Terrorismo. PJ detém suspeito de apoiar jihadistas portugueses
A PJ deteve Rómulo Costa, português suspeito de ter dado apoio logístico, a partir de Inglaterra, ao grupo de seis suspeitos jihadistas portugueses conhecido como "Célula de Leyton", alvo de inquéritos-crime do Ministério Público (MP). A operação, em território nacional, foi feita pela Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo (UNCT) da PJ, no âmbito da investigação titulada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP).
Segundo um comunicado conjunto da PJ e da Procuradoria-Geral da República, "em sede de investigação criminal que versa sobre crimes de terrorismo, nomeadamente no que concerne à participação de cidadãos nacionais nas fileiras do Estado Islâmico, foi desenvolvida uma ação policial para efetuar a detenção de indivíduo suspeito de ter prestado apoio a combatentes daquela organização terrorista".
A ação policial ocorreu na madrugada de 16 de junho e foi feita uma busca domiciliária à residência onde o suspeito se encontrava.
O comunicado adianta ainda que "o cidadão ora arguido está radicado no Reino Unido há vários anos, sendo a partir de lá que desenvolveu diversas atividades em prol do estado islâmico, nomeadamente como apoio e facilitador ao movimento de outros nacionais para os territórios do Iraque e do norte da Síria".
É sublinhado que a investigação, que ainda prossegue, "circunscreve-se essencialmente aos residentes em território nacional dada a relevância processual penal em termos de competências, sendo os casos dos outros nacionais da diáspora tratados diferentemente e em sede própria".
Rómulo Costa foi presente para interrogatório judicial nesta segunda-feira, dia 17, tendo sido decretada a medida de coação de prisão preventiva.
A "Célula de Leyton" integrava os irmãos Celso e Edgar Costa [irmãos de Rómulo], bem como Sadjo Turé, Fábio Poças, Sandro Monteiro e Nero Saraiva. Dos seis, apenas deste último há informações de que estará ainda vivo, embora tenha ficado gravemente ferido em Baghouz, o último reduto do Daesh, num ataque das forças aliadas.
Os jihadistas portugueses têm em comum o terem partido da zona de Sintra para Inglaterra - Leyton - onde se vieram a radicalizar.
De acordo com investigações da revista Sábado e do jornal Expresso, os irmãos Costa, conhecidos em Raqqa pelo seu nome de guerra, Abu Issa Al-Andalus (Celso) e Abu Zacarias Andalus (Edgar), eram considerados peças "influentes" na hierarquia da organização terrorista.
Edgar e Celso mudaram-se para Londres no início de 2000. Ter-se-ão convertido em 2006.
Em 2008 terão viajado para Marrocos, onde terão vivido cerca de seis meses. Foram visitando a família em Sintra a regressavam sempre a Leyton, onde geriam uma rede de recrutamentos de jovens muçulmanos estrangeiros que queriam entrar nas fileiras do ISIS. Chegaram a viver em Portugal, com as mulheres e os filhos recém-nascidos, e acabaram por partir para a Síria em 2013 combater pelo autodenominado Estado Islâmico.
Edgar ganhou experiência militar em África, onde se juntou a uma milícia do grupo radical Al-Shabaab na Somália e na Tanzânia.
Em março de 2014 Celso surgiu no YouTube a apelar aos muçulmanos de todo o mundo para se alistarem no exército fundamentalista que combate o regime sírio. Terá viajado para a Síria acompanhado da noiva, uma muçulmana de origem asiática e passaporte britânico. Surgiu no último verão em três fotos abraçado a Fábio Poças e ao rapper alemão Deso Dogg, homem forte da propaganda do EI.
Em setembro do ano passado foram dados como mortos. As suas quatro mulheres e filhos, que estarão retidas num campo de refugiados controlado pelos curdos, são do grupo de familiares de jihadistas portugueses que pediram para voltar a Portugal.
As autoridades estão a avaliar os riscos, tal como outros países a braços com situações idênticas, mas ainda não definiram uma estratégia.
Chegou a ter 40 mil combatentes e controlou grande parte do território da Síria e do Iraque. O reinado de terror, que se aproveitou da onda de indignação que varreu o norte de África e o Médio Oriente na chamada Primavera Árabe, a partir de 2011, começou a ser combatido por uma aliança internacional três anos depois, quando o líder da organização Abu Bakr al-Baghdadi proclamou um califado. Na Europa foram responsáveis ou inspiraram atentados, em Paris, Bruxelas, Nice, Barcelona, Manchester, ou Berlim, entre outros.
Norte-americanos, franceses, britânicos, entre outros países ocidentais, mas também a Jordânia ou Marrocos, por exemplo, iniciaram uma ofensiva aérea contra o EI e grupos afiliados. A partir de 2015 o envolvimento militar russo, não só segura o presidente sírio Bashar al-Assad, mas também recupera território. A isto junta-se o papel essencial das milícias curdas, mas também iranianas e dos libaneses do Hezbollah no terreno.
Perante as derrotas sucessivas -- perderam o último bastião de território em março --, os combatentes do Estado Islâmico mudaram de estratégia. O jornal online do Estado Islâmico al-Naba incentivou os seguidores a adotar táticas de guerrilha e publicou instruções sobre como realizar operações de atropelamento e fuga. Embora o EI já tenha tentado essa abordagem antes, as diretrizes deixam claro que o grupo está a adotá-las como procedimento operacional padrão.
Prova de que o EI está em transformação foi a declaração do estabelecimento da "província da África Central" do autodenominado califado, em abril, e da "província da Índia", no mês seguinte.
E nos últimos meses registaram-se ataques em vários países, da Líbia ao Afeganistão, da RD Congo ao Egito, do Paquistão à Chechénia, do Níger ao Sri Lanka. Neste último país, os ataques às igrejas no Domingo de Páscoa, que causaram 250 mortos, foram reivindicados pelo Estado Islâmico.
"A triste realidade é que o EI ainda é muito perigoso. Tem as ferramentas e fundações necessárias para construir insurreições em todo o mundo", disse Rita Katz, diretora executiva do SITE Intelligence Group, à Reuters.
* com César Avó