Polícia vai investigar ataque radical a restaurante de Avillez
O ataque com tinta vermelha à fachada do restaurante Cantinho do Avillez, no Porto, na sexta-feira, terá sido feito por alegados ativistas pró-palestinianos do movimento global BDS (Boicote-Desinvestimento-Sanções), segundo o jornal israelita The Times of Israel. Dado o suposto contexto político do ato de protesto, a PSP vai investigar o caso e tentar identificar os autores, apesar de José Avillez ter declarado ontem ao DN que não ia apresentar queixa. Segundo fonte policial, a questão é que o vandalismo assume aqui contorno de crime público dado o contexto extremista político do protesto. Se o Ministério Público entender, a investigação do caso até passa para a Polícia Judiciária. A mesma fonte acrescentou que a PJ e o SIS já estarão atentos ao ataque e aos seus eventuais autores.
O dono do espaço, o chef José Avillez - criticado pelo movimento por ter ido a Telavive participar num festival gastronómico - desvalorizou o ato e nem vai apresentar queixa. "Chamar vandalismo ao que fizeram, que foi pintar umas paredes e colar uns papéis, é excessivo. Não fiz nenhuma queixa formal à PSP do Porto nem vou fazer", declarou o chef ao DN, ontem, à chegada a Portugal.
A fachada do restaurante foi pintada com tinta vermelha na sexta feira e nela foram colados papéis nos quais, segundo notícias publicadas ontem, se podiam ler frases como "Liberdade para a Palestina", "Avillez colabora com a ocupação sionista" e "Entrada: uma dose de fósforo branco". Avillez não assistiu a nada pois ainda se encontrava em Israel, mas adiantou que a PSP foi ao restaurante logo a seguir ao ataque registar a ocorrência e identificar alguns dos empregados do chef que se encontravam presentes. "Quando a viagem foi marcada recebemos alguns e-mails de ativistas a desincentivarem a minha participação", adiantou o chef, garantindo que "não houve ameaças nesses apelos".
O festival Round Tables, em Telavive, que decorre de 6 a 26 de novembro, convidou 13 cozinheiros mundiais de topo, para liderarem a cozinha - cada um deles, durante uma semana - de um restaurante israelita. O evento é patrocinado pelo American Express.
José Avillez encara o que aconteceu no seu restaurante do Porto como um "acidente de percurso" e lembra que não está ligado a qualquer apoio político a Israel. "Se o encontro gastronómico fosse na Palestina iria também. A cozinha israelo-palestiniana interessa-me muito. Da política não percebo. Como dizia o outro, eu é mais bolos!".
A 10 de novembro, antes de o chef ter partido para Israel, um conjunto de associações e grupos portugueses ligados ao movimento internacional BDS publicou um abaixo assinado intitulado: "Chefs de cozinha internacionais, entre os quais José Avillez, patrocinados pelo negócio ilegal dos colonatos israelitas". No abaixo-assinado seguia-se um apelo dos ativistas "ao chef de cozinha português José Avillez, dono do restaurante Belcanto em Lisboa, para que este cancelasse a sua participação no evento de culinária em Telavive intitulado Round Tables".
O apelo insere-se num protesto internacional que juntou mais de 140 organizações de direitos humanos contra a participação no evento de restaurantes gourmet, entre os quais L"Ami Jean em Paris e o Musket Room em Nova Iorque.
José Falcão apoia os ativistas
A organização SOS Racismo foi uma das signatárias. O rosto desta associação, José Falcão, garantiu ao DN que não participaram no ato de vandalismo à fachada do Cantinho do Avillez, no Porto, "mas o que esses ativistas possam ter feito é nada comparado com o que está a ser feito por Israel nos colonatos".
José Falcão considera ainda que "a participação dos chefs no evento foi muito triste porque o regime israelita tem desrespeitado todas as recomendações da ONU em relação à ocupação dos colonatos".
Confrontado com a desvalorização de Avillez em relação ao ataque, José Falcão comentou: "Acho bem que não apresente queixa. Afinal, eles tomaram uma atitude face a um ato que é muito pior".