Soflusa pode pagar viagem a quem ficou sem barco no sábado. Vem aí mais uma semana difícil
O gabinete jurídico da Soflusa está a analisar a possibilidade de a empresa indemnizar as pessoas que na noite de sexta-feira passada (dia 10) e madrugada de sábado (11) ficaram sem transporte de Lisboa para o Barreiro devido a baixa por doença do mestre do barco que deveria ter feito as ligações fluviais. Nessa noite, 180 passageiros tiveram de encontrar meio de se dirigir para casa e 20 passaram a noite no terminal da empresa na Praça do Comércio.
Para, caso esta decisão avance, ter acesso a receber o dinheiro gasto os utentes têm de apresentar uma nota justificativa [do pedido], facultar uma cópia do passe ou título de transporte e juntar cópia da fatura da despesa que tiveram nesse dia.
Esta possibilidade foi apresentada esta sexta-feira aos elementos da Comissão de Utentes de Serviços Públicos que reuniram com a administração da Transtejo/Soflusa para apresentar as queixas dos utentes de um serviço que nos últimos dias tem sofrido muita contestação devido à supressão de várias ligações entre as duas margens do rio Tejo.
Ao DN a empresa confirmou que a situação se encontra "em processo de análise e verificação de conformidade".
Além dos problemas enumerados num memorando - principalmente a falta de embarcações, de manutenção e de pessoal -, quem utiliza a ligação fluvial entre o Barreiro e Lisboa vai continuar a ser confrontado nos próximos dias com a supressão de carreiras principalmente as última da noite e as primeiras da manhã como se pode ler num comunicado que está no site da empresa. Neste explica-se que devido a "constrangimento laborais" não vai ser possível cumprir horários como o das 00.30 do Terreiro de Paço para o Barreiro ou os das 05.45 e 06.50 deste sábado entre a cidade da margem sul e a capital. Os horários suprimidos vão variando de acordo com os dias da semana.
Na tentativa de compensar, a empresa garante que a 19, 21 e 23 de maio vai ter uma ligação extra entre o Barreiro e o Terreiro do Paço às 00.55 e 01.45 e às 01.20 e 02.10 de Lisboa para o cais barreirense.
"Os constrangimentos laborais são a falta de pessoal. A empresa tem de assumir isso", diz ao DN José Encarnação, da Comissão de Utentes de Serviços Públicos e um dos elementos que participou na reunião desta sexta-feira com a administração da Transtejo/Soflusa. Este representante da comissão estará também ao final da tarde na Estação Sul e Sueste (Praça do Comércio) para onde está prevista a realização de uma tribuna/concentração de protesto na qual será explicado aos utentes o que foi dito à administração da empresa, e o que ela respondeu, no encontro desta manhã.
"Entregámos um memorando onde referimos a falta de pessoal - mestres, marinheiros, maquinistas - e de meios. Dos oito barcos da empresa hoje sete estão operacionais, por isso queremos mais uma embarcação. Disseram-nos que vão começar a pensar seriamente na renovação da frota", acrescenta, explicando que os responsáveis da empresa reconheceram precisar de 21 mestres para operar os barcos, mas que neste momento só têm 16 a trabalhar. "Têm a promessa, só falta o despacho [do governo] de poder contratar seis marinheiros, mas na realidade só vão acrescentar dois pois os outros quatro vão passar a mestres, e estes precisam de três a quatro semanas para a formação. Além disso a administração reconheceu que o recurso às horas extraordinária no caso dos mestre é excessivo [terão feito um total de 4 mil em 2018], reduziram-lhes as folgas a uma por semana", adiantou. Isto num cenário em que a procura deste transporte subiu "7% nos últimos dois meses", como os responsáveis da empresa confirmaram à comissão.
Sem grandes soluções no imediato para responder às supressões de carreiras - seja pela falta de frota e pessoal ou devido a períodos de greve - a administração terá dito que chegou a ser equacionada a possibilidade de tentar reforçar o serviço rodoviário dos Transportes Coletivos do Barreiro entre a estação fluvial da cidade e a estação ferroviária de Coina, servida pela ligação Setúbal-Lisboa da Fertagus, uma hipótese entretanto afastada.
"Há um relatório de fiscalização da Autoridade de Mobilidade e Transportes, com a data de abril de 2018, onde se diz que entre 2014 e 2016 não houve investimento. Refere que até outubro de 2017 se registaram 1519 supressões de viagens e destas 1157 foram por insuficiência de frota. Entre 2015 e 2017 houve muitas avarias e imobilizações de navios", salienta José Encarnação acrescentando que o documento também refere o desinvestimento que existiu ao longo dos últimos anos nesta empresa.
Salientando que os problemas como aqueles que aconteceram na segunda-feira em que os passageiros que estavam na estação do Barreiro contestaram violentamente a falta de ligações não se registaram nos dias seguintes - "os barcos estão a fazer a viagem mais rápido, logo mais viagens" -, considera também que não houve um "desvio" na escolha das pessoas em relação aos transportes que utilizam para se deslocar a Lisboa. Nem tem conhecimento que os hábitos de viagem se tenham alterado, por exemplo uma antecipação da chegada ao terminal.
Quanto à concentração desta tarde, José Encarnação disse ao DN que vai ser "dada conta do que aconteceu na reunião e esclarecer as pessoas. Vamos também alertá-las para os tempos que se avizinham, que será mais do mesmo", conclui.
No contacto efetuado pelo DN a Transtejo/Soflusa adiantou terem sido "prestados todos os esclarecimentos solicitados [pela comissão], no âmbito dos constrangimentos laborais que têm motivado as perturbações de serviço na ligação fluvial do Barreiro, nomeadamente, assinalando-se o reforço ocorrido já este ano com a admissão de 4 marítimos, a expectativa de rapidamente se iniciar o processo de recrutamento de mais seis e o concurso interno para 4 mestres".