O português Pedro Isidoro é um dos 300 paraquedistas de todo o mundo que vão saltar com pelo menos três veteranos quando estes, a 5 de junho, repetirem o salto com que há 75 anos participaram no início da invasão da Europa ocupada pelos nazis..O evento, segundo a organização, assinala também a maior reunião de aviões Dakota - há 34 Douglas DC-3 e C-47 (versão militar) confirmados - desde a II Guerra Mundial. Os aparelhos vão descolar do aeródromo de Duxford (norte de Londres) para, escoltados pelos míticos caças britânicos Spitfire, sobrevoarem o canal da Mancha e evocarem a gigantesca operação aerotransportada de 1200 aeronaves que, a 5 de junho de 1944, partiram de Inglaterra para lançarem mais de 20 mil paraquedistas sobre a Normandia..Pedro Isidoro, ex-paraquedista que agora é piloto da aviação comercial no Dubai, conseguiu ser um dos 300 finalistas entre os milhares de candidatos de todo o mundo que quiseram associar-se às cerimónias promovidas pela organização Daks over Normandy (Dakotas sobre a Normandia), fazendo que Portugal - país neutral mas importante local de operações para a espionagem aliada e alemã - fique associado às comemorações do Dia D..Num evento em que vão estar vários chefes de Estado, os responsáveis turísticos daquela região francesa - onde o Dia D e a batalha da Normandia serão celebrados ao longo do verão - esperam receber muitos milhares de visitantes. Com Pedro Isidoro vão saltar, pelo menos, três veteranos nonagenários: os britânicos Harry Read (95 anos) e Jock Hutton (94) e o norte-americano Tom Rice (97)..Tom Rice, que pertencia à 101.ª Divisão Aerotransportada dos EUA, participa através de outra organização presente nas cerimónias: a Round Canopy Parachuting Team - USA..Ser militar e paraquedista.Piloto do maior avião comercial do mundo (A380), Pedro Isidoro conta ao DN que é um entusiasta do paraquedismo e da história da II Guerra Mundial e que, em fevereiro e durante as férias, esteve numa escola de paraquedismo na Florida (EUA), onde tirou o curso de qualificação de saltos com paraquedas hemisféricos (calotes redondas) a partir dos Dakotas..Os critérios de seleção - experiência de saltos, ter paraquedas redondo (considerado material de guerra em Portugal), saber dobrá-lo - afastaram muitos dos interessados em saltar das aeronaves que, há 75 anos, representaram dois terços dos aparelhos envolvidos na Operação Overlord..O português, que nos tempos livres pratica saltos de queda livre e com paraquedas automáticos, nasceu há 38 anos na Suíça. Filho de emigrantes, chegou a Portugal com 4 anos. Concluídos os estudos secundários numa escola pública do Barreiro, Pedro Isidoro "já tinha a paixão pelas Forças Armadas, pelos paraquedistas" em particular..Sem o apelo e a motivação para seguir um curso universitário, foi com naturalidade que se ofereceu como voluntário para as fileiras em 2000, num tempo em que o serviço militar ainda era obrigatório. O contrato inicial de 18 meses acabou por se prolongar durante seis anos..Como "queria participar mais na ação", Pedro Isidoro alistou-se como sargento - a carreira de oficial (para a qual tinha habilitações) envolvia "um papel muito mais administrativo" - e em 2003 esteve meio ano em missão na Bósnia e Herzegovina..Quando regressou dos Balcãs, Pedro Isidoro concorreu aos quadros permanentes. "Tinha duas opções em mente: concorrer à Escola de Sargentos ou inscrever-me no curso de Piloto", reconhecidamente "mais aliciante à partida". Mas "amava ser militar e ser paraquedista", pelo que a escolha não foi difícil.."No meu grupo de testes físicos, fui o melhor e passei com distinção, pois o exercício físico fazia parte do dia-a-dia das tropas paraquedistas", lembra o piloto. "Lamentavelmente, fui passado à frente por um grupo de candidatos civis, que tinham maior média escolar (eu tinha 13) mas nunca tinham sido militares e foram aprovados nas provas físicas porque os instrutores 'fecharam os olhos' ou assobiaram para o lado quando os candidatos não conseguiam superar as provas.."Foi então que desisti e segui o plano B, concorrer para piloto civil", acrescenta o antigo militar. Por isso, com o dinheiro ganho na Bósnia "decidi investir no meu futuro" e tirar a licença de piloto comercial numa escola de aviação..Viver e trabalhar no Dubai.Pedro Isidoro deixou o Exército em 2005, começando a trabalhar como piloto na Portugália. Dois anos depois entrou por concurso para a TAP e para realizar "algo extremamente cativante": operar "aviões Airbus de médio e longo curso" (A320 e A330, respetivamente)..Há quatro anos, com a Emirates a contratar pilotos europeus qualificados naqueles aviões, Pedro Isidoro foi contratado para a frota do maior avião comercial do mundo - o A380, "definitivamente o patamar mais alto da aviação comercial"..Trata-se de um avião cujas aterragens e descolagens são feitas com quatro pilotos em simultâneo no cockpit, diz ao DN, antes de um voo de ida e volta a Tóquio onde à chegada teve de abortar a aterragem, "porque a pista não ficou livre a tempo".."Estou a fazer voos de longo curso e de ultralongo curso, que podem durar até 17 horas, para todos os continentes e para grandes cidades do mundo", como Los Angeles, São Francisco e Houston (EUA), Auckland ou Christchurch (Nova Zelândia). "Isto requer algum trabalho, há muita ação nas descolagens e nas aterragens. É exigente física e psicologicamente gerir situações fora do normal" nesses períodos iniciais e finais de um voo, explica o agora paraquedista civil..E estar fora do país? "Viver no Dubai é fantástico. É uma cidade onde tudo existe", garante o piloto, "com pessoas de quase todo o mundo e onde há uma grande tolerância cultural. Somos respeitados em todas as formas, seja de que religião formos e de que país viermos", realça o emigrante, destacando ainda que "a sensação de segurança nas ruas não existe em mais parte alguma".