Os Skunk Anansie cumprem neste ano um quarto de século e começam já nesta sexta-feira a celebrar o aniversário redondo com a edição do primeiro disco ao vivo da carreira, 25LIVE@25..Quando surgiram, em 1994, eram uma espécie de carta fora do baralho, num mercado que vivia então o auge da britpop. E um grupo rock com uma vocalista negra - ou seja, duplamente estranha para os cânones vigentes - não parecia propriamente o melhor caminho para o sucesso..Mas como sempre a música falou mais alto e, quase de um momento para outro, à boleia de êxitos como Charity, Weak, Hedonism, Charlie Big Potato, Lately ou You'll Follow Me Down, os Skunk Anansie tornaram-se uma das bandas de maior sucesso do Reino Unido, com mais de cinco milhões de discos vendidos até 2001, quando se separaram, regressando ao ativo dez anos depois, com uma digressão que teve início em Portugal.."Gostamos de iniciar as nossas digressões aqui, devido à energia do público", confessou ao DN a vocalista Skin, 51 anos, numa conversa a meias com o guitarrista Ace, também 51. Desde então editaram mais três álbuns de originais, que se juntam a outros tantos gravados nos anos 1990, todos eles agora recordados em 25LIVE@25. Ao todo, são 26 temas escolhidos para este disco duplo, que os fãs portugueses poderão ouvir novamente ao vivo no festival de Vilar de Mouros deste ano, onde a banda já atuou em 2000, regressando agora como cabeça-de-cartaz..O que é que veem ao olhar para trás do alto destes 25 anos como banda?.Ace: Para ser honesto acho que não olhamos assim tanto para trás. Acho que esta foi a primeira vez que nos virámos mesmo para o passado, porque para fazermos este disco tivemos de mergulhar nos nossos arquivos e ouvir uma série de gravações ao vivo, algumas bastante antigas, para selecionar os temas. Se calhar devíamos fazer esse exercício mais vezes, mas a verdade é que, como banda, vivemos muito mais o agora..E qual foi a sensação, de mergulhar nesse passado?.Ace: Foi muito boa, porque há coisas que merecem mesmo ser celebradas na vida, como o facto de uma banda fazer 25 anos. Conheço pessoas que não queriam festejar o aniversário quando fizeram 50 anos e eu disse-lhes sempre para o fazerem com uma grande festa, porque é algo que só acontece uma vez na vida. É um marco, tal como o é para os Skunk Anansie este quarto de século. Ainda no outro dia estava a ver na televisão que os Black Eyed Peas fazem 20 anos e fiquei impressionado, mas depois lembrei-me de que nós somos ainda mais antigos do que eles [risos]..Porque é que decidiram festejar os 25 anos com um álbum ao vivo?.Skin: Porque nunca tínhamos feito nenhum antes e pareceu-nos uma boa maneira de celebrar esse aniversário, com algo inédito. E para os Skunk Anansie, que são claramente uma banda de palco, era algo que nos faltava. Se não fosse agora possivelmente nunca mais o faríamos..Como é que escolheram os temas? É um só concerto ou são fragmentos de várias atuações da banda ao longo dos anos?.Skin: É um único concerto, gravado na Polónia, mas tem também outros cinco temas, que não tocámos nessa noite, mas sentimos ser importante estarem presentes no disco e que fomos buscar ao nosso arquivo. No total são 21 canções de um único espetáculo..Ace: Inicialmente até pensámos em fazer isso, de escolhermos diversos momentos ao vivo destes 25 anos, mas depois apercebi-me de que o resultado não ia ser homogéneo. Há concertos melhores do que outros, a energia do público nem sempre é a mesma e é muito diferente tocar num grande festival ao ar livre ou num pequeno clube. E se tínhamos quase tudo o que pretendíamos num único concerto, porquê complicar mais? Depois foi só encontrar as canções em falta, tendo apenas como único critério a vibração do público, que tinha de ser idêntica..Passados 25 anos sentem que o público ainda vibra como antigamente?.Skin: Sim, e basta ver o exemplo do público português, que nos recebe sempre muito bem, mesmo passados todos estes anos. Aliás, a energia nos concertos em Portugal é tão especial e positiva que normalmente iniciamos sempre aqui as nossas digressões. É um público muito autêntico e positivo..Vão ser um dos cabeças-de-cartaz do festival de Vilar de Mouros, em agosto. O que podem esperar os fãs portugueses desse concerto?.Skin: Vai ser um momento um pouco nostálgico, de certa forma, porque vamos celebrar os 25 anos e temos de recordar algumas músicas mais antigas, mas como isso acaba por ser um bocadinho aborrecido para nós [risos], vamos também tocar lá pelo meio umas músicas novas, algumas delas que nunca antes apresentámos. Portanto, não esperem apenas um desfilar de êxitos antigos, aborrecido e nostálgico [risos]..Já estão, portanto, a trabalhar num novo disco de originais?.Skin: Sim, já temos algumas novas canções e espero que tenhamos ainda mais em agosto, quando viermos tocar a Portugal..Ainda vive em Ibiza, Skin?.Skin: Ainda lá tenho uma casa, mas já não passo lá tanto tempo como antigamente. Estou a morar em Londres, mas continuo a adorar Ibiza..Como é que uma cidadã britânica que viveu tanto tempo em Espanha vê a questão do Brexit?.Skin: Vai ser um desastre, que vai transformar Inglaterra num atraso de vida. Por exemplo, se os Skank Anansie estão vivos e continuam a ter sucesso, isso deve-se sobretudo ao apoio do público europeu, e nós não somos a única banda inglesa a quem isso aconteceu. Em termos musicais vai ser devastador, porque pode vir a tornar-se muito complicado para os novos artistas tocarem na Europa, com toda a burocracia que vai passar a existir. Por outro lado, o público europeu também corre o risco de deixar de ter tanto acesso às novas bandas inglesas. E não sabemos o que vai acontecer porque, passados dois anos, continua a não haver o raio de um acordo. Não digo que tudo estivesse perfeito, mas isto é como uma relação amorosa em que, após alguns anos, percebemos que não gostamos de uma ou outra coisa na pessoa em questão, mas também que a nossa vida seria muito pior sem ela. E o que há a fazer é trabalhar essas questões para seguir em frente e não terminar a relação de forma abrupta..Qual pode ser a solução para este impasse, na sua opinião?.Skin: Não sei... A sensação que me dá é que esta é uma daquelas situações em que, por muito que se tente, aparece sempre mais um obstáculo e outro e mais um. É quase como se o universo nos estivesse a dizer que não devíamos estar a fazer isto. E a Inglaterra não devia estar a fazer o Brexit, porque no final vai transformar-se apenas num país fraco, solitário e parado no tempo. Dez por cento da nossa riqueza já saiu do país e dentro de poucos anos sairá muita mais. E depois há também o facto de começarem a vir muitos menos imigrantes, e nós precisamos deles, enquanto país, não só em termos económicos mas especialmente culturais. Os imigrantes trazem com eles tantas coisas que nós não temos, mas ninguém pensa nisso, o que me irrita ainda mais, porque torna o Brexit um bocadinho racista. Imaginem um Reino Unido sem portugueses, espanhóis, japoneses, paquistaneses ou africanos; seria um local horrível para se viver. Eu quero pertencer a um país diverso e multicultural, não quero viver num sítio só cheio de ingleses, sem sotaques diferentes e a comer sempre a mesma coisa. As pessoas não percebem que se, por absurdo, os imigrantes abandonassem todos a Inglaterra num dia, o país não durava mais do que um mês..E o que pode fazer um artista para inverter essa situação?.Skin: Usar a voz para falar nisso, para expor os problemas. E acima de tudo escolher sempre o lado mais justo, daqueles que lutam para fazer o que está correto. Portanto, e para responder claramente à pergunta: o Brexit vai ser só um absoluto e horroroso desastre para todos..E o Ace, o que pensa disto?.Skin: Ele concorda comigo..Ace: Sim, concordo em absoluto com tudo [risos]..Quando começaram a tocar, nos anos 1990, era uma das poucas vocalistas femininas do rock. Acha que ajudou, por isso, a acabar com alguns preconceitos?.Skin: Claro que sim e vejo com muita alegria que há cada vez mais mulheres a abordar a música sob toda uma nova perspetiva, mais moderna e feminina. Para mim, na altura, era realmente deprimente, porque havia toda uma cultura masculina, não só no rock alternativo como até na britpop, que deixava as mulheres num papel muito secundário e decorativo. Felizmente as coisas mudaram e as mulheres são, também, cada vez mais protagonistas. Há imensas bandas e artistas a fazerem coisas muito interessantes, especialmente na pop, porque o rock está a envelhecer e já não consegue atrair tanto os jovens, como antigamente..Acham que o rock corre mesmo o risco de morrer, como tantas vezes se ouve por aí?.Skin: Não creio que vá acabar, mas vai mudar bastante. A maior parte dos miúdos que hoje fazem música não têm nada que ver com o rock, mas eventualmente ainda há muitos que gostariam de pertencer a uma banda, porque ainda é cool..Ace: O rock ainda vai voltar a estar na moda, mas se calhar só daqui a 20 anos. São assim os ciclos na música, não é? Quando éramos miúdos as nossas referências eram os Led Zeppelin ou os Black Sabbath, que também já tinham deixado de tocar há bastantes anos. Quem sabe se, no futuro, os Skunk Anansie não serão também os Led Zeppelin ou os Black Sabbath de algum míudo?.Skin: Até creio que já somos, porque nunca houve muitas bandas a tocar como nós..Já têm esse retorno por parte dos fãs?.Ace: Confesso que acho sempre muito estranho quando alguém me diz o quanto a nossa música é ou foi importante. Ainda no outro dia isso me aconteceu, num supermercado, e só pensei que é realmente uma sorte podermos passar por isso. Quer dizer, estou ali numa situação perfeitamente normal do dia-a-dia e, de repente, sou elevado ao estatuto de lenda do rock and roll [risos] enquanto espero a minha vez de pagar a conta..Skin: Isso acontece-me quase todos os dias, quase sempre com mulheres, que dizem ter começado a cantar ou a tocar por minha causa. E de facto somos essas lendas. Temos 25 anos de carreira e já fizemos coisas realmente únicas. Não há mais nenhuns Skunk Anansie do planeta, somos apenas nós. Portanto tenho de aceitar esse estatuto, desde que isso não nos transforme numa banda patética e nostálgica, a viver apenas do passado, porque a nossa história, garanto, não se vai ficar por aqui.