Pelo quinto ano consecutivo os russos vão perder poder de compra, mas o presidente anuncia a entrada ao serviço de um novo sistema de mísseis intercontinentais hipersónicos. Vladimir Putin nunca fala das suas filhas, mas o Kremlin defende abertamente um dos herdeiros de um líder mundial (no caso, Mohammed bin Salman da Arábia Saudita). É esta a Rússia na viragem para 2019..No concerto das nações não se prevê que a Rússia melhore muito as suas relações com o Ocidente, apesar de Putin - ou exatamente por isso - querer reunir-se com Donald Trump. O capital de desconfiança da natureza da relação entre ambos acumula-se com o aprofundar da investigação do procurador especial Robert Mueller. Na questão ucraniana, não se antevê que a Crimeia vá ser restituída a Kiev, mas as eleições presidenciais de março na Ucrânia poderão trazer o degelo entre os dois países, caso Petro Poroshenko falhe a reeleição..Onde Moscovo joga cada vez mais um papel central é no Médio Oriente: os desafios para 2019 passam por conseguir um acordo mais lucrativo possível para a Síria, depois do investimento em armamento e em vidas. O anúncio da retirada norte-americana e o posicionamento das tropas turcas na fronteira - em ameaça aos curdos - podem determinar as próximas jogadas da impiedosa partida de xadrez russa, na qual aparenta ser aliado de arqui-inimigos como o Irão e a Arábia Saudita..No que respeita à economia, a Rússia vai voltar a sofrer sobressaltos e a inflação vai subir devido à combinação dos riscos de mais sanções, um rublo mais fraco e um aumento de impostos..O crescimento económico russo tem estado abaixo da média global nos últimos anos, o que se explica pela queda dos preços do petróleo, pelas sanções impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos em 2014 na sequência da anexação da Crimeia e também pelo comportamento da moeda, que os especialistas classificam de fraca e volátil..O produto interno bruto da Rússia cresceu 1,7% em 2018, quando a previsão do Banco Mundial era de 3,1%. A previsão para 2019 é de 1,4%. Se as sanções económicas se intensificarem o cenário pode piorar. O novo foco de tensão entre a Rússia e a Ucrânia devido ao apresamento, pela Marinha russa, de duas vedetas e de um rebocador da Marinha ucraniana, em novembro, levou a que se exigissem mais sanções contra Moscovo..Para já não foram tomadas novas medidas, mas as sanções vigentes da UE foram prolongadas até meados de 2019. E o espectro de mais sanções carrega os céus russos com as nuvens da incerteza..Asfixia.O maior país do mundo em superfície debate-se com problemas económicos, mas os seus cidadãos não têm muitas alternativas para expressarem o seu descontentamento. O líder da oposição Alexei Navalny tem sido preso de forma recorrente - e agora proibido de sair do país. O exílio tem sido a via de outros adversários políticos, como Garry Kasparov. Outras vozes divergentes acabaram por ser emudecidas, como aconteceu a Boris Nemtsov, Boris Berezovsky ou Sergey Magnitsky..As redes sociais e a internet são cada vez mais controladas, a ponto de as autoridades terem tentado bloquear a popular aplicação de mensagens Telegram. O panorama da comunicação social também não é animador. Nos últimos dias de dezembro, a BBC foi notificada de que a sua atividade vai ser investigada, o que, em teoria, poderá terminar com a restrição das atividades do canal britânico na Rússia..Os Repórteres sem Fronteiras classificam a Rússia em 148.º no índice de liberdade de imprensa (em 180 países). "Os principais meios noticiosos independentes foram controlados ou asfixiados. À medida que os canais de televisão continuam a inundar os telespectadores com propaganda estatal, o clima tornou-se cada vez mais opressivo para aqueles que questionam o novo discurso patriótico e neoconservador ou apenas tentam manter um jornalismo de qualidade. Pelo menos cinco jornalistas estão atualmente detidos por causa das suas reportagens - um número sem precedentes - e cada vez mais bloguistas estão a ser presos", lê-se no último relatório. E não se preveem melhorias..Vladimir Putin usa a conferência de imprensa anual como um pódio para horas de relações públicas. A maioria dos 1700 jornalistas acreditados aplaudem as respostas. As perguntas são dirigidas com antecedência para o gabinete de imprensa do Kremlin, que escolhe os jornalistas com direito ao uso da palavra. Estes, ao fazerem uma pergunta, não podem levantar mais questões relacionadas..À medida de Putin.No poder desde 2000, Vladimir Putin é a medida de todas as coisas no que concerne à política russa. Exemplo disso foi dado pela investigação da Novaya Gazeta: na sequência dos protestos de 2011-2012 e das eleições de 2012, os antigos guarda-costas do líder russo ascenderam a lugares de confiança na estrutura de poder (diretores de serviços de segurança, governadores...) e a sua lealdade foi recompensada com propriedades..Na sequência do último sufrágio, em março último, e com um mandato até 2024, o ex-agente do KGB negou a hipótese de voltar a concorrer em 2030, após o hiato que a lei exige. "Que vou fazer, ficar até ter 100 anos?" A resposta pode ter sido dada pelo presidente do Parlamento russo. Vyacheslav Volodin propôs uma mudança na Constituição que acabe com os limites de mandatos na presidência. Outra hipótese é alterar os poderes do Conselho de Estado de forma a que Putin, de 66 anos, permaneça no poder na chefia desse órgão. Seja como for, Putin já modulou a questão, ao dizer na conferência de imprensa anual que as alterações à lei magna devem ser "objeto de ampla discussão cívica".
Pelo quinto ano consecutivo os russos vão perder poder de compra, mas o presidente anuncia a entrada ao serviço de um novo sistema de mísseis intercontinentais hipersónicos. Vladimir Putin nunca fala das suas filhas, mas o Kremlin defende abertamente um dos herdeiros de um líder mundial (no caso, Mohammed bin Salman da Arábia Saudita). É esta a Rússia na viragem para 2019..No concerto das nações não se prevê que a Rússia melhore muito as suas relações com o Ocidente, apesar de Putin - ou exatamente por isso - querer reunir-se com Donald Trump. O capital de desconfiança da natureza da relação entre ambos acumula-se com o aprofundar da investigação do procurador especial Robert Mueller. Na questão ucraniana, não se antevê que a Crimeia vá ser restituída a Kiev, mas as eleições presidenciais de março na Ucrânia poderão trazer o degelo entre os dois países, caso Petro Poroshenko falhe a reeleição..Onde Moscovo joga cada vez mais um papel central é no Médio Oriente: os desafios para 2019 passam por conseguir um acordo mais lucrativo possível para a Síria, depois do investimento em armamento e em vidas. O anúncio da retirada norte-americana e o posicionamento das tropas turcas na fronteira - em ameaça aos curdos - podem determinar as próximas jogadas da impiedosa partida de xadrez russa, na qual aparenta ser aliado de arqui-inimigos como o Irão e a Arábia Saudita..No que respeita à economia, a Rússia vai voltar a sofrer sobressaltos e a inflação vai subir devido à combinação dos riscos de mais sanções, um rublo mais fraco e um aumento de impostos..O crescimento económico russo tem estado abaixo da média global nos últimos anos, o que se explica pela queda dos preços do petróleo, pelas sanções impostas pela União Europeia e pelos Estados Unidos em 2014 na sequência da anexação da Crimeia e também pelo comportamento da moeda, que os especialistas classificam de fraca e volátil..O produto interno bruto da Rússia cresceu 1,7% em 2018, quando a previsão do Banco Mundial era de 3,1%. A previsão para 2019 é de 1,4%. Se as sanções económicas se intensificarem o cenário pode piorar. O novo foco de tensão entre a Rússia e a Ucrânia devido ao apresamento, pela Marinha russa, de duas vedetas e de um rebocador da Marinha ucraniana, em novembro, levou a que se exigissem mais sanções contra Moscovo..Para já não foram tomadas novas medidas, mas as sanções vigentes da UE foram prolongadas até meados de 2019. E o espectro de mais sanções carrega os céus russos com as nuvens da incerteza..Asfixia.O maior país do mundo em superfície debate-se com problemas económicos, mas os seus cidadãos não têm muitas alternativas para expressarem o seu descontentamento. O líder da oposição Alexei Navalny tem sido preso de forma recorrente - e agora proibido de sair do país. O exílio tem sido a via de outros adversários políticos, como Garry Kasparov. Outras vozes divergentes acabaram por ser emudecidas, como aconteceu a Boris Nemtsov, Boris Berezovsky ou Sergey Magnitsky..As redes sociais e a internet são cada vez mais controladas, a ponto de as autoridades terem tentado bloquear a popular aplicação de mensagens Telegram. O panorama da comunicação social também não é animador. Nos últimos dias de dezembro, a BBC foi notificada de que a sua atividade vai ser investigada, o que, em teoria, poderá terminar com a restrição das atividades do canal britânico na Rússia..Os Repórteres sem Fronteiras classificam a Rússia em 148.º no índice de liberdade de imprensa (em 180 países). "Os principais meios noticiosos independentes foram controlados ou asfixiados. À medida que os canais de televisão continuam a inundar os telespectadores com propaganda estatal, o clima tornou-se cada vez mais opressivo para aqueles que questionam o novo discurso patriótico e neoconservador ou apenas tentam manter um jornalismo de qualidade. Pelo menos cinco jornalistas estão atualmente detidos por causa das suas reportagens - um número sem precedentes - e cada vez mais bloguistas estão a ser presos", lê-se no último relatório. E não se preveem melhorias..Vladimir Putin usa a conferência de imprensa anual como um pódio para horas de relações públicas. A maioria dos 1700 jornalistas acreditados aplaudem as respostas. As perguntas são dirigidas com antecedência para o gabinete de imprensa do Kremlin, que escolhe os jornalistas com direito ao uso da palavra. Estes, ao fazerem uma pergunta, não podem levantar mais questões relacionadas..À medida de Putin.No poder desde 2000, Vladimir Putin é a medida de todas as coisas no que concerne à política russa. Exemplo disso foi dado pela investigação da Novaya Gazeta: na sequência dos protestos de 2011-2012 e das eleições de 2012, os antigos guarda-costas do líder russo ascenderam a lugares de confiança na estrutura de poder (diretores de serviços de segurança, governadores...) e a sua lealdade foi recompensada com propriedades..Na sequência do último sufrágio, em março último, e com um mandato até 2024, o ex-agente do KGB negou a hipótese de voltar a concorrer em 2030, após o hiato que a lei exige. "Que vou fazer, ficar até ter 100 anos?" A resposta pode ter sido dada pelo presidente do Parlamento russo. Vyacheslav Volodin propôs uma mudança na Constituição que acabe com os limites de mandatos na presidência. Outra hipótese é alterar os poderes do Conselho de Estado de forma a que Putin, de 66 anos, permaneça no poder na chefia desse órgão. Seja como for, Putin já modulou a questão, ao dizer na conferência de imprensa anual que as alterações à lei magna devem ser "objeto de ampla discussão cívica".