Seleção proibida de fazer treino para emigrantes
A seleção nacional foi impedida pela polícia francesa, por motivos de segurança, de realizar um treino à porta aberta num estádio em Bondoufle, localidade que fica a cerca de 30 quilómetros de Paris e a 15 do centro de estágio português, em Marcoussis. Segundo informações recolhidas pelo DN, o evento estava a ser preparado - até para aproveitar a vasta comunidade portuguesa emigrada no país do Euro 2016 - mas a polícia francesa desaconselhou veementemente tal iniciativa, dadas as regras de segurança que serão aplicadas na competição, que arranca já esta sexta-feira.
A UEFA, entidade organizadora do Europeu, determina que todas as seleções realizem um treino aberto e, nesse sentido, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) terá tentado agendar essa sessão para o dia 9 de junho, tendo escolhido o estádio Robert-Bobin, que tem capacidade para 19 mil pessoas. No fundo, os dirigentes da FPF pretenderiam antecipar as comemorações do dia de Portugal com um banho de apoio à seleção, que chega a França precisamente na próxima quinta-feira, um dia depois de disputar um jogo particular frente à Estónia, no Estádio da Luz (ver págs 50 e 51).
No entanto, esse plano teve de ser cancelado. Segundo fonte da PSP, a polícia francesa quer evitar ao máximo grandes concentrações de pessoas, que não sejam em jogos. Por isso, as selecções serão quase que confinadas aos respetivos locais de estágio, de forma a que o número de adeptos que assistam aos treinos abertos seja o mais reduzido possível, logo mais controlável, numa altura em que França continua a debater-se com a ameaça terrorista.
Sendo assim, o treino de dia 9 será aberto aos emigrantes no centro de treinos Domaine de Bellejame, em Marcoussis, com capacidade para cerca de mil adeptos. Fonte da FPF disse apenas ao DN que "é informada e respeita os planos e coordenação das autoridades, através de um oficial de ligação da GNR e outro da PSP, que lidam com as autoridades e a organização da prova". "A FPF é parte interessada, mas não lhe compete coordenar questões de segurança. Estamos concentrados na parte desportiva", acrescentou.
Apesar da "concentração" na parte desportiva, jogadores, dirigentes e técnicos não ficarão indiferentes ao rigoroso esquema de segurança à volta das seleções para o Euro 2016. "Os franceses estão preocupados e estão a tomar medidas muito restritivas. Muito diferentes do padrão noutros eventos desportivos internacionais. E a nossa seleção também fica limitada. As aparições públicas, as entradas e saídas do hotel e os treinos serão muito controlados. Se Portugal progredir na competição a tendência é para mais restrições", reconheceu, ao DN, fonte policial da delegação que acompanha a seleção portuguesa.
PSP e GNR armadas
Perante este quadro, não é de estranhar que os seguranças da PSP e GNR, que vão acompanhar a seleção nacional, levem pela primeira vez a arma de serviço, sobretudo para situações de autodefesa. Isto por sugestão da polícia francesa, segundo o superintendente Luís Simões, que irá coordenar as equipas de segurança. "As autoridades francesas optaram por permitir que as delegações de polícias internacionais levem os seus armamentos e equipamentos que usam nos países de origem", disse à agência Lusa, adiantando que aquela decisão "terá certamente a ver com a ameaça terrorista e com o contexto internacional que se vive".
Alvos difusos
Neste momento, fonte policial salienta o caráter difuso dos alvos. Tanto poderão ser "soft targets" - esplanadas, praças cheias de gente, restaurantes, interface de transportes - como alvos mais cirúrgicos, tais como atletas, altas entidades, delegações ou centro de estágio. Seja como for, o facto de Portugal ter nas suas fileiras um dos melhores jogadores do mundo na atualidade, Cristiano Ronaldo, não faz aumentar o risco de atentado em relação à seleção nacional. Ao que o DN apurou, as secretas portuguesas estão em contacto com a congénere francesa e não receberam nenhuma informação nesse sentido. "A ameaça e o risco tem a ver com todo o evento, de uma forma geral", disse ao DN uma fonte responsável pela avaliação do risco.
Certo é que as autoridades portuguesas destacadas em França vão fazer equipa com os polícias daquele país e marcar presença em todas as cidades onde Portugal vai jogar (ver caixa ao lado), bem como em permanência junto ao quartel-general da equipa das quinas em Marcoussis.
A delegação, composta por oito elementos (seis da PSP e dois da GNR) iniciou ontem funções em França, onde vai permanecer ao final da participação da seleção nacional no campeonato, e tem como principal objetivo acompanhar os adeptos portugueses. "Qualquer português com problemas pode dirigir-se à delegação portuguesa, que depois fará a coordenação com as autoridades francesas", realçou Luís Simões.