O PS já decidiu: vai conversar com o PSD sobre os dois nomes que tem de indicar para o Tribunal Constitucional em substituição dos juízes Cláudio Monteiro e Clara Sottomayor, que renunciaram ao mandato..Os socialistas querem um compromisso do PSD e sabem que, em troca, têm de ceder na escolha do ex-governante, ex-deputado e ex-porta-voz do PS Vitalino Canas, cujo perfil fortemente partidário conduziu a um chumbo da sua escolha que a própria líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes, assumiu como uma "humilhação"..Vitalino - como o outro candidato escolhido pelo PS, o juiz do STJ António Clemente Lima , votado na mesma lista - não só não conseguiu atingir os dois terços de votos favoráveis necessários para ser eleito como nem sequer fez o pleno da bancada do PS. Precisava de 146 votos a favor (dois terços dos 219 deputados participantes na votação) e ficou-se pelos 93 votos a favor, 96 brancos e 30 nulos. A bancada do PS tem 108 deputados e, mesmo contando com algumas ausências, ficou claro que a rejeição à escolha de Vitalino Canas "contagiou" também alguns deputados socialistas. A essa rejeição não foi alheia a proximidade de Vitalino com José Sócrates..Correia de Campos retirou-se.A recusa geral da escolha de Vitalino teve também outro efeito. Foram também chumbados os outros nomes que nesse dia (28 de fevereiro) foram propostos para a presidência do Conselho Económico e Social (o ex-ministro socialista Correia de Campos, que tentava um segundo mandato e já tinha sido chumbado uma primeira vez) e para o Conselho Superior de Magistratura (sete nomes que tinham sido previamente consensualizados entre o PS e o PSD). Foram todos chumbados..Correia de Campos, entretanto, tirou as consequências, anunciando, numa declaração à Lusa que não estava disponível para ir de novo a votos. "Não foi eleito o candidato apresentado, ponto final. Não tenho de ter nenhuma mágoa nem nenhuma satisfação, o meu papel é respeitar totalmente a deliberação da AR, naturalmente", disse o ex-ministro da Saúde - que se manterá no entanto em funções à frente do CES até que o Parlamento lhe eleja um(a) sucessor(a)..Vitalino Canas, pelo seu lado, não deu sinais de estar disposto a recuar - pelo contrário, deu uma entrevista à RTP em que se manifestou disponível para ser novamente candidato (o DN tentou, em vão, contactá-lo)..Marcelo: avisos à navegação.Acontece que a direção do PS sabe que não é possível envolver o PSD no processo mantendo o seu nome em cima da mesa. Por isso partirá para a escolha de outro, fazendo o mesmo com Correia de Campos - e sujeitando essa escolha ao PSD para assegurar que se reúnem os dois terços de votos favoráveis necessários..Este caso, somado a vários outros, indicia uma legislatura muito menos estável do que a anterior, guiada pelos acordos da geringonça..Quem não está pelos ajustes é o Presidente da República. Numa conferência do Público, quinta-feira, Marcelo - que de 6 de abril a 9 de setembro estará liberto das inibições constitucionais que o impedem de dissolver a AR e convocar eleições antecipadas - deixou o aviso: "Não se julgue que alguém de meridiano bom senso possa recorrer num intervalo de tempo em que isso será possível ao voto popular antecipado.".E, assim, "o caminho é outro: baixar a temperatura do ambiente vivido, resistir à tentação sistemática, venha de onde vier, poderes ou oposições, do aceno a crises políticas apelando a dissoluções, definir rumos minimamente estáveis e agir no quadro parlamentar que os portugueses escolheram"..Outros fracassos.Não foi só na questão do Tribunal Constitucional que o PS se viu cercado à direita e à esquerda. Os casos têm-se sucedido. E ontem surgiu mais um: o Parlamento chumbou o novo regime das PPP..Metro de Lisboa A iniciativa foi do PAN, na discussão na especialidade do Orçamento do Estado para este ano (OE 2020): "O governo procede, durante o ano de 2020, à suspensão do projeto de construção da Linha Circular do Metropolitano de Lisboa." A linha circular seria o complemento da atual linha verde, ligando o Rato ao Cais do Sodré com duas paragens no meio: Estrela e Santos. Para surpresa do PS e do governo, o PSD juntou-se ao PAN - sendo que nessa altura o executivo já sabia que a suspensão do projeto também teria os votos do PCP e do BE. Todos acham prioritárias as ligações a Belém e a Loures..Aeroporto do Montijo Nova surpresa para o governo, vinda das bandas do PSD. No governo liderado por Passos Coelho (2011-2015) ficou decidido que o segundo aeroporto da Área Metropolitana de Lisboa seria no Montijo, aproveitando a Base Aérea n.º 6. António Costa decidiu dar sequência a essa decisão, em nome de um grande consenso que acha exigível para as grandes obras públicas. Mas agora o PSD recusa ajudar o governo na mudança da lei que contornaria os vetos autárquicos do Seixal e do Montijo (ambos câmaras PCP). O primeiro-ministro recomeçou a falar com aquelas autarquias - mas estes continuam intransigentes. O PSD, pelo seu lado, continua intransigente na recusa de mudar a lei. A situação é portanto de impasse..Nova lei das PPP Discretamente, sob a forma de decreto, sem passar pela AR, o governo fez publicar em dezembro do ano passado uma alteração ao regime das PPP, mudando o Código dos Contratos Públicos. Doravante, as PPP seriam decididas pelo Conselho de Ministros (e não pelo ministro das Finanças). Mas, mais importante do que isso, fora da alçada da lei ficariam as PPP municipais na área da habitação (uma medida que Fernando Medina precisa para Lisboa). O PSD não gostou nem o resto da oposição. Ontem, com a exceção do PS (que votou contra), do CDS (que se absteve) e do Chega (que não votou), a AR aprovou resoluções revogando o decreto. A maioria foi do PSD ao BE e incluiu pelo meio PCP, PAN, PEV, Joacine Moreira e a IL.