"Se o segundo período letivo for igual ao primeiro, já é muito bom"
Terminado o primeiro período do ano letivo 2020-2021, os primeiros três meses com aulas presenciais em contexto de pandemia, a "avaliação é muito positiva". Quem o diz é Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, que espera que o segundo período mantenha o mesmo rumo: "Tomara eu que no segundo período suceda o mesmo, se for igual ao primeiro já é muito bom."
A avaliação resulta de um único facto que, por si, garante a nota positiva: "No início do ano letivo muitos diziam que as escolas iriam fechar daí a um mês, mês e meio. Isso não aconteceu. Houve alunos confinados, turmas confinadas, isso era previsível, mas as aprendizagens realizaram-se no espaço que é o seu por excelência, o espaço físico da escola, do qual os nossos alunos estiveram ausentes meio ano, de março a setembro, e de que já tinham saudades."
Quanto ao regresso dos alunos após as férias, Filinto Lima defende que essa avaliação deve ser feita não agora, mas daqui a duas semanas, mais perto de 4 de janeiro, a data marcada para o reinício das aulas.
"O primeiro-ministro disse que não ia mexer no calendário escolar, referindo-se nitidamente ao segundo período, mas acho que isso é um pouco prematuro. Estamos ainda muito distantes, até lá muita água vai correr, não sabemos se os números vão melhorar, se vão piorar. Acho que se deve fazer uma reavaliação mais próxima, com os novos números, e a Direção-Geral da Saúde tomar então uma decisão, diz Filinto Lima. Na última sexta-feira, a Federação Nacional da Educação propôs adiar pelo menos uma semana o arranque do segundo período, para evitar um aumento do número de casos de covid-19 nas escolas, em face da previsível subida do número de contágios após a quadra festiva.
Já sobre a recuperação das matérias do final do último ano letivo, feitas em ensino à distância, Filinto Lima diz que esta avaliação deve ser feita não agora, mas no final do ano. "O ministro disse, no início do ano letivo, que as escolas iriam recuperar e consolidar as aprendizagens nas primeiras cinco semanas de aulas. Mas muitas não o fizeram. Estão a fazê-lo, e na minha opinião muito bem, ao longo do ano. Não tem de ser à pressão. Só no final do ano é que podemos tirar uma conclusão mais geral, mais precisa."
Mas se os últimos meses correram bem, isso não significa que estejam afastados os grandes problemas da educação, a começar por aquele que Filinto Lima põe no topo da lista. "Temo que a próxima pandemia seja a da escassez de professores no ensino nacional", que é o que acontecerá se não houver "medidas assertivas" para travar o crescente decréscimo de interessados em ingressar na profissão. Um problema a que se soma o do envelhecimento do quadro docente. "Nesta década, 58% dos atuais professores efetivos, dos quadros, vão aposentar-se. Pergunto: onde é que estão os professores que os irão substituir?"
O também diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Costa Matos, em Vila Nova de Gaia, lembra que "no próximo ano vamos ter um concurso de professores". "Gostaria que houvesse uma vinculação extraordinária de professores contratados, que estão no sistema há muitos anos - há 10, 15, 20 anos - perfeitamente habilitados, muito experientes, mas a que o sistema educativo dá um pontapé no dia 31 de agosto. [...] Manda-os para o desemprego para depois os ir buscar passados dez dias. Estes professores vão para outras áreas, é preciso agarrá-los."
Filinto Lima diz que "não se está a fazer rigorosamente nada" para resolver o problema, o que se está a fazer "de há uns anos a esta parte é tapar buracos, não é atacar o problema, que é um problema estrutural" e que "exige um comprometimento muito sério de todos os partidos políticos". Mas as pessoas "não ligam muito, gostam mais das questiúnculas políticas", lamenta.
Problema mais imediato é o dos professores que recusam colocação e que, segundo disse na sexta-feira o ministro da Educação, tem vindo a aumentar - "mais professores recusaram colocação", referiu Tiago Brandão Rodrigues. Filinto Lima tem uma explicação para isso: "Muitos professores são colocados longe das suas casas, por exemplo em Lisboa - e no Algarve, que também tem um problema terrível de professores -, onde alugar um quarto é caríssimo, não dá para o dinheiro que um professor ganha. Os professores ganham o lugar, mas depois recusam-no, e isso dificulta em muito a vida das escolas."
Na sexta-feira, o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, fez um balanço positivo do primeiro período, mas defendeu que é preciso continuar o esforço que os alunos têm feito até ao momento.
"O balanço é extremamente positivo. Quero agradecer todo o trabalho feito pelos diretores das escolas, pelas comunidades educativas, pelos docentes e não docentes. Um trabalho incansável de articulação com as famílias, as autarquias, que foram inexcedíveis, e com todos dos serviços do Ministério da Educação", afirmou o ministro à margem de uma visita às obras de requalificação da Escola Básica e Secundária Sidónio Pais, no concelho de Caminha, distrito de Viana do Castelo.
Para Tiago Brandão Rodrigues, a forma como decorreu o primeiro período escolar demonstrou que o regresso do ensino presencial "é uma aposta ganha". "Temos de continuar a trabalhar para continuarmos a ter este ano letivo, num ano de pandemia, com a normalidade possível", sublinhou.
Questionado sobre se no regresso às aulas após as férias de Natal o Governo vai testar os alunos, como acontecerá noutros países, Tiago Brandão Rodrigues respondeu que "as autoridades de saúde têm trabalhado muito de perto com as escolas para garantir que os estabelecimentos de ensino são lugares seguros".
"É nesse sentido que continuaremos a trabalhar. A agilizar toda a articulação entre as autoridades escolares e de saúde para que sempre que existam casos suspeitos ou positivos a resposta seja o mais célere possível. Assim continuaremos a fazer", referiu.
Sobre a pausa letiva que hoje começa, o ministro da Educação apelou para que todos façam um esforço para "mitigar os efeitos da covid-19". "Sabemos que esta altura, do Natal, pode eventualmente ser um período de grande provação, sabemos que as pessoas querem estar com as suas famílias. O senhor primeiro-ministro já o disse, mas eu faço também um apelo para que as famílias que têm crianças em escolas, que sabem que os seus educandos nas escolas tinham um conjunto de regras, que as mantenham durante este período de descanso", pediu.
com Lusa