Venda de portáteis dispara. Final do ano promete "um dos maiores crescimentos de sempre"

A pandemia causou uma corrida aos portáteis a nível global - e Portugal não fugiu à tendência. A consultora ​​​​​​​IDC dá conta de significativos aumentos das vendas, com as empresas a investirem fortemente em novos equipamentos por causa do teletrabalho.
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Os últimos meses do ano são, habitualmente, tempos fortes para as principais fabricantes de tecnologia. Num ano atípico, o mercado de venda de portáteis ganhou um novo folêgo devido à pandemia, com o mercado a registar picos de procura largos meses antes do esperado. Conforme explica Francisco Jerónimo, responsável da consultora IDC para a Europa, África e Médio Oriente, este ano "há uma diferença: não começou em outubro ou novembro, começou logo em abril e maio, quando registámos crescimentos que há muitos anos não se via no mercado".

Os números da IDC facultados ao DN/Dinheiro Vivo dão conta de vendas de portáteis acima das 197 mil unidades no segundo trimestre do ano - em termos homólogos um crescimento de 77% e, do primeiro para o segundo trimestre, uma subida de 97%.

Entre janeiro e março o top de vendedores contabilizou mais de cem mil unidades vendidas. Já entre julho e setembro os números baixaram ligeiramente, para 169 mil unidades, ainda assim 29% acima dos números de vendas no terceiro trimestre do ano passado.

Com a consultora já a olhar para os próximos meses, Francisco Jerónimo aponta que o quarto trimestre do ano promete novos recordes. "O quarto trimestre vai dar um dos maiores crescimentos de sempre num trimestre", prevê o analista, referindo-se à forte procura ainda sentida, fruto da pandemia.

Em abril a "primeira onda" da corrida aos portáteis foi impulsionada pela acelerada transição para o teletrabalho e ensino à distância. Nos meses de confinamento não foram apenas máquinas a necessitar de ser substituídas, mas sim uma necessidade de aumentar o número base de equipamentos em casa. No segmento de consumo, principalmente, "as pessoas tiveram de comprar computadores, seja porque as empresas não os conseguiram fornecer e tiveram de comprar nos canais de retalho e mais tarde ser reembolsados, ou porque tinham filhos em casa e tiveram de comprar máquinas adicionais para assistirem às aulas".

Agora as razões serão ligeiramente diferentes. Francisco Jerónimo aponta que tem existido "um crescimento acentuado da vertente empresarial". Com a pandemia sem fim à vista e vários países a regressar ao confinamento e teletrabalho obrigatório, é sabido que muitas empresas estão a repensar a necessidade do espaço de escritório e trabalho presencial.

"As empresas estão a fazer uma análise sobre se a necessidade de trabalhar de casa é temporária ou não - muitas empresas estão a aperceber-se de que trabalhar a partir de casa vai durar muitos mais meses e muitas estão a repensar a forma de trabalhar - se precisamos de escritórios com dezenas de pessoas a trabalhar ao mesmo tempo ou um modelo mais misto", onde as pessoas passam um ou dois dias por semana no escritório e o resto da semana em casa.

O analista da IDC destaca que, desta forma, quem trabalhava com um computador fixo no trabalho estará a fazer a transição para o portátil, mais flexível, tal como mais empresas estão também a renovar equipamentos após a saída dos trabalhadores dos escritórios. "Muitos portáteis não estavam sequer capacitados para aceder remotamente a determinadas aplicações", explica.

"As empresas estão a fazer essa renovação porque sabem que os funcionários seja dois dias ou a semana inteira vão ter a possibilidade de trabalhar frequentemente a partir de casa fora do ambiente técnico fora do escritório".

Embora todas as marcas tenham crescido nestes últimos meses, a IDC diz que a Lenovo tem registado um crescimento acentuado. "Tem tido uma capacidade maior na entrega e, por outro lado, porque tem um price point mais competitivo". A marca chinesa atingiu uma quota de mercado de 27,9% em Portugal no segundo trimestre, acima dos 20,3% da HP, a segunda marca mais vendida, e da Asus, com 20,1%.

Com as empresas a continuar a apostar na transição para o portátil surge um problema: a capacidade de entrega é um entrave. "A dificuldade dos fabricantes é ter acesso a componentes, nomeadamente processadores, para poder enfrentar a procura".

O analista da IDC refere que existem "informações de encomendas de vários países em que largas centenas de milhares de máquinas não poderão ser entregues nos próximos meses, não só devido à falha de componentes da Intel, mas neste momento também já por parte da AMD", o segundo maior fabricante de processadores para portáteis.

De acordo com os dados da Eurostat, as importações de portáteis registaram um pico sem precedentes no mês de abril. O gabinete europeu de estatística dá conta de uma significativa subida do valor de importações destes equipamentos, após a quebra de março.

Os dados mostram que Portugal foi o oitavo país da União Europeia que mais portáteis importou entre janeiro e julho deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, com um crescimento de 22%.

A tabela foi liderada pela Roménia (+38%), Dinamarca (35%) e Eslováquia (27%).

Sem surpresas, a China representou a origem de 90% dos portáteis importados pela União Europeia em 2019 e 2020. Nos primeiros sete meses do ano, o Eurostat aponta que o valor de importação destes equipamentos subiu 19% em termos homólogos, para 14,4 mil milhões de euros.

Cátia Rocha é jornalista do Dinheiro Vivo

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