O tempo médio de acolhimento para as crianças e jovens à guarda do Estado baixou em 2019 para 3,4 anos, segundo o relatório CASA 2019, que revela também problemas comportamentais e de saúde mental entre os acolhidos..O relatório, entregue na quinta-feira à Assembleia da República, faz um retrato do acolhimento de crianças e jovens em Portugal a 01 de novembro de 2019, data em que se contabilizavam 9.522 crianças e jovens que passaram pelo sistema nesse ano, das quais 7.046 (mais 0,2% do que em 2018) ainda se encontravam em acolhimento e 2.476 já tinham saído. Em 2019 entraram no sistema de acolhimento 2.498 crianças e jovens.."O tempo médio de permanência das crianças e jovens acolhidas nas diversas respostas de acolhimento está estimado em 3,4 anos, situação que em 2018 se situava nos 4 anos", indica o relatório..Entre as institucionalizadas destacam-se problemas de comportamento em 28% das crianças e jovens, ainda que na maioria dos casos (71%) seja problemas de caráter ligeiro"¸ associados ao desenvolvimento na adolescência, particularmente no aspeto que corresponde à impulsividade, atitudes de desafio, oposição, e fugas breves"."Em seguida surgem os problemas médios com uma expressão de 25%, os quais são caracterizados por agressões físicas, fugas prolongadas, pequenos furtos e destruição de propriedade sem grandes prejuízos. Os problemas graves, com uma representação de 3%, correspondem a situações como roubos com confrontação da vítima, utilização de armas brancas, destruição de propriedade com prejuízos consideráveis e atividade sexual forçada", lê-se no documento..Sobre a saúde mental, o CASA 2019 revela que "2.519 crianças e jovens beneficiaram de acompanhamento psicológico regular (correspondendo a 36% das crianças e jovens em acolhimento), 1.789 acompanhamento pedopsiquiátrico/ psiquiátrico regular (25%) e 1833 fazem medicação (26%)", dados que evidenciam a "necessidade de manutenção de articulação continua com a área da saúde"..Em 2019 entraram no sistema de acolhimento 1.503 crianças e jovens em procedimento de urgência, a necessitar de proteção imediata por terem a vida em risco ou a sua integridade física..A negligência é a principal razão que motiva a entrada em acolhimento, motivada sobretudo por falta de supervisão e acompanhamento familiar ao nível da educação e da saúde..Outros motivos são, por exemplo, a exposição a violência doméstica, que afetou 689 crianças e jovens institucionalizados (9,8%) ou mesmo o abandono, registado entre 308 acolhidos (4%). 622 crianças foram colocadas à guarda do Estado por serem vítimas de maus tratos físicos..Em 2019 assistiu-se a um decréscimo das reentradas no sistema, com 180 casos registados, contra os 225 de 2018..O relatório revela ainda uma duplicação do número de menores estrangeiros não acompanhados à guarda do Estado português, um total de 86 em 2019 contra os 41 de 2018. Segundo a caracterização no documento, são maioritariamente rapazes (78%) com 15 ou mais anos, e representam 1% do universo de acolhimento no país..A tendência crescente acompanha o maior número de pedidos de asilo que se tem registado em Portugal e os jovens em acolhimento têm origem maioritariamente em países africanos como os Camarões ou o Senegal, disse Catarina Marcelino, vice-presidente do Instituto da Segurança Social e ex-secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade do Governo de António Costa, numa apresentação do relatório aos jornalistas na quinta-feira..Segundo a responsável, a expectativa é que este número continue a crescer, tendo em conta o compromisso que Portugal assumiu de acolher até ao final do próximo ano 500 menores não acompanhados vindos dos campos de refugiados na Grécia..O CASA 2019 mostra ainda que está em crescimento o número de jovens em acolhimento com 21 ou mais anos -- até ao limite máximo de 24 anos -- desde que a lei foi alterada para permitir o alargamento da situação de proteção até aos 25 anos, idade de saída obrigatória da tutela do Estado..Representam já 3% do universo de acolhimento, com 229 casos em 2019, maioritariamente raparigas, sendo que 32% do total de jovens com 21 anos ou mais estava a frequentar o ensino superior ou o ensino pós-secundário no ano passado..Entre os que saíram do sistema em 2019 (2.476), o CASA 2019 mostra que cerca de metade (1.239, menos 7% do que em 2018) foram reintegrados na família nuclear, 302 na família alargada (-16%; 458 prosseguiram um projeto de vida independente (-11%) e 218 entraram em processo de adoção (+7%)..Os problemas de comportamento são também um dado relevante entre as crianças e jovens que abandonam o sistema de acolhimento, ainda que na maioria dos casos sejam ligeiros.."Outra das características particulares que os jovens apresentam aquando do término do acolhimento (11%) são os problemas ao nível dos consumos de substâncias. Este problema surge, maioritariamente, nos jovens entre os 15 e os 20 anos", adianta o relatório..Nas conclusões do documento aponta-se também o crescimento de crianças e jovens deslocalizados, ou seja, colocados em acolhimento fora da área geográfica onde viviam..Entre as explicações propostas estão a segregação por sexo das casas de acolhimento e a preferência em acolher crianças mais novas..Defende-se ainda a redução da capacidade das casas de acolhimento de 30 para 15 crianças e jovens, uma dimensão que Catarina Marcelino defendeu ser de um modelo mais próximo da dimensão de uma família.