Ryan Reynolds e Samuel L. Jackson - sem pachorra para estarem cansados
As más línguas dizem que Samuel L. Jackson e Ryan Reynolds quiseram fazer O Guarda-Costas e a Mulher do Assassino para ter umas férias pagas em Itália. Mesmo dando de desconto que O Guarda-Costas e o Assassino, êxito colossal em 2017, era daqueles casos que não pedia sequela, há algo que tem que ser dito em prole dos atores: são 23h00 de uma noite fresquinha em Trieste e antes de uma cena de perseguição e de tiros os dois juntam-se para falar com o DN em exclusivo. Se isto são férias...
Estávamos em 2019 e tudo parecia correr bem no plateau da bela cidade italiana. Samuel L. Jackson, sempre sorridente e amparado pela entourage de agentes e assistentes, e Ryan Reynolds com o fato esburacada e ensanguentado que exibe durante todo o filme, são o assassino contratado e o guarda-costas que nesta sequela protege sobretudo a fora-da-lei Sonia, a mulher do assassino. Estão com vontade de falar mas não escondem a coça que estão a levar nesta história que os obriga a fugir da máfia mexicana e sobretudo do exército privado de um sociopata grego (interpretado com panache por Antonio Banderas). Disparos, arranhões, socos, mergulhos e estilhaços - tudo lhes acontece.
"Nesta altura não quero fazer explodir mais nada, não quero aborrecer os meus maravilhosos amigos europeus. Estamos aqui em Trieste e também na Croácia apanhámos com décors espectaculares! Uma das coisas boas deste trabalho é poder andar por estes sítios lindos... Aliás, faço de conta que isto é trabalho. Por outro lado, estou neste filme sempre com uma maquilhagem que mostra que fiz sexo com um aparador de relva!", começa por revelar Ryan, senhor de um dos cachets mais elevados de Hollywood devido à saga Deadpool. Dado o adiantado da hora, insistimos: cansados? "Cansados!? Tenho é sorte de estar aqui ao lado do Samuel L. Jackson! É o melhor a fazer isto! Não temos de fazer nada, basta aparecer, olhamos um para o outro e já está. É algo que parece convocar uma linguagem própria. Isso já acontecia no primeiro filme", defende Ryan, enquanto Samuel L. Jackson vai mais longe: "Se no plano de produção dizia filmagem até às 2, 3 da manhã, então já estava planeado e sabíamos que iria ser assim. Um gajo não se pode queixar!".
A propósito de queixas, Sam lembra-se que é raro darem-lhe argumentos onde pode beijar mulheres. Estes dois Guarda-Costas e o Assassino são realmente exceções: "Não sei a razão, mas ninguém aposta que é boa ideia o Sam beijar raparigas no grande ecrã!! Não sei a razão, se calhar o que acontece é que há atores que sabem beijar melhor do que eu. Sei que faço melhor outras coisas!".
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A certa altura perguntamos a Ryan se o seu humor é o mesmo que reflete o nonsense de personagens como Deadpool ou mesmo este guarda-costas com inseguranças psicológicas e a resposta não se faz esperar: "não sei bem, mas adoro atirar-me ao absurdo. Neste mundo em que vivemos encontrar filmes com esse tipo de humor é uma boa maneira de escape. Pessoalmente, sou mesmo fã daquele humor mais absurdo. Cresci com isso e adoro rir de mim próprio. Claro que não estou à espera de ser Hamlet e tenho a certeza de que ninguém me vai oferecer esse papel. Não me posso queixar: adoro o que faço e é uma sorte poder saltar de género para género. Sinto-me muito confortável nesta diversidade, desde que comecei que é assim". Ryan, que esta temporada ainda vai ser visto em Free Guy, aposta forte da Disney, confessa também que muito do que vemos da sua personagem tem mesmo o seu dedo: "O humor daquele tipo surge-me de forma muito espontânea. Aqui, neste caso, foi criar um laço de amor entre estas três personagens. Com o Sam isso já acontecia e agora a Salma Hayek ficou com uma fatia forte do filme, ela é o centro de tudo. Trata-se da arma secreta do filme!
Para Samuel L. Jackson, 72 anos, fazer filmes de ação e estar sempre em movimento, é algo que surge de forma natural, orgânica. Um ator sem idade, literalmente. Segredos? "Não sei, apenas faço exercício, estou em forma e mais nada! Quando chegar ao ponto em que já não consigo fazer certo tipo de coisas começarei a fazer um outro tipo de filmes". Em seguida, Ryan interrompe e salienta a outra face de Sam, a sua gentileza com ser humano: "A imprensa que aqui veio percebeu o quão humilde este homem é. Mas, por outro lado, há muita gente que se impressiona com o facto de não sermos monstros e até podermos ser boas pessoas. Devo dizer que nunca trabalhei com alguém assim mesmo bera. Posso não ter tido química com este ou com aquele, mas sempre vi profissionalismo. Quem está em Hollywood sabe a sorte de ter este trabalho e também sabe que 99% dos nossos colegas estão desempregados". "Mas agora que dizes isso já vi tipos que entram nos teus filmes que são umas bestas", provoca a brincar Sam. "Diz-me lá quem! Aqui este senhor português vai ter um exclusivo!", riposta Ryan. A brincadeira continua quando Sam fala das vezes que diz "motherfucker" nesta sequela: "já nem conto. Seja como for, passo o dia a dizer essa palavra". "O Livro Guiness poderia dar-te um recorde", atira Ryan. A resposta é imediata: "Esses motherfuckers"?! Na Croácia tentei aprender a dizer palavrões mas não há nenhuma palavra pronunciável".
Voltando ao filme, Ryan parece um cómico de stand-up quando diz em tom sério: "O Guarda-Costas e a Mulher do Assassino é uma história de amor. Uma linda história de amor. Todos os filmes são histórias de amor. O que me atraiu no argumento do primeiro filme foi a maneira como um assassino contratado tinha tanto amor pela Sonia... Um tipo que mata a sangue frio mas sabe o que é importante na vida, neste caso, o amor. Aquilo tocou-me, que charme!" Aqui, o tom sério inclui beicinho. "A Sonia desta vez está numa fase que quer uma vida com dinâmica familiar, coisa que a minha personagem não concebe pois está traumatizado. A Sonia quer mesmo ser mãe! E é uma mulher sem receios de expressar esse desejo", continua Samuel L. Jackson com aquela voz tão característica.
Minutos depois está a saltar para uma lancha numa praia escondida de Trieste madrugada fora. Samuel L. Jackson é património de Hollywood por alguma razão.
dnot@dn.pt