Tribunal anulou confinamento e os bares encheram logo. "É o Oeste selvagem"

No estado norte-americano de Wisconsin, o supremo anulou a decisão do governador em prolongar o isolamento por causa da covid-19. Horas depois, os bares enchiam com pessoas sem máscara, amontoadas. "Somos o Oeste Selvagem", critica o governador Tony Evers.
Publicado a
Atualizado a

Bastaram poucas horas para tudo mudar no Wisconsin, estado norte-americano que viu o Supremo Tribunal estadual anular a ordem do governador local para manter o confinamento obrigatório. Os bares encheram-se com pessoas sem máscara, como se nada estivesse a acontecer a nível de saúde pública com o surto de covid-19. "Somos o Oeste selvagem", disse o insatisfeito governador democrata do estado, agora sem poder para decretar medidas de isolamento.

Na noite de quarta-feira, no centro de Platteville, relata o The Washington Post, o bar Nick's ficou cheio. Tocava a música "Long Cool Woman in a Black Dress" dos Hollies e um barman pegou na câmara. Numa transmissão no Twitter, via-se a sala cheia de clientes sem máscara, amontoados. Alguns batiam palmas, numa cena tão alegre que pareciam estar a comemorar o fim da pior pandemia num século. Por todo o estado registaram-se cenas idênticas, com bares apinhados, como mostraram as TV's locais.

Mas pessoas como o governador Tony Evers (Democrata), sabem que não é assim e que os clientes do bar estavam apenas a comemorar o aparente fim do seu poder sobre a população, pelo menos por enquanto.

"Somos o oeste selvagem", disse Tony Evers à MSNBC, na noite de quarta-feira, reagindo à decisão do Supremo do estado e às cenas de pessoas a festejar em bares por todo o estado de Wisconsin. "Não há restrições em todo o estado de Wisconsin. Não há nada que leve as pessoas a fazer outra coisa senão trazer o caos."

Logo após a maioria conservadora da tribunal ter proferido uma decisão, com votos de 4 a 3 juízes, invalidando a extensão da ordem de permanecer em casa emitida pelo chefe de saúde estadual designado por Evers, a Tavern League of Wisconsin, uma associação de bares, instruiu os seus membros a serem livres para "Abrir Imediatamente!"

No Iron Hog ​​Saloon, na cidade de Port Washington, as bebidas começaram logo a correr, mas faltavam máscaras e distanciamento social, informou a TV WISN. O proprietário, Chad Arndt, disse que tinha implementado mais protocolos de limpeza e que, se as pessoas se sentissem desconfortáveis, não tinham que ir ao bar e respeitaria. "Espero que respeitem os meus sentimentos, quero sair e começar a retomar a economia", afirmou.

Para um cliente, Gary Bertram, é uma decisão simples. "Se as pessoas querem quarentena, fazem quarentena. Se não deseja ficar em quarentena, não fique. Saia e faça o que normalmente faz", disse à televisão local.

Não é assim tão simples. As autoridades de saúde pública alertaram repetidamente que aqueles que optarem por ignorar o distanciamento social podem acabar por espalhar a doença a pessoas que não vão beber para bares, mas apenas vão, por exemplo, a uma mercearia.

Outros bares que reabriram tentaram tomar mais precauções, com as mesas afastadas, os funcionários obrigados a usar máscaras faciais e desinfetante para as mãos disponível.

A Tavern League do Wisconsin ainda incentivou os bares a seguirem as diretrizes de reabertura da Wisconsin Economic Development Corporation, que incluem obrigar os funcionários a usarem máscaras, fortalecer medidas sanitárias e manter grupos de clientes a um metro e meio de distância uns do outros. O diretor executivo da liga, Pete Madland, disse à Fox 11 que gostou da decisão por estar em causa os meios de subsistência dos proprietários.

É uma situação diferente de qualquer outra nos Estados Unidos, à medida que a pandemia continua. Mas acima de tudo, o governador Tony Evers teme que a ordem do tribunal cause a única coisa que estava a tentar impedir: mais mortes.

Wisconsin tem mais de 10.900 casos confirmados de coronavírus e 421 mortes.

Um juiz conservador, Brian Hagedorn, juntou-se aos outros dois liberais na dissidência sobre o voto maioritário que revogou a ordem do governador. A juíza Rebecca Dallet escreveu: "Esta decisão será considerada um dos exemplos mais flagrantes de ativismo judicial na história deste tribunal. E serão os habitantes do Wisconsin que pagarão o preço."

Os republicanos queriam que o assembleia do estado tivesse voz nas medidas drásticas de saúde pública que a administração de Evers exigiu que os habitantes seguissem. O Supremo concordou, justificando que um chefe de saúde estadual não eleito não deveria ter um poder tão amplo sobre milhões de pessoas.

Mas no ambiente político do Wisconsin, não é ainda claro até que ponto o governo democrata trabalhará com a maioria republicana para tratar a saúde pública, uma preocupação que Evers partilhou na noite de quarta-feira. Disse que os republicanos não tinham um plano, mas conversaria com eles.

Entretanto houve condados e cidades, como Racine e a maior cidade do estado, Milwaukee, que emitiram ou ampliaram os seus próprios pedidos de confinamento que ainda proíbem a reabertura de bares e restaurantes.

"Diferentes municípios estão a abrir tudo. Outros municípios dizem: 'Não, não queremos que isso aconteça'", apontou Tony Evers. "De repente, com 72 condados, isto será muito confuso para as pessoas no estado".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt