Quando a dança é uma arma
O palco da Culturgest recebe amanhã e depois a peça Vontade de ter Vontade da bailarina e coreógrafa Cláudia Dias. Provavelmente a primeira peça artística do ano com a mira apontada aos políticos europeus em geral e aos portugueses em particular.
De braço esticado como quem procura um caminho ou como quem está prestes a fazer acusações, a bailarina Cláudia Dias diz: "se eu for por aqui"...Porque sabe que se não for, se ficar no mesmo lugar as coisas vão continuar a acontecer."Se eu ficar aqui, sempre no mesmo sítio, as coisas irão passar por mim em vez de ser eu a passar pelas coisas. O tempo irá passar lento, rotineiro, disciplinado e eu com ele à deriva...", diz.
Num palco onde se estendem sete pranchas de madeira, oscilantes e frágeis como jangadas, Cláudia Dias vai sobrepor um mapa político do mundo. A crise, os preconceitos do Norte Rico contra o Sul, da Europa contra África, países pobres contra países ricos vão materializar-se no seu corpo que, a solo, se arrasta ora penosamente ora em ritmo de samba, lembrando um Portugal que se arrasta face a um Brasil que ascende economicamente.
Ao longo de 50 minutos o público é confrontado com um discurso assumidamente político pois "a arte precisa de falar para o hoje, para o presente, para que possamos colocar em perspetiva toda a retórica que nos é imposta e que aceitamos como se fosse nossa. Sem questionar", afirma a bailarina. Durão Barroso, Angela Merkel são apenas alguns dos acusados pelo estado atual da Europa.
A coreógrafa aceita o risco de fazer uma peça "que corre o risco de ficar rapidamente datada" para, em troca, ganhar a possibilidade de "ajudar a construir memória e reflexão".
Vontade de Ter Vontade decorre no auditório da Culturgest às 21 e 30.