mulher de 38 anos a deixar marido e filhos. Vai ser julgado em Viana do Castelo por ameaças telefónicas ao ex-marido e a uma vizinha da sua nova paixão
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Rogério Pebre ficou conhecido, em 2010, como o 'violador da net'. Criava perfis em redes sociais, como o Facebook e o Hi5, para conhecer mulheres e iniciar relacionamentos íntimos. Acabou por raptar e violar duas mulheres, tendo sido condenado a 15 anos e meio de prisão em cúmulo jurídico de vários crimes entre os quais abuso sexual da sua filha de seis anos. A cumprir pena no Estabelecimento Prisional da Carregueira, Pebre, hoje com 52 anos, conseguiu regressar à rede social Facebook, utilizando telemóveis, e seduziu uma mulher de 38 anos, casada, com dois filhos, de Viana do Castelo. Esta deixou a família e vive agora em Lisboa, sendo visita regular do recluso que na próxima quarta-feira começa a ser julgado em Viana do Castelo por ameaças e coação agravadas, concretizadas por telemóvel, ao marido e a uma vizinha da mulher.

Foi no início do ano passado que Rogério Paulo Rodrigues Pebre, um ex-guarda-noturno e segurança, iniciou a troca de mensagens íntimas com a mulher de uma freguesia de Viana do Castelo. Utilizou dois telemóveis e sempre a partir da prisão da Carregueira, onde já teve 28 sanções disciplinares desde que cumpre pena (cinco delas em isolamento numa cela de segurança), nunca tendo beneficiado de qualquer precária. Da mesma forma que, em 2009 e 2010, convenceu outras mulheres, voltou a ter sucesso em 2017. Rapidamente esta nova paixão forneceu o seu número de telemóvel e o de um filho menor, além de lhe ter facultado a sua palavra-passe do Facebook. Paulo Rodrigues era o nome utilizado na rede social e convenceu a mulher a deixar a família e a ir ter com ele a Lisboa. Isso veio a acontecer mais tarde, sem os dois terem qualquer contacto pessoal até aí.

Ameaças de morte

Em meados de fevereiro, o marido da mulher de Viana toma conhecimento através de uma vizinha, dona de um café, do relacionamento facebookiano. Essa vizinha tinha já sido ameaçada num telefonema de Rogério Pebre, daí ter decidido contar. A partir daqui, e percebendo Pebre que estas pessoas eram um obstáculo à sua nova relação, as ameaças cresceram, em mensagens no Facebook e telefonemas, e chegaram ao próprio marido que pouco depois iniciou um processo de divórcio e de tutela dos filhos. Nesta fase, a seduzida pelo recluso fez queixa na polícia, por tentar acabar com a relação pela rede social e ter sido ameaçada. Nunca chegaram a conhecer-se, admitiu a mulher no testemunho à PSP. Assim se iniciou o inquérito no Ministério Público de Viana do Castelo.

As ameaças à vizinha foram as mais graves e originam a acusação de dois crimes de ameaça agravada. Disse que a matava e que lhe atiraria "com ácido sulfúrico à cara". "Vou matar-te a ti e aos teus filhos", ameaçou. No depoimento, a senhora disse não o conhecer de lado nenhum e "não entender como um recluso podia ter telemóvel". E, por lei, não pode. No caso do marido há dois crimes de ameaças. Prometeu que mal pudesse iria a Viana do Castelo acabar com ele, entre outros insultos. Por isso, este homem de Viana do Castelo constituiu-se assistente no processo e avançou com uma acusação particular por injúrias e difamação, que o MP acompanhou, e pede uma indemnização de 5900 euros.

Mas o poder de persuasão do recluso parece ter convencido a mulher de 38 anos. Semanas depois, desiste da queixa após ter abandonado a família. Escreve ao MP a dizer que foi convencida pelo marido a fazer a queixa, que alguém "pirateou a conta de Facebook do Paulo Rodrigues" e que afinal ele é a pessoa com quem quer viver. O MP acabou por arquivar a sua queixa, mas não irá livrar de ser ouvida como testemunha no julgamento em tribunal coletivo. Já com o processo de divórcio iniciado, o marido continuou a receber ameaças do homem que está preso.

Imputável e com ausência de remorsos

Foi pedida uma avaliação psiquiátrica para aferir da imputabilidade de Rogério Pebre e o relatório realizado por uma perita do Instituto Nacional de Medicina Legal é claro: "É imputável." A médica realça que o indivíduo apresenta "risco de violência" e evidencia uma "ausência de remorsos" em relação aos crimes que originaram a pena de 15 anos e meio, que cumpre desde 21 de abril de 2010. No seu cadastro, constam crimes de rapto, violação, abusos sexuais de menores (uma sua filha), violação de domicílio, ameaça agravada, detenção de arma proibida, entre outros.

Após ter ficado em silêncio num primeiro interrogatório, Pebre acabou por falar mais tarde, negando ter sido o autor das ameaças e garantindo à justiça que a mulher minhota era a paixão da sua vida, com quem pretende mesmo casar. Confessou ter adquirido um telemóvel na cadeia para "tentar encontrar uma companheira". Já com a acusação deduzida, Rogério Pebre irá escrever duas cartas ao juiz titular do processo. Na primeira, em maio passado, diz que tudo "não passa de um esquema, de uma cabala" e afirma "estar sequestrado e raptado pelo Estado Português". Em julho, escreve de novo a contestar que o julgamento seja em Viana do Castelo. Como os telefonemas foram efetuados na Carregueira, alegou que o tribunal competente seria o de Sintra.

A sua nova companheira, na desistência da queixa, pedia "desculpa à justiça pelo incómodo" por "querer um ponto final no processo". Alertou os magistrados que não iriam depor contra Pebre, o homem "com quem irei casar assim que divórcio" seja concluído", escreveu. De acordo com o relatório dos serviços prisionais é agora a única visita regular de Pebre na Carregueira, onde os pais do recluso vão ocasionalmente. A mulher diz viver em Lisboa com o apoio da APAV, embora no processo não conste de que situação é que se diz vítima.

Rogério Pebre, que na cadeia diz ser seguidor das Testemunhas de Jeová, consegue assim voltar à sua atividade de sedutor pelas redes sociais, mesmo atrás das grades. Em 2010, foi detido após queixas de duas mulheres, que tinha conhecido nas redes sociais, que foram raptadas e violadas, em Mértola e Azambuja. Após os crimes, em que usava uma arma de fogo, ameaçava as famílias das vítimas de morte para não falarem. Acabou detido pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo da PJ, que suspeitava terem existido mais vítimas que não fizeram queixa. Foi condenado em vários processos e o cúmulo jurídico foi estabelecido em 15 anos e seis meses. Agora arrisca ter ainda mais anos de prisão caso seja condenado neste processo cujo julgamento se inicia na próxima quarta-feira em Viana do Castelo.

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