Sob um coro de críticas, IL diz que voltaria a fazer o arraial de sábado
Sob um coro de críticas devido ao arraial que promoveu no sábado à noite no largo de Santos, em Lisboa, a Iniciativa Liberal (IL) diz que voltaria a repetir o evento nos mesmo termos. "Provavelmente teríamos explicado melhor antes, mas também não sei se adiantaria muito", diz ao DN o deputado e líder do partido, João Cotrim Figueiredo, atribuindo as críticas mais a razões partidárias que de substância.
No último sábado, a IL juntou centenas de pessoas num comício-arraial em Lisboa, com as imagens a mostrarem muitos dos participantes sem máscara nem distanciamento e a consumir bebidas. Um evento em contraste com o que sucedia no resto da cidade, sem sombra de festejos dos santos populares - que foram proibidos - e com a polícia a prometer fiscalização apertada a eventuais ajuntamentos.
Para Cotrim Figueiredo, as muitas críticas que se abateram sobre o partido são uma indignação "construída" e, na verdade, uma "forma de elogio à Iniciativa Liberal" - "Dá-nos a noção de que estamos a incomodar algumas pessoas, e daí estas críticas mais ou menos sem fundamento". O líder da IL lembra que o parecer da Direção-Geral de Saúde - desfavorável a qualquer atividade que não o comício - é uma "recomendação e não uma imposição", que chegou às mãos da IL às oito da noite de sexta-feira, e que o partido implementou o que era possível, "no espaçamento das mesas, na existência de álcool gel, na distribuição de panfletos com as recomendações sanitárias". Diz também que o recinto foi delimitado precisamente para que as pessoas não ficassem a consumir bebidas no espaço público - a simples delimitação do espaço "legalizou" o que, fora daquele perímetro, seria um ato ilegal.
As críticas à iniciativa da IL atravessam todo o quadrante partidário, da direita à esquerda. Ontem, foi a vez do PCP - visado pela IL quando avançou com a Festa do Avante!, em setembro de 2020 - vir dizer que o arraial da IL é fruto da vontade de protagonismo do partido. "A ânsia de palco, a ânsia de apresentar qualquer coisa na espuma dos dias, naturalmente, depois leva a que muitos mordam a língua. Quantas barbaridades não foram ditas" para depois acabar num "exemplo pior", apontou Jerónimo de Sousa.
No espetro político oposto, Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, acusou a Iniciativa Liberal de ter uma postura negacionista da pandemia. "Parece-me que o liberalismo da IL rima com negacionismo e que, contrariamente àquilo que julgávamos, a IL e o PCP têm muito mais em comum do que poderíamos supor à primeira vista", criticou o líder centrista, que disse condenar "veementemente que se simulem atos políticos para furar as regras de saúde porque isso é um péssimo sinal que se dá aos portugueses e que envergonha a todos".
Logo no domingo, Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, tinha acusado a IL de ter feito uma "utilização alterada" da lei que permite aos partidos promover eventos políticos sem necessidade de qualquer autorização. No mesmo dia, Rui Rio veio também a terreiro criticar o arraial do partido. "Como é possível a IL ter criticado o PCP e agora ainda fazer pior do que os comunistas? ", escreveu o presidente do PSD na rede social twitter.
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Às críticas dos líderes políticos somam-se muitos comentários negativos nas redes sociais, invocando sobretudo os números da pandemia na região de Lisboa e Vale do Tejo.
Cotrim Figueiredo rejeita que haja uma incongruência entre o arraial de sábado e as críticas que a IL fez ao PCP devido à Festa do Avante!. "O que criticámos foi a dualidade de critérios. Os partidos políticos, no caso o PCP, podiam fazer uma reunião com várias centenas de pessoas, os portugueses normais não podiam reunir, nem sequer podiam passear à beira mar de mão dada porque isso não era permitido", defende. E não foi exatamente o mesmo que fez a IL? Cotrim Figueiredo diz que não: a IL usou "uma prerrogativa do partido para abrir uma celebração a todos. Podia aparecer quem quisesse, era aberto a todos o que quisessem, só tinham que registar-se à entrada, não tinham que pagar bilhete".
"Quer do ponto de vista sanitário, quer do ponto de vista político", as duas iniciativas não têm comparação, argumenta: "As circunstâncias são diferentes. Entre setembro de 2020 e junho de 2021 não passaram só nove meses, passou muita coisa. Não estamos à entrada do Inverno, estamos à entrada do Verão, não estamos com zero por cento da população vacinada, estamos com 43%". "Os virologistas dizem-nos que o risco desta pandemia, nomeadamente o risco de morbilidade e outros, estão muitíssimo mitigados", argumenta Cotrim Figueiredo - "Temos que deixar de ter medo do vírus". "Se tivéssemos feito outra coisa e tivéssemos ido para a rua fazer três discursos, não tínhamos provado nada. Assim provámos que era possível viver numa cidade onde o medo não ganha sempre à liberdade e que podemos voltar a vida com a normalidade possível", defende o líder da Iniciativa Liberal.
Já quanto a um jogo de setas que, numa das bancas do arraial, tinha como alvos a cara de adversários políticos, num dos casos um manequim com uma t-shirt de Che Guevara onde foi colada uma imagem do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, Cotrim Figueiredo diz que isso foi retirado e que nem merece comentário que o jogo possa ser entendido como uma apologia da violência.
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