PSD critica o Governo: "Deveria ser o promotor da solução mas é cada vez mais parte do problema"

O maior partido da oposição, pela voz do seu vice-presidente, David Justino, fala em "irresponsabilidade" do Governo "pela forma como alimentou a escalada de radicalização do conflito" entre motoristas e patrões
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O PSD considerou esta terça-feira que o país tem assistido a "um autêntico circo mediático" desde a entrega do pré-aviso de greve dos motoristas, "com a multiplicação de declarações e acusações entre representantes dos trabalhadores e das entidades patronais". Pela voz do seu vice-presidente, David Justino, o partido critica o Governo pela forma como tem gerido este conflito. "Desde muito cedo (18 de julho e dias seguintes) vários ministros começaram a fazer declarações dando por certa uma greve com três semanas e meia de antecedência. Ou seja, enquanto fingia querer mediar o conflito, dava todos os sinais de que estava disposto a entrar no conflito", afirmou.

Para os sociais-democratas, o Executivo de António Costa entrou "em força" no circo mediático ao "dramatizar as consequências do cenário de greve" com constantes declarações e presenças de ministros nos órgãos de comunicação, com "declarações, entrevistas e anúncio de medidas, mobilização de forças armadas e de segurança". "Chegou-se ao extremo de termos três ministros em simultâneo em três canais de televisão", dá como exemplo David Justino.

O vice-presidente do maior partido da oposição faz uma cronologia dos acontecimentos para dizer que a 24 de julho, o governo, a pouco menos de três semanas do início da greve, "espalha o alarmismo" quando aconselha os portugueses a abastecerem-se de combustíveis. Lembra que a 29 de julho o ministro da Defesa "admite o recurso às Forças Armadas" e que a 2 de agosto o primeiro-ministro, António Costa "invoca o 'sentimento de revolta' que se faria sentir entre os portugueses".

Perante este cenário, o PSD diz que estava criado o "clima emocional favorável a uma intervenção musculada, e espetacular, por parte do Governo", que culminou com a requisição civil.

No comunicado que leu aos jornalistas, David Justino afirmou que o "Governo, em vez de recorrer a todos os instrumentos" para promover o diálogo entre as partes, "privilegiou o exercício desproporcionado da autoridade, a demonstração de força com um aparato coercivo injustificado e a tentativa de humilhação dos trabalhadores e dirigentes sindicais, para que pudesse mais tarde reclamar 'vitória'".

Negociações mesmo que seja necessário suspender a requisição civil

O PSD acusa, por isso, o executivo de "irresponsabilidade" devido à "forma como alimentou a escalada de radicalização do conflito" entre motoristas e patrões; "falta de isenção"; "excessos no exercício da autoridade de Estado", realçando que a postura do Governo não "será alheia" às eleições legislativas, marcadas para 6 de outubro. Acusa ainda o executivo de "tratamento diferenciado perante diferentes corpos profissionais, confirmando o seu estilo de ser forte com os mais fracos e fraco com os mais fortes".

Sem "qualquer solução à vista, com risco elevado de um prolongamento da atual situação de exceção", o PSD aconselhou o Governo a apostar no "restabelecimento das negociações, mesmo que para tal seja necessário suspender a requisição civil e desde que as posições irredutíveis dos sindicatos e dos representantes do patronato possam ser superadas, nomeadamente pela suspensão da greve - tal como já foi recentemente sugerido pelo presidente do PSD [Rui Rio] - e pela negociação sem condições prévias".

Para os sociais-democratas, o Governo e as forças que o apoiam estão num "beco sem saída". "Criaram o problema e não sabem como sair dele. Mais grave ainda, reduziram de forma significativa a sua margem de negociação pela forma como deixaram extremar as posições", disse David Justino. "O Governo que deveria ser o promotor da solução é cada vez mais parte do problema", lamentou.

De acordo com o PSD, o Governo devia também preocupar-se "com as reais condições de exercício da atividade profissional dos motoristas", referindo-se, por exemplo, ao "excesso de horas a que estão sujeitos, sem que a Autoridade para as Condições do Trabalho tenha tornada pública qualquer ação reguladora", bem como à "falta de condições de segurança rodoviária que estes excessos acentuam".

Aos jornalistas, o coordenador do conselho estratégico nacional do PSD disse ainda que será dificíl chegar a um entendimento se as três partes não abdicarem de alguma coisa: o Governo da requisição civil ou suspender, os sindicatos da greve e a Antram de se recusar a entrar em negociações.

Minutos antes desta conferência de imprensa, o presidente do PSD, Rui Rio, usou o Twitter para anunciar a mesma e deixar a crítica: o Executivo de António Costa "em lugar de ajudar a resolver o conflito, optou por o dramatizar, na esperança de, através dele, conseguir dividendos políticos".

Com Paula Sá

Diário de Notícias
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