Quem são os atores que esta noite concorrem à cerimónia do sindicato dos atores, os SAG? Entre uma mão cheia de consagrados e estrelas em ascensão, são os talentos que depois vão partir mais ou menos favoritos para a cerimónia dos Óscares, no dia 25. Num ano em que muitos ficaram de fora, estes são os atores e as atrizes que importa conhecer e celebrar. Uma amostra de uma vitalidade que é também um exemplo de diversidade num altura em que o "politicamente correto" da inclusão começa a ditar cada vez mais as regras..Se é verdade que nos últimos anos é através desta votação dos atores sindicalizados que se percebe melhor a tendência de voto da Academia, também não é menos verdade que a fornada 2020 ofereceu filmes ancorados no trabalho do ator. Cada vez mais, um certo cinema de prestígio americano vive do carisma e do talento dos seus atores. Mais do que a realização, é nas interpretações que está a mais-valia de muitos projetos, mesmo atendendo-se ao exemplo de um objeto que ficou aqui de fora das nomeações, Estados Unidos vs Billie Holiday, de Lee Daniels, filme medíocre mas alavancado pela poderosa composição da estreante Andra Day, cantora que viu o seu esforço recompensado pelos Globos de Ouro, troféu em que não era favorita. Sejamos práticos, Estados Unidos vs Billie Holiday (em breve nas salas) é um filme de uma atriz..Chadwick Boseman.Ma Rainey- A Mãe dos Blues.Muito mais do que uma vedeta que vestia a pele do super-herói africano Black Panther nos filmes da Marvel, Boseman sempre foi visto como um dos grandes talentos da sua geração, tendo já ameaçado emancipação nesta coisa dos prémios anteriormente, sobretudo por ocasião de Get on Up, o "biopic" de James Brown. Em Ma Rainey- A Mãe dos Blues é espantoso como sempre. Uma daquelas interpretações onde se sente o peso da transcendência. A sua viúva pode ir preparando o discurso, sobretudo porque o fator de luto nem conta tanto assim com um feito destes. Se estivesse vivo, estaria na mesma na linha da frente para continuar a vencer todos os prémios..Anthony Hopkins.O Pai.O que é notável em O Pai, de Florian Zeller, é a forma como Anthony Hopkins torna sua esta personagem de um idoso perdido na falta de memória e perceção. Alguém em pleno labirinto de equívocos e confusões do Alzheimer. O melhor Hopkins desde O Silêncio dos Inocentes? É bem provável....Riz Ahmed.O Som do Metal.É um ator britânico de origem paquistanesa que se está a impor aos poucos em Hollywood. Em O Som do Metal terá encontrado finalmente o grande papel que procurava depois de ter roubado cenas em filmes relevantes como Nightcrawler- Repórter da Noite (2014) e Rogue One- Uma História Star Wars (2016). O seu baterista de uma banda de metal que perde a audição é umas das grandes personagens deste lote e Ahmed dá-lhe uma profundidade negra que abala....Steven Yeun.Minari.O patriarca de uma família coreana a tentar o negócio da agricultura asiática no interior da América é o presente de carreira para Steven Yeun, ator apenas quase conhecido pela sua participação na série The Walking Dead. O ator sul-coreano parece tirar partido do efeito de estado de graça do filme numa interpretação sempre toda muita à base do "underacting", ou seja, da arte mais sofisticada da subtileza..Gary Oldman.Mank.Sem o látex facial do seu Churchill de A Hora Mais Negra, o Gary Oldman de Mank é o regresso à intimidade de um dos maiores atores vivos do mundo. Convém sempre lembrar que o agente de Oldman é defensor da polivalência mais extrema: tanto podemos vê-lo a ser dirigido por David Fincher como numa fita de ação "chungosa" a fazer de vilão. Mas aqui está todo o seu esplendor de camaleão..Amy Adams.Lamento de uma América em Ruínas.Foi a surpresa destas nomeações, não tendo depois repetido o feito nos Óscares. E a atuação de Amy Adams nesta obra de Ron Howard tem muitos detratores. A atriz interpreta uma mãe "saloia" a contas com um problema grave de drogas, uma daquelas interpretações com muita cólera e muito esbracejar. Mas alguém que era genial em obras como Dúvida, Golpada Americana ou The Master pode sair ilesa de tudo, tanto assim que esta nomeação atesta o respeito da classe por ela....Carey Mulligan.Uma Miúda com Potencial.Já andou nestas andanças de prémios mas nos últimos anos estava algo esquecida. Em Uma Miúda com Potencial interpreta uma mulher com desejos de vingança depois de um trauma na juventude com abuso sexual. É uma interpretação de uma enorme perversidade que a coloca como favorita, isto num ano em que era igualmente extraordinária em A Grande Escavação..Viola Davis.Ma Rainey- A Mãe dos Blues.Ultimamente, tudo o que faz acaba por se refletir em prémios ou nomeações. A sua composição de Ma Rainey, uma diva dos blues esquecida, é a todos os níveis memorável. O que é notável no seu caso é a capacidade para se apagar e transformar-se em todos os papéis. Na mesma altura que está a competir aqui e nos Óscares já surge no trailer de O Esquadrão Suicida e aí parece outra pessoa....Frances McDormand.Nomadland - Sobreviver na América.Aquele rosto cansado e aquelas rugas com vida da sua personagem nómada dizem muito do próprio programa naturalista do filme de Chloé Zhao... Frances "é" aquela mulher. Um processo de transformação que lhe pode dar o SAG mesmo apesar de um ligeiro favoritismo de Mulligan. Nesta altura, Frances McDormand é uma instituição na América....Vanessa Kirby.Pieces of a Woman.Num ano onde era também assombrosa em The World to Come, como uma amante lésbica em plena odisseia dos pioneiros americanos, Vanessa explode em Pieces of a Woman, interpretando uma mulher em rota de choque depois de perder um bebé num parto ao natural. Para muitos, uma surpresa este papelão, sobretudo aqueles que a conheciam do mundo de Fast and Furious ou do último Missão: Impossível....Daniel Kaluuya.Judas e o Messias Negro.Ator britânico revelado por Jordan Peele em Foge, Kaluuya tem sido presença constante no cinema americano e está neste momento em rota para o estrelato global. O SAG parece estar mais do que garantido....Leslie Odom, Jr..Uma Noite em Miami.Veio dos palcos da Broadway e da aclamação de Hamilton, mas Leslie Odom Jr. está a pegar de estaca no cinema, tendo já se feito notar em Um Crime no Expresso do Oriente, versão Kenneth Branagh. Exemplo do "ator completo", esta sua composição de Sam Cooke é toda ela feita com requintes de intimismo..Helena Zengel.Notícias do Mundo.A menina alemã que chegou como um furacão a Hollywood. Trata-se da presença feminina do western de Paul Greengrass, um raio luminoso que é também um sinal de esperança. Zengel já tinha chegado aos píncaros dos elogios com System Crasher, em Portugal estreado no Fest. Caso sério de talento....Maria Bakalova.Borat- O Filme Seguinte.Aposta pessoal de Sacha Baron Cohen para ser a filha de Borat nesta inventiva sátira à América de Trump, esta búlgara desconhecida é um colosso de energia e de capacidade de transfiguração. Uma autêntica revelação que vive atualmente um conto de fadas - do anonimato a inúmeras ofertas, estando já a ser heroína cómica no próximo Judd Apatow, The Bubble....Nesta categoria dos SAG costuma estar o melhor filme dos Óscares, mas num ano em que o favorito, Nomadland, só tem dois atores profissionais (David Strathairn e Frances McDormand), é obrigatório ter em conta todas as opções. Minari, o pequeno conto familiar de Lee Isaac Chung, pode ter algumas possibilidades, sobretudo a fim de premiar talentos como o pequeno Alan Kim e a veterana Yuh-Jung Youn. Por outro lado, há ainda o fator Da 5 Bloods- Irmãos de Armas, o ausente maior dos Óscares, aqui com esta significativa nomeação, talvez a possibilidade derradeira de Delroy Lindo ser reconhecido pelos pares. Mas se há filme que viva do elenco de grupo é Uma Noite em Miami, de Regina King. Porventura está aqui a chance de se celebrar este magnífico ano dos atores afro-americanos. Nesse sentido, era muito bonito podermos ser testemunhas dos discursos de vitória de gente como Kingsley Ben-Adir (Malcom X) ou Aldis Hodge (Jim Brown)....dnot@dn.pt