Os professores consideram que os alunos passam tempo "excessivo" na escola, enquanto os encarregados de educação o acham "adequado", segundo um estudo nacional em que pais e docentes revelam ter opiniões divergentes sobre a escola.."A escola que os pais e os professores falam não é a mesma. Têm visões muito diferentes", revelou à Lusa o psicólogo Eduardo Sá, mentor do projeto Escola Amiga da Criança, que solicitou um estudo à Universidade Católica do Porto sobre a Missão da Escola..O tempo que os alunos passam nos estabelecimentos de ensino é, precisamente, um dos temas que mais separam pais e professores: 71% dos docentes consideram "excessivo", contra 62% dos encarregados de educação que dizem ser "adequado"..Os números baseiam-se nas respostas de cerca de 6400 docentes e encarregados de educação de todo o país e diferentes níveis de ensino que, entre julho e setembro deste ano, responderam ao inquérito da Católica criado com o objetivo de analisar e conhecer a perceção sobre a Missão da Escola..Pais concordam com a quantidade de TPC.Curiosamente, a importância dos trabalhos para casa (TPC) une os dois grupos de inquiridos, que os consideram uma forma de apoio ao estudo e um bom complemento à aprendizagem..O psicólogo Eduardo Sá lembrou que atualmente a grande maioria das crianças e dos jovens começam as aulas por volta das oito da manhã e só terminam as tarefas escolares às 20.00. É que quando chegam a casa ainda têm de fazer os trabalhos..Quase 90% dos alunos têm TPC - 96% dos professores dizem que manda trabalhos para casa "muitas vezes ou sempre" - e a maioria dos estudantes do secundário (cerca de 60%) ainda tem explicações depois das aulas, revela o estudo.."Qual é a mais-valia dos TPC, principalmente quando têm de ser feitos entre o final do dia e a hora do jantar, levando as famílias a um ataque de nervos?", questionou o psicólogo.."Escola a mais faz mal às crianças", diz psicólogo.Resultado: as horas de trabalho impostas aos estudantes ultrapassam as dos pais. "As crianças estão a trabalhar oito horas por dia, o que significa mais de 60 horas por semana", criticou Eduardo Sá em declarações à Lusa, lembrando a importância de ter tempo para se ser criança e adolescente..O psicólogo alertou para o perigo de a escola se transformar numa versão moderna do trabalho infantil do século XIX, garantindo que "escola a mais faz mal às crianças"..Outra das perguntas dirigidas aos cerca de 3200 professores e outros tantos pais foi de quem era a responsabilidade pelo desempenho e pelo sucesso académico dos alunos..Para os professores, eles são os principais responsáveis, enquanto os pais atribuem essa responsabilidade aos alunos..As opiniões também divergem quando se fala nos objetivos da escola: os professores põem em primeiro lugar a formação cívica (65%), os pais têm como prioridade a transmissão de conhecimento científico e tecnológico (64%). Ambos concordam apenas que o aspeto menos relevante é o desenvolvimento físico..Finalmente, os docentes entendem que a escola deve formar os alunos, enquanto a maioria dos pais diz preferir uma escola que os prepare para os exames e para o mercado de trabalho..Para Eduardo Sá, as escolas não podem produzir "crianças de aviário". Quando isso acontece, deve "fechar" para reflexão e balanço: "Mais importante do que tentar repetir, é aprender a perguntar. Mais indispensável do que tirar as dúvidas, é uma criança agarrar-se a elas para aprender a pensar", escreveu o psicólogo no texto introdutório do estudo hoje apresentado em Lisboa..O estudo coordenado pela professora Conceição Andrade e Silva foi apresentado nesta quarta-feira em Lisboa num encontro que contou com a presença de responsáveis do Conselho Nacional de Educação, da Associação Nacional de Direção-Geral da Educação, representantes dos diretores das escolas públicas e privadas assim como com a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP)..No evento foi ainda lançada a 3.ª edição da Escola Amiga da Criança, uma iniciativa conjunta LeYa/CONFAP que visa distinguir as escolas com projetos não curriculares que apostam no desenvolvimento da criança.