No dia 15 de maio de 2018, um grupo de adeptos, descontentes com os maus resultados da equipa do Sporting, invadiu a Academia, em Alcochete, e agrediu jogadores e técnicos. Resultado? Pelo menos nove jogadores invocaram justa causa para rescindir o contrato de forma unilateral com os leões. Três acabaram por regressar (Bas Dost, Bruno Fernandes e Battaglia), um negociou a saída (William Carvalho), outro chegou a acordo depois de assinar por outro clube (Rui Patrício), outro chegou a acordo na véspera do aniversário dos acontecimentos (Gelson Martins) e três e os respetivos clubes ainda têm processos às costas (Podence, Rafael Leão e Rúben Ribeiro)..A Comissão Arbitral Paritária da Liga de Clubes reconheceu razão aos jogadores nas rescisões por justa causa "para efeitos meramente desportivos". Ou seja, para poderem assinar novos vínculos, mas não impede ambas as partes de pedir compensações financeiras. Os processos seguem na FIFA e no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), sendo que o Sporting chegou a apresentar pedidos de indemnização no valor de 242 milhões de euros. Para já, só recebeu 14 milhões do acordo com o Wolves por Patrício e 22,5 milhões do Atlético por Gelson. Contactado o clube lembrou ao DN que não havia "nada a acrescentar ao que já era público". .Rafael Leão esteve quase a regressar, mas assinou pelo Lille.Visto como jovem promessa com potencial para se afirmar na equipa principal, o jogador viu na rescisão assinada a 14 de junho uma oportunidade para sair de Alvalade em que recebia apenas três mil euros por mês. O "reconhecimento e gratidão" pelo Sporting foram abalados pelo "desequilíbrio comportamental de alguns dirigentes" e o leão saiu. Foi muito cobiçado e isso terá pesado na decisão de ir embora. Depois de rescindir, o clube ainda tentou o regresso, numa altura em que se falava do Benfica, mas o jogador acabou por assinar pelo modesto, mas rico, Lille..O emblema francês garantiu que não pagava nem um cêntimo aos leões e o clube acionou os tribunais. O processo decorre no Tribunal Arbitral do Desporto e já houve várias audiências. Os leões pedem 45 milhões de indemnização ao clube francês e mais dois milhões ao jogador (valor do contrato até 2023). Nesta época lutou pelo título de campeão em França e mostrou grande potencial. Fez oito golos em 26 jogos e está em segundo lugar na liga francesa com o PSG já campeão..Rúben Ribeiro viu as portas fecharem-se ao regresso.Rescindiu com o Sporting e, ao contrário de alguns colegas, as portas do clube não mais lhe voltaram a ser abertas. Foi o sétimo a rescindir e depois disso ficou sem clube e sem jogar. Culpou os leões por isso, mas isso não impediu o clube de acionar a FIFA. Rúben Ribeiro teve passagem fugaz por Alvalade. Contratado no mercado de janeiro, o médio ex-Rio Ave assinou pelo Sporting até junho de 2020, mas rescindiu e ficou sem clube..Existem nesta altura dois processos a correr. Um no Tribunal Arbitral do Desporto, em que o jogador reclama um prémio de assinatura em falta, e um outro na FIFA, em que o Sporting exige mais de 62 milhões de euros (60 ao Al Ain dos Emirados Árabes Unidos e cerca de 2,5 milhões ao jogador). Já o atleta defendeu-se no organismo mundial alegando que tinha justa causa para rescindir e exigindo ele 2,5 milhões aos leões. Além disso, é o único jogador assistente no processo crime relativo à invasão à Academia em maio do ano passado..Podence era promessa e ainda está por resolver.Foi dos primeiros a rescindir. Apresentou a carta alegando justa causa para quebrar o contrato de forma unilateral no dia 1 de junho, a par do capitão Patrício. O jogador de 22 anos foi escolha regular de Jesus no início da época, mas sofreu uma lesão que o obrigou a cirurgia e perdeu a maior parte da temporada. Só voltou a treinar-se já no final do campeonato, mas não voltou a jogar. Foi para o Olympiacos e o Sporting acionou o TAD, pedindo 60 milhões de euros aos gregos e mais alguns milhares ao atleta pela cessação do contrato válido até 2020. O jogador e restantes testemunhas, nomeadamente Jorge Jesus, já foram ouvidas, estando o procersso na reta final. Na Grécia fez 28 jogos e sete golos..Gelson Martins valia cem milhões e pode ficar por 22,5 milhões mais bónus.Era o maior imbróglio e foi resolvido nesta terça-feira, dia 14 de maio, véspera do aniversários dos acontecimentos. Com cláusula de cem milhões de euros e com melhoria salarial prevista, Gelson Martins rescindiu a 11 de junho para depois assinar pelo Atlético Madrid. Não se deu bem na capital espanhola e foi emprestado ao Mónaco de Leonardo Jardim..Entretanto, o Sporting fez queixa do jogador e dos colchoneros à FIFA, exigindo 105 milhões de indemnização. No entanto, os clubes chegaram a acordo de forma o Sporting encaixar 22,5 milhões de euros e receber ainda o passe de Vietto (será reforço para 2019-2020) avaliado em 7,5 milhões de euros. Gelson participou em 12 jogos (um golo) pelos colchoneros em Espanha, antes de se mudar para o Mónaco e jogar 15 jogos e marcar quatro golos pela equipa do Principado..Bas Dost regressou ao local do crime por mais três anos.A imagem de uma ferida aberta à cinturada na cabeça de Bas Dost foi revelada (ainda não se sabe por quem) e correu mundo como símbolo de uma agressão nunca antes vista num clube de futebol português. O holandês acabou por ser o maior rosto da invasão à Academia do dia 15 de maio de 2018..Ficou abalado e pensou em deixar Alvalade. Meteu a carta de rescisão e invocou não ter condições para continuar a ir treinar-se todos os dias ao local do crime, mas passados uns dias voltou atrás e aceitou retirar a rescisão e manter-se no Sporting. Assinou então um novo (por três épocas) e melhorado contrato, mas nunca mais foi o mesmo. Coincidência ou reflexo do que passou nesse dia, o avançado nunca mais foi o mesmo em campo. Era o melhor marcador da equipa e referência única no ataque. Nesta época tem jogado de forma intermitente por culpa de várias lesões. Fez 33 jogos e 22 golos..Bruno Fernandes aceitou regressar com o mesmo contrato.Foi um dos que discretamente rescindiram quando não se esperava. Peça influente na equipa de Jorge Jesus, Bruno Fernandes rescindiu a 11 de junho, a exemplo de William e Gelson. Tal como outros invocou não ter condições para ir para a Academia todos os dias. Depois voltou. Resgatado por um Sousa Cintra de novo no comando dos leões. Criou-se um burburinho à volta do seu regresso e o médio veio a público garantir que voltou atrás pelo Sporting e não por dinheiro, visto que ficou com o mesmo contrato (a cláusula de cem milhões é que parece ter descido, mas ninguém o confirma)..Dividiu a braçadeira de capitão com Nani até à saída do extremo para os EUA, depois assumiu-se como capitão único e destaque numa equipa com altos e baixos que mudou de treinador com a chegada de um novo presidente (Frederico Varandas). Foi em campo que conquistou de vez o coração dos sportinguistas, com a garra e talento que fazem dele o melhor marcador da equipa com 20 golos em 32 jogos..Battaglia voltou e renovou.O argentino pediu para ir embora numa carta em que apontava culpas ao então presidente Bruno de Carvalho pelo pedido de cessação unilateral do contrato de trabalho. Tinha feito uma grande época e chamado à seleção argentina. Lamentava-se por isso a perda de um médio importante e Sousa Cintra trabalhou para o seu regresso. E conseguiu-o. Battaglia aceitou ficar no Sporting com um contrato melhor. Renovou por cinco épocas, mas uma lesão grave que o impediu de pôr um pé nos relvados em mais de meio ano tirou-lhe a oportunidade de brilhar como antes. Participou em apenas 11 jogos..William Carvalho transferiu-se por 18 milhões de euros.Avançou sem avançar. William ameaçou sair a 11 de junho nunca carta de rescisão, alegando justa causa. Depois voltou atrás e convenceu os leões a negociá-lo com o Bétis. O negócio fez-se a troco de 18 milhões de euros. Foi considerado um bom negócio pelos dirigentes leoninos da altura. O internacional português era um dos que teria mais motivos para ir embora depois de acusar o então presidente Bruno de Carvalho de estar feito com os membros da claque que invadiram a Academia - nessa altura não havia indícios da possível saída de Bruno de Carvalho da presidência, o que aconteceu um mês depois. "Saí de uma forma que não queria, mas continuo a amar o Sporting", confessou recentemente. Está a fazer uma boa época ao serviço do Bétis na Liga espanhola (42 jogos), mas muitos questionam se não merecia um destino melhor..Rui Patrício rendeu 18 milhões de euros a posteriori.O capitão deu a cara pelo plantel publicamente após os chamados acontecimentos de Madrid, quando o então presidente Bruno de Carvalho acusou a equipa de falta de empenho, e isso saiu-lhe caro. Primeiro levou com uma chuva de tochas num clássico, depois passou a sentir-se perseguido pelo líder leonino e por alguns elementos da claque, que lhe fizeram algumas esperas na garagem do estádio. Foi o primeiro a rescindir. A 1 de junho, numa carta de 34 páginas, Patrício chega mesmo a referir que "uma sucessão de factos imputáveis ao Sporting Clube de Portugal - Futebol SAD o fazem "temer pela vida". Arranjou clube passado uns dias. Tentou sair a bem, mas não houve acordo e ele foi mesmo assim..Assinou pelo Wolves de Nuno Espírito Santo - tinha feito uma oferta de 18 milhões antes dos acontecimentos - e o caso seguiu para a FIFA com pedido de 57 milhões. No entanto, passado uns meses e já com Frederico Varandas na presidência, os clubes chegaram a um acordo. O Sporting recebeu 14 milhões e liquidou uma dívida antiga com Jorge Mendes no valor de quatro milhões de euros. Patrício é titularíssimo do Wolves na Premier League (37 jogos e 46 golos sofridos) e foi um dos destaques da época na baliza da equipa de NES, que terminou a liga inglesa em sétimo lugar.