Quem julga que a influência política do clã Bolsonaro nos destinos do Brasil se resume a Jair, o mais impopular presidente da República em primeiro mandato, e aos seus filhos - Flávio, o senador investigado por organização criminosa e lavagem de dinheiro, Carlos, o vereador do Rio de Janeiro que já ajudou a demitir dois ministros do governo via Twitter, ou Eduardo, o deputado federal a caminho de se tornar embaixador brasileiro em Washington - está muito enganado. Leonardo Rodrigues de Jesus, sobrinho do primeiro e primo direito dos outros três, também passa a vida no Palácio do Planalto. Missão: caçar comunistas em órgãos públicos..Léo Índio, como é conhecido, já havia chamado a atenção por, no primeiro mês e meio da gestão de Bolsonaro, ter dado entrada 58 vezes no Planalto - um número extraordinário, sobretudo se levarmos em consideração que nesse período, de 1 de janeiro a 14 de fevereiro, só por 16 vezes o próprio presidente registou presença no local onde trabalha..Primo dos irmãos Bolsonaro por parte de mãe, Léo foi ainda muito citado semanas depois por razões completamente diferentes: circularam nas redes sociais dezenas de fotografias dele, sempre ao lado do primo Carlos, o que motivou boatos sobre a sexualidade de ambos. A dada altura, até o candidato do PT na última eleição presidencial, Fernando Haddad, numa troca de tweets agressivos com Carlos, respondeu a uma provocação com a pergunta "e o priminho, vai bem?", o que lhe valeu críticas da comunidade LGBT, de quem sempre foi próximo..Pois agora Léo, de 35 anos, é notícia, no jornal O Estado de S. Paulo, por ter elaborado dossiês informais de "infiltrados e comunistas" nas estruturas estaduais brasileiras. Os relatórios foram feitos, diz o Estadão, sem nenhum pedido oficial do Planalto ou da família Bolsonaro e de forma mais ou menos amadora: o sobrinho do presidente cruza dados abertos do organigrama da função pública com notícias de jornais para tentar identificar a quem o funcionário público está ligado..O primo dos Bolsonaro já viajou a pelo menos três estados sob gestão atual ou recente de partidos de esquerda, como o PT, de Lula da Silva e Dilma Rousseff, ou os comunistas do PCdoB, "caçando" funcionários incompatíveis com as posições ideológicas da administração federal, relata ainda investigação do jornal. Numa dessas viagens, Maura Jorge, do PSL, partido do presidente, acabou por tomar posse como chefe de uma instituição pública ligada à área da saúde, logo após se reunir com Léo. Nas redes sociais, ela agradeceu o carinho e a confiança do sobrinho do presidente..Em rigor, o único cargo que o ex-estudante de Gestão de Empresas ocupa em Brasília é o de assessor do senador Chico Rodrigues, do DEM, partido aliado do governo, com salário em torno de cinco mil euros. E quando questionado sobre as suas atribuições, sublinha apenas que está "focado nas missões que o senador designa"..Embora a ala do governo contrária a Carlos Bolsonaro, o segundo filho do presidente que já causou a demissão dos ministros Gustavo Bebianno e general Santos Cruz, por não gostar da influência deles junto ao pai, desconfie que Léo funciona também como uma espécie de informante do primo no Planalto. Além, portanto, de caçador de comunistas..Léo não trabalha sozinho nessa empreitada. Logo ao chegar ao poder, o ministro-chefe Onyx Lorenzoni, braço direito de Bolsonaro, disse que ia promover uma "despetização" - ou seja, realizar uma exoneração em massa de todos os funcionários indicados pelo PT. Mas como, desse modo, viu esvaziada a equipa técnica que tinha ao dispor, voltou atrás..Aliás, a caça do sobrinho presidencial pode ser exaustiva. Segundo levantamento do portal UOL, 39% dos integrantes dos dois principais escalões da administração federal trabalharam também para as gestões de Lula e Dilma, incluindo três ministros, Wagner Rosário, da Controladoria-Geral, Gustavo Canuto, do Desenvolvimento Regional, e Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, o mais elogiado membro do executivo.."E isso é absolutamente normal e desejável, a linha do governo muda mas quem sabe lidar com a máquina e sabe a história dos poderes continua", notou Tarcísio.