Stallone como homem do lixo num filme de super-heróis. A extravagância chega com alguma pompa ao streaming e vem pelas mãos de Julius Avery, cineasta que espantou tudo e todos em 2018 com o potente Operação Overlord. Mas Samaritan não é da escola dos filmes da Marvel ou DC, o livro de estilo é outro: um super-herói discreto que parece estar numa reforma ou numa auto imposta hibernação. Será uma criança sem pai a despoletar o seu regresso, ele que agora operava na clandestinidade como mero homem-do-lixo. Este bom samaritano é solitário, de poucas falas e tem uma força brutal, resistindo a tiros e a tudo o mais. O seu único ponto franco é que aquece em demasia - precisa de comer muito gelo ou gelados. Quem nunca....Numa conferência de imprensa realizada nos EUA o DN esteve presente via Zoom e apanhou um Sylvester Stallone mais sorridente do que é habitual. Para o homem que já foi Rocky e Rambo, ser super-herói era um desafio inevitável, mesmo quando este seu Samaritan tenha uma carga realista mais substancial, assumindo as marcas da idade e o cansaço. Talvez por isso e pelo disfarce de homem do lixo, o seu nome também apareça nos créditos como produtor: "antes do cinema já fui tanta coisa. A vida dá muitas voltas - cheguei a ser porteiro, bartender, peixeiro, empregado de limpeza numa jaula de leões, arqueiro, etc. Aprendi que para chegar onde cheguei há que ser humilde... Tudo isso foi um processo de aprendizagem de uma grande experiência humana. Por exemplo, gosto mais de ser ator agora do que quando tinha 30/35 anos... Na altura não sabia nada. Os homens só começam a ser adultos depois dos 41! Uma pessoa está sempre a aprender, mesmo quando pensa que já sabe tudo. O problema depois da idade é o síndrome do velho rabugento. Creio que aprendi a não ser tão cínico, a apostar mais na companhia com a juventude"..Com uma laca forte num cabelo mais grisalho do que aquele que aparece no filme, Stallone está também mais falador e orgulhoso deste super-herói fatigado. Essa boa disposição é prova de segurança de alguém que deve ter a consciência que Samaritan é feito para miudagem pouco exigente. A sua génese de produto "anos 80" quase de certeza vai ser fustigada pela imprensa, mas também é seguro que a Amazon vai puxar por este projeto, quanto mais não seja porque pode haver hipótese de mais sequelas. De alguma forma, este super-herói pode não ser rápido mas está aí para as curvas: "ele é uma espécie de Hércules dos tempos modernos, um super-herói de força tremenda mas que sabe honrar a minha idade! As pessoas vão identificar-se com ele pois sabem que é vulnerável. Se levar em demasia é claro que morre...", defende o ator que lembra que neste género de cinema de ação o importante é o realismo: "levo muito a sério isto, não é por acaso que devido às filmagens já fui operado 31 vezes!"..Da Índia há uma pergunta que remete para o seu lado físico - este e o novo Expandables não usam tantos efeitos visuais e apostam mais nas coreografias de luta reais. Stallone volta a rir: "gostaria eu próprio de saber porque não estou farto disto... Quando comecei não havia bem o género do cinema de ação e eu era fascinado por combates e movimento físico. Aliás, quando vemos um filme de ação podemos desligar o som: vamos perceber tudo apenas pela movimentação dos corpos. Vejam A Fúria do Herói e percebem que tenho razão. Esse primeiro Rambo provou que este género poderia ser importante e tem a ver com a mitologia moderna: precisamos destas histórias, destas figuras que para as sociedades modernas funcionam quase como deuses. De Homero à Marvel não há diferenças... É claro que há quem os faça com efeitos digitais, outros com cabos. Pessoalmente, sou fascinado pela forma como estes filmes chegam a culturas tão variadas. Sempre que vejo uma história que remeta para os temas das grandes emoções, heroísmo, das figuras paternais, etc, tento envolver-me. Se isso é fatela e açucarado, é... Mas chamem-me um coração de mel, eu assumo! Sou assim"..A seguir a este Samaritan, vamos ter mais um Os Mercenários, outra saga série Z criada pelo próprio e onde são chamados outros astros do cinema de ação. Expendables, é assim que se chama, já não terá Harrison Ford, Antonio Banderas, Mickey Rourke ou Schwarzie mas continua com Randy Couture, Dolph Lundgren e Jason Statham, ou seja, a nata do cinema "chunga" de Hollywood. Sly mantém o seu posto de chefe das operações..dnot@dn.pt