Programa curricular de Matemática alvo de críticas

Sociedade Portuguesa de Matemática considera que as mudanças propostas pelo Governo para a disciplina desvalorizam o conhecimento dos alunos do ensino básico
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A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) considera que as mudanças propostas pelo Governo para o ensino da disciplina são um retrocesso, ao mesmo tempo em que lança críticas às várias medidas propostas, como é o caso da possibilidade de as escolas reduzirem a carga horária.

Termina hoje a consulta pública do diploma que define o "Currículo dos Ensino Básico e Secundário", e neste sentido a SPM não esconde a preocupação com as mudanças que estão previstas levarem a cabo, dando o exemplo de as escolas poderem reduzir a carga horária no 2º e 3º ciclos entre 10% e 20%, o que, na sua opinião, acaba por tirar valor à transmissão do conhecimento. "É bem patente nas matrizes curriculares base do projeto que essa redução se vai situar entre 10% e 20% dos tempos horários hoje balizados para a disciplina de Matemática. Este corte na carga letiva sinaliza de forma factual o desinvestimento, por parte deste Ministério da Educação, na Matemática e da sua desvalorização da transmissão do conhecimento", defende aquele organismo, num comunicado enviado à agência Lusa.

O decreto-lei que define os princípios de organização dos currículos foi aprovado no início do mês de abril em Conselho de Ministros. Preocupado com os casos de insucesso escolar, o Governo decidiu dar liberdade às escolas para desenvolverem o currículo, com autonomia na organização de tempos, de "espaços e de formas de ensinar mais eficazes, potenciando melhores aprendizagens para todos".

"Globalmente, trata-se de um documento muito preocupante, pois põe em causa os progressos duramente conquistados, nas últimas duas décadas, pelos alunos e famílias portuguesas, e configura um retrocesso a atitudes características daquilo que de pior teve o ensino em Portugal no século XX", critica a direção da SPM.

Para a SPM, o projeto de decreto-lei "desinveste no conhecimento, reduzindo-o a um mínimo insuficiente para levar os alunos a patamares de autonomia na ação e no desenvolvimento do raciocínio".

Uma proposta de decreto-lei "inquietante", já que o documento em discussão pública é "um conjunto de meia-dúzia de páginas, em grande parte desarticuladas e desconexas", que deverá substituir "já no próximo ano letivo e para todos os alunos do país, aos atuais Programa e Metas Curriculares de Matemática", defende.

A SPM critica também as mudanças por colocarem "continuamente a tónica na prática, no aplicável e no concreto, limitando e comprometendo a aprendizagem de disciplinas como a Matemática, em que uma aquisição estruturada e sequencial permite agregar a realidade e a abstração Matemática".

Por outro lado, a Associação de Professores de Matemática (APM) tem contestado o programa e metas ainda em vigor, isto numa altura em que recentemente cerca de 200 docentes defenderam "a revogação imediata das metas curriculares do programa de Matemática do ensino básico".

Desde que entraram em vigor, há cerca de cinco anos, os programas de Matemática têm sido alvo de fortes críticas por parte da APM, que tem alertado para o facto de serem muito extensos, para além de existirem muitos conteúdos que não se adequam à idade dos alunos.

A elevada percentagem de chumbos a Matemática tem preocupado tanto os pais e os professores como também o Ministério da Educação que, recentemente, criou um grupo de trabalho que pretende produzir recomendações sobre a aprendizagem da disciplina.

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