Ex-chefe de gabinete do ministro afinal recebeu memorando sobre "encenação"

Aumenta a pressão sobre Azeredo Lopes. O tenente-general Martins Pereira, atual adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), reconhece que recebeu documentação do ex-diretor da PJM e do major Vasco Brazão.
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O ex-chefe de Gabinete do ministro da Defesa admitiu, pela primeira vez, estar na posse, desde novembro de 2017, de documentação sobre a recuperação do material furtado em Tancos - uma operação conduzida pela Polícia Judiciária Militar (PJM) que o Ministério Público (MP) entende ter sido encenada para proteger os autores do roubo. Este novo facto será mais uma pressão para Azeredo Lopes, que tem negado perentoriamente que soubesse da "encenação" dos militares.

No parlamento esta tarde, quando questionado sobre a situação pelo presidente do Grupo Parlamentar do PSD, o primeiro-ministro António Costa negou que o Ministro da Defesa tivesse sido informado sobre a referida operação de encobrimento. "A informação que tenho é de que não tinha conhecimento", afirmou. "É estranho, muito estranho, que um chefe de gabinete não transmita essa informação ao seu ministro", comentoudepois Fernando Negrão, que não poupou críticas à forma como, em seu entender, o Governo tem desvalorizado o incidente de Tancos.

Em declarações à RTP, o tenente-general Martins Pereira adianta que já fez chegar ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) o documento que lhe foi entregue na reunião com o ex-diretor da PJM, Coronel Luís Vieira - em prisão preventiva - e o major Vasco Brazão, em prisão domiciliária. Ambos e outros sete arguidos estão indiciados por "factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".

Quando confrontado com as notícias segundo as quais Vasco Brazão teria dito, no interrogatório judicial, que o ministro da Defesa soube da referida operação - uma vez que tinha sido entregue uma descrição da mesma no ministério da Defesa, ao chefe de gabinete - o general limitou-se inicialmente, a confirmar o encontro mas sem fazer qualquer referência ao documento. "Nessa ocasião ou em qualquer outra não me foi possível descortinar qualquer facto que indiciasse qualquer irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos" , garantiu Martins Pereira. Vasco Brazão terá ainda adiantado que Martins Pereira teria telefonado ao ministro na frente dele e de Luís Vieira a relatar o sucedido.

Ao ser desmentido, quer pelo Ministro, quer pelo ex-chefe de gabinete, Vasco Brazão pediu para ser de novo ouvido pelo DCIAP para que fosse entregue cópia desse documento. É na sequência desta diligência que Martins Pereira vem agora corrigir as suas primeiras declarações, assumindo que recebeu o memorando.

"A documentação verdadeira foi entregue hoje no início da tarde, no DCIAP, pelos serviços do meu advogado", adiantou o tenente-general à RTP. Resta saber se este documento coincide com o que Vasco Brazão entregou ao DCIAP e qual é realmente o seu conteúdo.

Até agora, a defesa do coronel Luís Vieira - que poderá também confirmar as alegações de Brazão - tem estado em silêncio. No entanto, fontes próximas reconheceram já ao DN a veracidade do encontro e da entrega do memorando. Embora nada adiantassem sobre se Azeredo Lopes foi ou não informado.

(Atualizado às 16:10 com a declaração do primeiro-ministro)

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