O anúncio da fusão entre a Fiat Chrysler Automobiles e a PSA Peugeot traz uma outra notícia, esta a que estão mais atentos os emigrantes em França. O líder da nova empresa é um português, que soma no currículo a gestão de grandes multinacionais e é conhecido como o "senhor automóvel". Era o CEO da PSA..Carlos Tavares é natural de Estarreja e formou-se em França, em Engenharia, na École Centrale de Paris. Em 1981, ingressa na Renault, mais tarde lidera o projeto da segunda geração dos modelos Megane e Scénic, e nunca mais parou..Em 2004, a Nissan convida-o para fazer parte dos seus quadros, passa a vice-presidente do grupo cinco anos depois. Mudou-se depois para a Peugeot, sendo-lhe reconhecido o mérito de dar uma nova vida a este fabricante automóvel..Nesta quarta-feira, foi anunciada a fusão entre a Peugeot (PSA) e a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e que cria o quarto maior fabricante mundial de automóveis. E há quem atribua os créditos a Carlos Tavares..É um orgulho para a comunidade francesa, a juntar um nome a muitos outros portugueses e lusodescendentes..Sanches Ruivo, natural de Alcains, é conselheiro para a Europa na Câmara de Paris, cidade para onde emigrou com os pais em 1971, tinha 7 anos vividos. A frase do pai, quando decidiu emigrar, não lhe sai da cabeça, já descontente com a política do país. "Tens de ir para um país onde não precises de ter cunhas.".O pai era responsável comercial de um fabricante de pneus e foi à frente, encontrando emprego em jardins e nas limpezas, transitou depois para uma grande superfície, onde sempre trabalhou. A mãe e os dois filhos foram mais tarde, deixou as funções de precetora para trabalhar para uma fábrica, onde se manteve até ao fim da vida profissional. Insistentes nos estudos, a forma que defendiam melhor levar ao sucesso..Franco-portugueses/lusodescendentes.Sanches Ruivo tirou Direito Internacional, esteve sempre ligado aos assuntos europeus, algumas vezes a trabalhar diretamente com Portugal, tem tido também uma vida de ativista. Faz questão de sublinhar que não precisou de se inscrever num partido para entrar na política, entrou como independente em 2008, pelas mãos de Bertrand Delanoë, manteve-se com Anne Hidalgo, sempre nas listas do PS, os últimos presidentes da Câmara de Paris. Em março de 2020, voltam a concorrer..Tem a dupla nacionalidade desde 1979, processo que o pai entregou logo a seguir ao anúncio de que iriam limitar o ingresso de estrangeiros nas universidades, não queria que os filhos fossem tratados de forma desigual. Gostava de ver mais portugueses e de outras nacionalidades na política ao mais alto nível. "Ainda há dias, num encontro com pessoas que adquiriram a nacionalidade francesa, a Anne sublinhou 'sou franco-espanhola e o Sanches Ruivo é franco-português', mas a verdade é que somos só os dois.".Foi um dos fundadores da Cap Magellan, que se apresenta com a frase "Agitateur Lusophone depuis 1991" (agitador lusófono desde 1991). Não era mais uma associação de folclore e de convívios.."Foi o motor, respondia à necessidade de acabar os estereótipos, a Cap Magellin foi a forma de 'segurar o micro', fazermo-nos ouvir, dar voz à realidade dos lusodescendentes, palavra que começou a ser mais ouvida desde essa altura", recorda Sanches Ruivo..Levaram a Paris os grupos musicais que davam os primeiros passos em Portugal, promoveram atividades culturais bem diferentes do que os portugueses estavam habituados. A nova geração de portugueses percebeu que havia mais Portugal, também os franceses.."Costumo dizer que a Cap Magellin é o barómetro da evolução da comunidade portuguesa em França, se acabasse seria mau sinal, se surgissem novas associações, era sinal de que as novas gerações estão a fazer coisas, e isso aconteceu. Continua a haver muitas portugueses na construção civil, pedreiros e porteiras, mas também vieram quadros superiores nesta nova vaga de emigrantes, ao mesmo tempo que muitos lusodescendentes foram trabalhar em empresas francesas em Portugal.".Isso não mudou só a imagem dos portugueses em França, como dos próprios franceses. Também em Portugal, ainda assim, não tanto como gostaria. "Lembro-me de que, quando realizávamos concertos, fóruns, etc., continuávamos a ser os "avecs", não percebiam que tínhamos evoluído. Agora já perceberam, mas se calhar dão mais importância a quem tem estudos do que a quem criou pequenas e médias empresas e são grandes empresários.". É o caso de Mapril Batista, de quem se diz ser o maior empresário português em França, também lhe chamam o "rei das ambulâncias". Ele desvaloriza o título, não entra em valores de faturação, apenas diz que detém 56% do fabrico de ambulâncias em França..Nasceu no Bombarral há 63 anos, emigrou com os pais aos 6. Não concluiu o ensino secundário, começou a trabalhar aos 18, como condutor de ambulâncias. Um dia pediu um aumento ao patrão, ele disse que não lhe podia pagar mais. Mapril propôs-lhe uma forma de aumentar o negócio, que foi desconsiderada de início mas aceite meses depois: "O patrão multiplicou o negócio por quatro e eu dupliquei o ordenado", conta..Entretanto, foi fazendo formação na sua área profissional, até que decidiu trabalhar por conta própria e comprou uma ambulância, em 1967. Multiplicou as empresas, "era mais fácil ter várias pequenas empresas do que uma grande empresa, podia fechar uma ou outra se corresse mal", conta. Não aconteceu. No início de 1990, tinha a exclusividade dos hospitais da área metropolitana de Paris e 400 empregados..Entendeu que as ambulâncias tinham falta de qualidade e começou a construir as suas próprias ambulâncias, vendendo primeiro na região de Paris, em 1998, começou a vender a nível nacional. Hoje, fabrica as ambulâncias em Cacia (Aveiro), também em França, e vende para todo o mundo. Tem 175 empregados, distribuídos pela Les Dauphins (França) e Cap Sud (Portugal)."Hoje, as maiores empresas francesas são dirigidas por portugueses. São de portugueses que criaram as suas empresas e as desenvolveram, essas empresas são francesas e estão entre as melhores", assegura Mapril Batista..A Gaiola Dourada. Realidades de uma emigração retratadas em A Gaiola Dourada , em 2013, o filme de sucesso de Ruben Alves, que mais não fez do que retratar o que se passava em casa, com uma doce ironia. Recebeu vários prémios, incluindo o mais visto pelo público, isto em 2013. É, também ator e argumentista..É a família da porteira que retrata, no fundo a sua família, de uma infância em que, reconhece, chegou a ter vergonha de dizer que os pais eram portugueses. Quando compreendeu verdadeiramente as suas origens, passou a afirmar-se orgulhosamente, também, português..Ruben Alves nasceu em Paris, faz 40 anos a 9 de janeiro, sempre teve uma ligação a Portugal, com memórias de infância ligadas sobretudo às férias de verão, no norte, já que o pai é natural de Guimarães, também na Costa de Caparica. Tem casa em Lisboa..Apresentou em 2017 o documentário As Vozes do Fado com Christophe Fonseca, outro lusodescendente..Pascal Teixeira da Silva é um diplomata lusodescendente e foi embaixador da França em Portugal, entre 2010 e 2013. Fez questão de trazer um cravo para a sua casa de Lisboa..Os avós paternos emigraram para França depois da I Guerra Mundial, com eles levaram os filhos pequenos, nomeadamente o pai de Teixeira da Silva. O avô trabalhava numa pedreira e ouviu dizer que havia escassez de mão-de-obra em França. Emigrou com os filhos, que tiveram uma vida completamente e são a prova da ascensão social na família..O diplomata nasceu em Bordéus há 62 anos, recorda as férias em Portugal, não põe de parte a hipótese de voltar, disse-o quando deixou de ser embaixador em Portugal. É o primeiro lusodescendente com este cargo, depois de ter ser embaixador na Áustria, foi nomeado para conselheiro para as migrações, funções que ocupa atualmente..Maria Pereira nasceu em Leiria, estudou em em Coimbra (Ciências Farmacêuticas) e em Boston. Vive em Paris e tem 33 anos. É a responsável da Gecko, uma startup criada para desenvolver a sua invenção, uma cola para reparar defeitos no coração de um bebé, que terá muitas outras utilizações na saúde (adesivo biodegradável)..Foi eleita em 2014 pela Forbes como uma das mais jovens promissoras a nível mundial. Chefia agora a Tissium, que se apresenta "como a próxima geração de polímeros sintéticos para reconstrução de tecidos"..Assegura que a sua causa é a investigação, mas não recusou o convite de Marcelo Rebelo de Sousa para ser sua mandatária para as eleições presidenciais, em 2015..Robert Pires é um lusodescendente, o único campeão mundial de futebol com sangue português, também ganhou o Campeonato Europeu com as cores francesas. Nasceu há 46 anos em Paris, filho de pai português e de mãe espanhola. Já se confessou simpatizante do Benfica, clube que o pai, Armando Pires, sonhava para ele..Esteve também no Euro 2004, em Portugal, jogou no Metz, no Marselha, no Arsenal, clube em que foi duas vezes campeão, no Villarreal, no Aston Villa, e, por fim, no Goa FC. Arrumou as chuteiras há quatro anos.