Ventura deixa Loures e suspende movimento contra Rio

"Desapontado" com Luís Montenegro e afirmando-se vítima de uma "facada nas costas" da concelhia de Loures do PSD, André Ventura pondera várias ruturas.
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A probabilidade é "alta" ou mesmo "muito elevada". André Ventura, o controverso advogado que nas últimas autárquicas foi o candidato do PSD à Câmara de Loures, está a preparar, em simultâneo, duas ruturas. Por um lado, a renúncia ao mandato de vereador naquela autarquia; por outro, fazendo parar o processo que ele próprio lançou para a recolha de assinaturas de militantes do PSD tendo em vista a destituição de Rui Rio da liderança do partido.

Quanto ao mandato autárquico, o que o move em direção à demissão é um comunicado emitido na quinta-feira pela concelhia do partido em Loures. Nesse comunicado, esta estrutura social-democrata assegurou que "não se revê nos motivos, nas razões e nos objetivos" do movimento que André Ventura criou visando a convocação de um congresso nacional do PSD para destituir Rui Rio da liderança do partido.

Embora salientando no mesmo comunicado que esta iniciativa do advogado se "enquadra única exclusivamente no exercício da sua militância partidária", a concelhia entendeu deixar bem claro de que lado está: "Manifestamos o nosso apoio e solidariedade à atual Comissão Política Nacional do PSD e ao seu presidente eleito democraticamente."

Em declarações ao DN, André Ventura considerou este comunicado da concelhia como uma "facada nas costas", vindo daí a vontade de renunciar ao mandato de vereador na Câmara de Loures. A probabilidade de avançar mesmo para esta decisão é "muito elevada", reconheceu - e nos próximos dias será anunciada uma decisão final.

Quanto à decisão de parar com o processo de recolha de assinaturas visando o impeachment de Rui Rio, o motivo é outro. Chama-se Luís Montenegro. O ex-líder parlamentar do PSD - principal rosto na oposição interna a Rio dentro do PSD - disse ao Expresso que o atual líder do partido "tem o direito de disputar as legislativas de 2019".

Desautorizando o movimento lançado por André Ventura, acrescentou: "Não concordo, não patrocino e não me condiciono por iniciativas que visem destituir o líder do PSD intempestivamente. O PSD precisa de bom senso e maturidade. O nosso adversário é o PS, António Costa e o imobilismo deste governo amarrado à esquerda radical."

Para Ventura, a sua iniciativa perdeu assim sustentação porque deixa de fazer sentido tentar destituir Rui Rio "e depois não ter candidatos alternativos à liderança" - e Luís Montenegro seria o seu candidato. Segundo afirmou ao DN, o movimento que lançou já teria mil assinaturas de militantes do PSD, sendo necessárias 2500 para convocar um congresso nacional que demita o presidente do partido. Também não ajudou o facto de a distrital de Lisboa do PSD, liderada por Pedro Pinto - apoiante de Santana nas diretas do PSD que elegeram Rio -, se ter demarcado deste movimento.

Para agravar o sentimento de desapontamento do advogado contribuiu também uma intervenção, anteontem, do Presidente da República, em Loures, onde foi homenagear os pioneiros que em 4 de outubro de 1910 ali implantaram a República - um dia antes da proclamação feita na varanda da Câmara Municipal de Lisboa.

Marcelo falou no "compromisso de tudo fazer para que o ideal que os moveu e hoje se acolhe na Constituição da República Portuguesa seja vivido mais com obras do que com palavras, dia após dia" - e isto "para que nada, nem as tentações recorrentes do messianismo, do sebastianismo, do populismo, do egoísmo, da xenofobia, do racismo que atravessa o mundo possam vencer".

André Ventura afirma ao DN ter ouvido estas palavras como tendo-lhe sido "direcionadas" e essa é mais uma razão para ponderar muito seriamente a renúncia ao mandato autárquico.

O advogado protagonizou em setembro de 2017 a mais controversa de todas as candidaturas a presidente de câmara. Isto devido às suas declarações criticando a comunidade cigana de Loures e admitindo a pena de morte. O CDS esteve para concorrer coligado com o PSD em Loures mas depois decidiu ter uma candidatura autónoma, demarcando-se de Ventura.

Em 2013, com o ex-presidente das Caldas da Rainha Fernando Costa à frente da lista, o PSD obteve em Loures dois vereadores (num total de onze eleitos no executivo), com 13 164 votos (16%). Quatro anos depois, sendo a lista liderada por André Ventura, o número de eleitos do PSD na vereação subiu de dois para três, o número de votos para 18 877 e o seu peso para 21,55%. O PSD continuou porém a ser a terceira maior força, depois da CDU (32,7%) e do PS (28,2%).

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