Um projeto criticado... e premiado

Obras na Secundária Passos Manuel ultrapassaram o projetado. Mas o edifício ganhou um prémio da UE e a escola está melhor
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Espalhadas pelas coberturas da Secundária Passos Manuel, em Lisboa, há 72 unidades de ar condicionado topo de gama, que um relatório do Tribunal de Contas, de 2012, descreve como só tendo equivalentes "em hotéis de cinco estrelas". O conjunto custou mais de dois milhões de euros. Mas uma das principais preocupações de João Paulo Leonardo, diretor do Agrupamento de Escolas Baixa-Chiado, é assegurar que o uso dado a estes equipamentos é "o mínimo necessário para garantir conforto aos alunos, aos professores aos utentes do edifício".

A subida exponencial dos custos de utilização foi um dos maiores desafios com que a escola se deparou após a conclusão das obras da Parque Escolar, em abril de 2010. "Até aprendermos a utilizar o edifício houve aqui alguns aumentos drásticos de contas. Meses em que de repente apareceram-me oito mil euros de gás para pagar", ilustra.

Desde então, uma "gestão rigorosa", em que se inclui o controlo centralizado de consumos, com a possibilidade de ligar e desligar setores inteiros em função do uso que vai sendo feito dos espaços, tem permitido manter as contas certas. Isso e outras opções estratégicas, como o facto de a maioria das atividades letivas terem passado a terminar às 17.00: "Não foi uma decisão motivada pela poupança. Já tínhamos como objetivo terminar as aulas o mais cedo possível", explica o diretor. "Mas a poupança que acabámos por conseguir surpreendeu-nos." Ainda assim, os gastos são claramente superiores ao passado, implicando atenção constante.

O facto de ter integrado a fase piloto das obras da Parque Escolar permitiu à escola beneficiar de um investimento que já não seria repetido nas intervenções posteriores. O orçamento inicial, de 18 milhões de euros, acabou por ser largamente superado, fixando-se nos 23 milhões. Mas as posteriores dificuldades da empresa pública também deixaram alguns projetos inacabados.

A imponente biblioteca, renovada preservando os materiais nobres, nunca chegou a ter um simples interruptor que permita ligar e desligar a luz no local. O auditório, muito importante para os alunos do curso profissional de interpretação - uma das raras formações de atores a nível do ensino secundário do país -, tem uma cobertura de vidro que nunca chegou a ter um sistema que permita reduzir a luz natural quando é necessário. O maior exemplo das contradições desta reabilitação talvez tenha sido o Prémio Europa Nostra 2013, da União Europeia, conquistado na categoria de Conservação do Património. O prémio foi entregue à escola, em 2014, pelas mãos do presidente do Centro Nacional de Cultura, Guilherme Oliveira Martins, que à época liderava também o Tribunal de Contas, cujos técnicos tanto criticaram os custos da obra.

Uma escola diferente

Com mais ou menos polémicas, há no entanto uma coisa de que João Paulo Leonardo não tem dúvidas: a escola "ganhou imenso" com a renovação, passando de um edifício "bastante decadente em termos estruturais" e ao qual faltavam alguns equipamentos básicos, para uma escola moderna, capaz de dar todas as condições aos que nela trabalham e aprendem.

Equipamentos como os pavilhões desportivos cobertos, o refeitório, a "importantíssima" sala dos diretores de turma" e outras áreas de trabalho dos professores são enumerados na lista de ganhos, que permitiram transformar uma escola que vinha a perder alunos num estabelecimento "cheio", que já ultrapassou as cerca 40 turmas projetadas do 2.º ciclo ao secundário, incluindo nove cursos profissionais, em que se destacam a Interpretação e o Turismo.

"Estamos a ter capacidade de ir buscar alunos que anteriormente não vinham para a nossa escola. Temos condições excelentes para a educação em muitas áreas. E de alguma forma estamos a especializar-nos nas nossas áreas", resume.

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