Seis dias com zero mortes na China. Casos podem ser quatro vezes o número oficial

País continua a registar um decréscimo no número de novos casos. Estudo da Universidade de Hong Kong diz que o país já mudou sete vezes a forma como define um infetado por covid-19.
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A China continua a manter a zero o número de novas mortes por covid-9 e pelo sexto dia consecutivo. Segundo dados oficiais, o país registou 10 novos casos de infeção pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, incluindo seis oriundos do exterior e quatro de contágio local. Trata-se de uma queda significativa face ao dia anterior, quando foram detetados trinta novos casos.

No entanto, os casos da doença no país podem ter sido quatro vezes o número oficial, segundo um estudo divulgado pelo The Guardian.

Os dados referentes ao novo coronavirus na China são difíceis de verificar e têm sido questionados por alguns observadores que sugerem que Pequim está a manter os números baixos para manter a sua narrativa de que a doença está controlada no país.

Segundo a Comissão de Saúde chinesa, três casos de contágio local foram detetados na província de Heilongjiang, no nordeste do país, onde se regista, desde a semana passada, um aumento de infeções causado por cidadãos chineses oriundos da Rússia.

O outro caso foi registado em Guangdong, província adjacente a Macau, no sudeste da China.

Até às 23:59 de quarta-feira (16:59 em Lisboa) não houve novas vítimas mortais e 56 pacientes receberam alta.

O número de infetados "ativos" no país fixou-se em 959, entre os quais 63 em estado grave.

As sete versões da China sobre como classificar um doente de covid-19

No entanto, segundo o estudo de cientistas da escola de saúde pública da Universidade de Hong Kong, e publicado na revista revista científica The Lancet, mais de 232.000 pessoas podem ter sido infetadas na China na primeira vaga da epidemia,. O número oficial avançado pelo governo chinês é de 55.000.

A comissão nacional de saúde da China publicou sete versões sobre a definição de "infetado com covid-19", entre 15 de janeiro e 3 de março, indica a investigação, e essas mudanças tiveram um "efeito substancial" no número de infeções consideradas casos positivos da doença.

O estudo de Hong Kong analisou dados até 20 de fevereiro da missão da Organização Mundial de Saúde em Wuhan, o epicentro do novo coronavírus. Cada uma das quatro primeiras alterações aumentou a proporção de casos detetados e registados entre 2,8 e 7,1 vezes, aponta a investigação.

"Se a quinta versão da definição de caso tivesse sido aplicada durante todo o surto, estimamos que até 20 de fevereiro de 2020, haveria 232.000 casos confirmados na China, em oposição aos 55.508 casos confirmados relatados", conclui o estudo.

À medida que o conhecimento científico e a capacidade laboratorial evoluíram, a definição de um caso confirmado foi ampliada para incluir casos com sintomas mais leves ou sem vínculos epidemiológicos com Wuhan ou outros casos conhecidos.

O estudo indica que estas mudanças devem ser levadas em consideração quando se observa a taxa de crescimento e o tempo de duplicação da epidemia.

Apesar de todas as críticas que enfrenta, a China está focada na contenção contínua - além de divulgar a mensagem de que a sua abordagem ao vírus foi um sucesso.

A revista médica Lancet, que publica o estudo da Universidade de Hong Kong, elogiou o país, considerando "impressionante" e "encorajador" o decréscimo de novos casos e a contagem nula de vítimas mortais.

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