Ronaldo sócio vitalício do Nacional. Rui Alves explica como tudo aconteceu
Cristiano Ronaldo tornou-se sócio vitalício do Nacional. O internacional português é o sócio número 7140 do clube insular, de onde saiu para o Sporting em 1997. A entrega do cartão, com fotografia de quando tinha 12 anos, foi feita por Pedro Talhinhas, antigo treinador de CR7 na formação alvinegra. A ideia partiu de CR7. "Neste período de quarentena que o Cristiano passou na Madeira ele teve a oportunidade de estar mais próximo, física e emocionalmente, do clube onde também foi formado. Treinou no nosso estádio alguns dias, visitou o museu onde tem um espaço reservado só para ele e a passagem pelo Nacional, e aproximou-se um pouco mais, manifestando vontade de ser sócio vitalício do clube. Um desejo que nos deixou muito satisfeitos e que de imediato satisfizemos", contou ao DN o presidente do emblema insular, Rui Alves
A filiação do jogador da Juventus é "claramente" uma mais-valia para o clube, que o marketing dos insulares se encarregará de potenciar, mas para o líder insular "é muito mais do que isso". É algo que "prestigia o Nacional" e acrescenta "valor à história do clube". E "o melhor disto tudo é ver no Ronaldo a humildade e o reconhecimento" pela importância da passagem pelo clube: "Estamos a falar do melhor jogador do mundo, que podia muito bem ficar no seu pedestal, mas que mantém atitudes de caráter elevadíssimas. Estes casos dão-nos alguma vaidade e premeiam a nossa entrega à causa desportiva. Vivemos o clube de forma muito profunda."
O Nacional já tinha homenageado o capitão da seleção nacional dando o seu nome a um estádio na cidade desportiva, Estádio Cristiano Ronaldo Campus Futebol, e a um torneio internacional de futebol jovem do qual CR7 é patrono. Ronaldo foi ainda membro da Comissão de Honra do Centenário do Nacional, tendo em 2017 sido galardoado com o Condor de Ouro com Palma, que foi atribuído pelos sócios pela sua disponibilidade para as iniciativas do clube. Agora é sócio vitalício.
Ronaldo esteve 57 dias na Madeira. Chegou depois de ser decretada quarentena obrigatória em Itália, para visitar a mãe que tinha sofrido um AVC e foi ficando. Durante os dias em que esteve no Funchal, o jogador português mostrou as belezas da ilha e da vida em família através das redes sociais. Há quatro semanas pediu para treinar na Choupana. Já treinava em segredo no relvado do estádio, mas só foi apanhado no dia em que Rui Alves resolveu ir assistir ao treino. "Parece suspeito (risos). Não o quis fazer sentir incómodo e por isso só apareci um dia e fiquei logo na fotografia", brincou o líder dos insulares, explicando que ele às vezes ia de manhã, outras à tarde e "sempre bem-disposto" e "com uma energia positiva".
Trocou algumas palavras com o capitão da seleção nacional e ficou a saber que ele estava "feliz por estar na Madeira", "triste por não jogar futebol" e "ansioso pelo fim do confinamento". Tirando isso estava "ótimo", "numa forma incrível" e "notava-se, na forma como treinava, que estava com vontade de voltar a jogar."
O clube abriu-lhe as portas e rapidamente chegaram as criticas, uma vez que o desporto ao ar livre era limitado no Estado de Emergência entretanto decretado. "Foram cumpridas todas as regras sanitárias, no âmbito do que era permitido, segundo o decreto-lei do Estado de Emergência. Foi (e é) mais seguro treinar no nosso estádio do que correr na rua, que, por acaso era permitido", justificou Rui Alves, explicando que o treino de CR7 na Choupana serviu de teste ao regresso aos treinos da equipa. "Depois de vermos como era possível treinar com as devidas distâncias, o Nacional acabou por ser o primeiro clube a iniciar os treinos, após a suspensão do futebol (12 de março). Isso gerou críticas ao jogador e ao clube, mas a história mostra-nos que os primeiros e aqueles que rompem com o politicamente correto são sempre contestados. O Sporting e o Sporting de Braga também resolveram voltar ainda durante o Estado de Emergência e parece que nada de anormal se passou", argumentou o presidente, lembrando que a situação na Madeira sempre foi menos grave do que a evolução da pandemia no continente (ilha está há novo dias sem casos novos).
O presidente do clube é o mesmo que há 23 anos negociou o "Cris" com o Sporting e não podia estar mais "satisfeito pela ligação umbilical" entre clube e jogador: "Lembro-me de lhe colocar a faixa de campeão regional de infantis - o primeiro título da carreira de CR7 - antes de me dizerem que o Sporting estava interessado nele. Logo a seguir fui contactado e juntou-se o útil ao agradável. Na altura o Nacional tinha uma dívida de cerca de 30 mil euros (5 mil contos, na altura) de direitos de formação de um atleta (um central chamado Franco) com o Sporting e entendemos fazer um acerto de contas com a ida do Ronaldo para Lisboa. Foi assim que o negócio foi feito", recordou Rui Alves, no Nacional há 25 anos.
Agora "parece que foi vendido por pouco", mas na altura a realidade era outra. Ainda não havia a Lei Bosman, os direitos da formação não eram acautelados e os jogadores não valiam milhões como agora e ele tinha apenas 12 anos. "Quantos jogadores são verdadeiros génios aos 16 anos e aos 20 estão perdidos para o futebol?", questionou.
A passagem pelo clube foi fugaz, mas digna de registo. Ronaldo tem um cantinho no museu do clube, que fez questão de visitar durante a sua estada no Funchal. O jogador da Juventus assinou mesmo o livro de honra do emblema madeirense e lembrou que "é sempre bom estar de volta a casa." Uma declaração que enche de orgulho os alvinegros.
Uma coisa é certa. Na opinião de Rui Alves "se Ronaldo tivesse ficado na Madeira não seria o jogador e a pessoa que é hoje". Isto porque foram as dificuldades que o ele enfrentou, enquanto miúdo, na mudança para Alvalade, que o ajudaram a crescer desportiva e humanamente: "Ele teve confrontos consigo próprio e venceu-os, tornam-se um vencedor e uma imagem de superação. O Cris era um miúdo quando saiu daqui e agora é o melhor exemplo que há do trabalho da Academia do Nacional. É o orgulho do nosso clube, de todos nós. O melhor jogador de futebol da história nasceu na nossa pequena ilha."
Menos mal ele agora também jogo de preto e branco. Ver o português jogar com a camisola bianconera da Juventus faz o líder insular voltar no tempo. "Parece um regresso às origens e é sempre bom que as instituições desportivas tenham estas referências, que são fundamentais para potenciar o trabalho social de enorme relevância ao nível da formação. A motivação que estas referências trazem aos mais novos justifica o nosso trabalho ao nível da formação", confessou o presidente, lembrando que os miúdos querem "obviamente" jogar no clube onde o Ronaldo jogou. Seja no Andorinha, no Nacional ou no Sporting.
Cristiano Ronaldo voltou esta segunda-feira (4 de maio) a Turim, ao fim de 57 dias de quarentena na Madeira. Itália saiu do estado de emergência e o clube italiano pediu aos jogadores estrangeiros para regressarem. O que o português fez assim que possível. Estava previsto que viajasse no domingo, mas o avião particular esteve retido em Madrid à espera de autorização das autoridades portuguesas para aterrar e descolar no aeroporto Cristiano Ronaldo.
O jogador estava na ilha desde 9 de março, dia em que chegou ao Funchal para visitar a mãe, que tinha sofrido um AVC. Agora regressa a solo transalpino, na expectativa de ainda poder voltar a jogar futebol esta época. Apesar de a evolução da pandemia dar mostras de estar controlada, ainda morrem por dia quase 200 pessoas em Itália, e o governo está renitente ao regresso do futebol. Mesmo que o calcio não regresse, a vecchia signora ainda tem jogos da Liga dos Campeões para jogar, uma vez que a UEFA pretende terminar as provas europeias.
CR7 terá agora de cumpriu 14 dias de quarentena em Itália, antes de voltar aos treinos com a camisola da Juve. E poderá ter de fazer teste à covid-19. Segundo a imprensa italiana a Juventus - teve três jogadores infetados (Dybala, Rugani e Matuidi) - vai voltar a testar os jogadores antes do regresso aos treinos de grupo a 18 de maio.