Resposta ao ministro: Médicos de São José assinam carta a apoiar chefes
Os médicos das urgências de São José escreveram uma carta ao conselho de administração do hospital, em que dão total apoio aos chefes de equipa que apresentaram demissão em protesto contra a falta de condições do serviço. O documento, que já terá sido assinado por mais de meia centena de profissionais, serve também de resposta ao ministro da Saúde, que afirmou que o texto da semana passada tinha sido subscrito apenas "por dois ou três chefes de equipa".
No abaixo-assinado que está agora a circular, os médicos assistentes manifestam todo o apoio aos seus chefes e partilham das mesmas preocupações. "Como é do conhecimento público, os Chefes das Equipas de Urgência de Cirurgia e Medicina elaboraram um documento que reflete a situação grave em que se encontra o Serviço de Urgência do nosso Centro Hospitalar", pode ler-se no abaixo-assinado, a que o DN teve acesso. "Os médicos que compõem as equipas de urgência do Centro Hospitalar de Lisboa Central querem manifestar todo o apoio aos seus Chefes e partilhar as mesmas preocupações".
Na sexta-feira passada, 15 chefes de equipa de medicina interna e cirurgia geral do hospital de S. José apresentaram a demissão por considerarem que as condições da urgência não têm níveis de segurança aceitáveis. Na carta que contém os pedidos de demissão, os profissionais apontam para a consecutiva degradação da assistência médica prestada no serviço de urgência do S. José, considerando que se chegou a uma "situação de emergência", que impõe "um plano de catástrofe".
Agora, os membros das equipas vêm defender essa tomada de posição, ao argumentarem que "a liderança, para além dos aspetos de coordenação assistencial médica e de tomada de decisão clínica, implica a defesa da coesão das equipas, a manutenção de um elevado nível de qualidade nos cuidados prestados aos doentes, a segurança das condições de trabalho dos médicos, a conservação da capacidade de formação pré e pós graduada e a continuidade da uma tradição secular de excelência".
Profissionais de São José admitem ao DN que o abaixo-assinado é uma resposta às declarações do ministro da Saúde - "temos medo que o ministro não esteja a levar a sério os problemas do hospital" -, mas também uma tomada de posição dos assistentes, que não querem assumir a chefia dos serviços se as condições não forem melhoradas. "Não estamos a lutar por instalações mais bonitas, mas por mais contratações e melhores condições para prestar cuidados".
Os chefes de equipa demissionários denunciam, na carta entregue ao conselho de administração, que a assistência médica prestada na urgência polivalente do Centro Hospitalar de Lisboa Central "tem vindo a sofrer, ao longo dos últimos anos, uma degradação progressiva constatada por todos os profissionais" que lá trabalham. Consideram que a falta de pessoal não se verifica apenas nas equipas de medicina interna e de cirurgia geral, mas também noutras especialidades implicadas na assistência aos doentes que recorrem ao serviço de urgência. A situação motivou já uma visita por parte do bastonário da Ordem dos Médicos.
Na quarta-feira, em entrevista à agência Lusa, a presidente da administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central, Ana Escoval, garantiu que continua a ser seguro recorrer às urgências dos hospitais São José e Estefânia, elogiando o esforço e dedicação dos profissionais para manter o funcionamento dos serviços. Também esta semana, chefes de equipa da Maternidade Alfredo da Costa entregaram à administração um pedido de demissão.
Já o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, criticou no fim de semana o "empolamento sistemático de situações pontuais" no setor, que afirma estar a ocultar a realidade do país. Confrontado com a demissão de chefes de equipa do Hospital de São José, em Lisboa, Adalberto Campos Fernandes desvalorizou a situação, referindo que se trata de "dois ou três chefes de equipa que escreveram uma carta, que não se demitiram", estando confiante na resolução dos problemas apontados naquela unidade.
"O que é lamentável é que se faça um empolamento sistemático de situações pontuais, ocultando a realidade", frisou o ministro da Saúde, que falava aos jornalistas antes de participar num encontro com militantes e simpatizantes do PS em Coimbra, no âmbito da iniciativa "PS em Movimento".