Rui Pinto: "Há ainda muita coisa que os portugueses merecem saber"

"Se dependesse da Polícia Judiciária e do Ministério Público português, estas informações [do Luanda Leaks] nunca viriam a público, nem as autoridades angolanas alguma vez seriam informadas da existência destes dados", lê-se na conta de Twitter do <em>hacker.</em>
Publicado a
Atualizado a

Rui Pinto publicou na madrugada desta quinta-feira um tweet dirigido aos portugueses onde assume estar na posse de mais informação confidencial. "Vistos Gold, ESCOM, BES Angola... há ainda muita coisa que os portugueses merecem saber", escreve o hacker na conta de Twitter criada em fevereiro de 2019, já o pirata informático estava em prisão domiciliária na Hungria.

"Acho que os cidadãos portugueses já perceberam que a minha prolongada e desproporcional prisão preventiva tem como objetivo primordial silenciar as minhas denúncias, e manter escândalos como o Luanda Leaks fechados a sete chaves. Se dependesse da Polícia Judiciária e do Ministério Público português, estas informações nunca viriam a público, nem as autoridades angolanas alguma vez seriam informadas da existência destes dados. Vistos Gold, ESCOM, BES Angola... há ainda muita coisa que os portugueses merecem saber", escreve Rui Pinto num tweet publicado às 6H00 da manhã desta quinta-feira.

O DN sabe que a conta de Rui Pinto está ligada ao Football Leaks, cujo autor é John - ou Rui Pinto. Foi criada após a detenção do homem que se assumiu como o autor das fugas de informação que o levaram à prisão. Detido desde dia 16 de janeiro, o hacker tem criticado a justiça portuguesa e esta quinta-feira voltou a fazê-lo.

Não é a primeira que o pirata informático publica tweets relacionados com o seu caso. O penúltimo data de 28 de janeiro de 2020 e é a publicação do comunicado onde os seus advogados assumem que Rui Pinto é a única fonte das fugas de informação que deram orifgem ao Luanda Leaks.

O tweet anterior a este foi publicado a 11 de dezembro de 2019 e é uma mensagem dirigida à Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.

A primeira publicação da conta de Twitter onde Rui Pinto se apresenta como o "whistleblower John from Football Leaks" data de 16 de fevereiro de 2019 e é um link para o site do consórcio de jornalistas internacionais ICIJ, onde poderão ser encontradas "todas as histórias já publicadas relacionadas com o Football Leaks".

Desde fevereiro de 2019 até esta quinta-feira já foram publicados 175 tweets.

Ao Diário de Notícias, a equipa de defesa em Portugal, presidida pelo advogado Francisco Teixeira da Mota, não quis fazer comentários sobre a conta de Twitter atribuída ao hackerousobre a forma como Rui Pinto poderá estar a publicar informação online estando detido.

Luanda Leaks ajuda à defesa de Rui Pinto?

A decisão de tornar público o papel de Rui Pinto na investigação que recebeu o nome Luanda Leaks é também estratégica para os advogados - William Bourdon está acompanhado de Francisco Teixeira da Mota no processo em Portugal - e visa também fortalecer a sua posição como "denunciante", estatuto que, até agora, lhe tem sido negado no processo que decorre em Portugal no âmbito dos Football Leaks.

Francisco Teixeira da Mota assumiu no início desta semana ao DN que a fuga de informação que deu origem ao Luanda Leaks será usada pela defesa, agora que a data do julgamento se aproxima. Os advogados têm criticado a sua prisão preventiva.

William Bourdon disse ao The New York Times (acesso pago) que Rui Pinto deve ser considerado um denunciante, mesmo não fazendo parte do mundo do futebol e mesmo tendo usado métodos ilegais. "Ele correu muitos riscos. Sofreu porque estava inspirado num sentimento de que estes dados precisavam de ser publicados para que se compreendesse todas as práticas corruptas e negras da comunidade do futebol", disse o advogado ao jornal americano.

"Não deixaremos de a invocar, falta saber se o tribunal a irá ter em consideração", diz o advogado, acrescentado que a altura em que a informação surge - a poucos dias de ser marcada a data do julgamento de Rui Pinto - é apenas fruto do tempo que os jornalistas do consórcio de investigação demoraram a investigar todos os documentos enviados pelo português. O DN sabe que um comunicado estava preparado mas foi adiantado devido às informações que saíram na semana passada.

O comunicado faz questão de dizer que "muitos meios de comunicação internacional consideram-no um denunciante". Mas no processo que decorre em Portugal, o Ministério Público (MP) não o poupou na acusação, pedindo ao tribunal que mantenha o hacker em prisão preventiva até ao julgamento - algo que, segundo os críticos da decisão, vai contra as regras internacionais de proteção de denunciantes, nomeadamente diretivas recentemente aprovadas no Parlamento Europeu.

Isto porque, segundo o Ministério Público, apesar de publicamente a sua defesa ter garantido que Rui Pinto estava disponível para colaborar com a investigação, nunca terá chegado a concretizá-lo.

Ainda nesta semana, depois da manchete do Público em que se dizia que alguns dos documentos encontrados no ICIJ eram coincidentes com o processo do caso do futebol português, a Direção da PJ negou que tivesse esse conhecimento, acentuando mais uma vez que Rui Pinto se recusava a dar acesso aos dados encriptados. Esta "falta de arrependimento", assinalou ao DN, num artigo publicado em setembro de 2019, uma fonte judicial que acompanha o inquérito, "só veio agravar a situação penal do arguido", que foi acusado de 147 crimes e vai responder por 90.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt