PJ detém histórico anarquista galego procurado por crimes violentos em Espanha
A notícia da detenção já corria nos sites da internet dos movimentos anarquistas internacionais, desde domingo passado. Esta terça-feira, em comunicado, ainda que não faça referência à sua ligação a estes grupos, a Polícia Judiciária (PJ) confirma a detenção do galego, no dia 25 de janeiro, em cumprimento de um Mandado de Detenção Europeu (MDE), emitido pelas autoridades espanholas. A operação foi coordenada pela Unidade Nacional de Contraterrorismo UNCT) da PJ em colaboração com Cuerpo Nacional de Policía (CNP)
Gabriel Pombo da Silva, 52 anos, já tinha estado preso em Espanha, Alemanha e Itália, sempre por crimes violentos relacionados com a sua luta anarquista. De acordo com a PJ, o galego era há muito procurado pela polícia espanhola, para cumprir uma pena de 30 anos de prisão por vários crimes, entre os quais assaltos a bancos à mão armada, extorsão a empresários e um homicídio. Todos os crimes foram cometidos entre 1990 e 1997 em Espanha, segundo o MDE.
Por sua vez, a CNP, também em comunicado descreve todo o historial do detido e acrescenta que a detenção contou também com a polícia italiana. Revela que desde 2019 os investigadores da Comissão de Informações Gerais estavam o rasto de Gabriel, depois da sua passagem à clandestinidade "para escapar da ação da justiça que o procurava pelos inúmeros processos pendentes que acumulou".
Segundo a polícia espanhola, as primeiras investigações indicaram que o galego poderia estar escondido em Itália. Com o decorrer das averiguações foi emitido um MDE e as buscas foram alargadas ao território europeu. "A partir desse momento, iniciou-se uma estreita colaboração com a italiana Polizia di Stato, a fim de detetar e deter esse cidadão espanhol que estava vinculado ao terrorismo anarquista insurrecional do Frente Anarquista Ibérica/Frente Revolucionária Internacional, na Itália. Como resultado, verificou-se que o referido indivíduo residia na área de fronteira da Espanha e Portugal", assinala o CNP.
As autoridades espanholas lembram que depois de uma fuga da prisão na Espanha em 2004, Gabriel "fugiu para a Alemanha, onde foi preso pelas autoridades daquele país após um confronto armado com eles". Foi depois extraditado para Espanha, depois de cumprir sua sentença na Alemanha. Quando concluiu a pena em Espanha, conta ainda a polícia daquele país, "realizou conferências em todo o território espanhol que tratavam do movimento insurrecional anarquista". Mesmo tendo passado à clandestinidade, Gabriel "não deixou de publicar escritos e manifestos publicados nos sites do movimento anarquista insurrecional em que foi mostrado como líder do referido movimento".
Sublinha o CNP que "os agentes espanhóis, em colaboração com a Polícia Judiciária de Portugal, estabeleceram um dispositivo no território português e na área de fronteira com a Espanha, que permitiu a localização e detenção de Gabriel Pombo da Silva, com base num MDE que o indicia pela suspeita de participação nos crimes de homicídio, posse ilegal de armas, sequestro, posse de munição e armas explosivas, assaltos à mão armada e violentos, tráfico de drogas, extorsão e simulação de crimes ".
Gabriel vivia há cerca de ano e meio escondido na região de Monção, Minho, de onde continuava a sua ação revolucionária na clandestinidade. É daqui que deu uma entrevista ao jornal "Novas da Galiza", classificado como de esquerda nacionalista, em abril de 2018. O anarquista em fuga é descrito como um lutador pela liberdade e "expropriador" de bancos.
Nasceu no bairro popular de Poulo, em Vigo e acompanhou os pais quando estes emigraram para a Alemanha, onde foi preso pela primeira vez num centro de menores. Passou por vários países antes de regressar a Vigo, tendo também sido preso em Itália acusado de ações violentas. "Passou 32 anos de vida dentro da cadeia, a lutar a partir dela e a fugir, num incansável combate na procura pela liberdade individual e coletiva", escreve o jornal. "Conversámos com ele no exílio português, já que continua com processos em aberto em Itália e na Alemanha", é revelado ainda.
Nessa entrevista, Pombo da Silva fala da sua história de vida: "Quase toda a minha luta partiu da cadeia e quando saía a minha briga continuava. Nos anos 89 e 90 participei num grupo armado que formámos a partir da APRE (Associação de Presos em Regime Especial), nós éramos o setor galego e chamávamo-nos de Irmandade Galega. Tudo quanto eu observava à minha volta fazia com que tomasse consciência, via pessoas que por serem fascistas ou por terem dinheiro viviam bem, enquanto a maior parte das pessoas do meu bairro não tinha nada. Naquela altura tínhamos consciência e raiva e por isso também podíamos fazer outras coisas".
Escreveu vários manifestos quando estava preso, entre os quais Diario e ideario de un delincuente, divulgado pelos anarquistas espanhóis.
Um dos sites que noticiou a sua detenção, lamenta o "fim da clandestinidade do companheiro anarquista Gabriel Pombo da Silva" referindo que foi preso nessa manhã, dia 25 de janeiro, pela PJ, encontrando-se nas instalações desta polícia no Porto. "Gabriel está bem e bastante tranquilo, apesar de tudo", informa. Mas não se conformam com o destino de Gabriel, a quem consideram uma vítima da "vingança" de "governos repressivos" de vários países da Europa "por nunca ter baixado a sua cabeça, nem ter desistido de lutar".
Segundo a PJ o galego foi presente ao Tribunal de Relação de Guimarães para interrogatório judicial. O kuiz determinou que ficasse em prisão preventiva, a aguardar extradição para Espanha.
Não é a primeira vez que são detidos em Portugal operacionais ligados aos movimentos galegos considerados terroristas. Em 2015 Héctor José Naya Gil, 33 anos, um operacional da Resistência Galega, de nacionalidade espanhola, foi detido no aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, quando tentava embarcar num voo para Caracas (Venezuela), com um passaporte venezuelano falso. Tinha sido condenado a 11 anos de prisão (5 anos por "participação em organização terrorista" mais seis anos por "colocação de artefactos explosivos com fins terroristas").
Pouco depois de ser confirmada a sentença de 05 de dezembro último, Héctor Gil fugiu às autoridades espanholas e a Audiencia Nacional emitiu uma "ordem de captura"
A denominada "Resistência Galega" é uma organização terrorista cujo objetivo é o de conseguir a independência do território histórico da Galiza face a Espanha e uma parte do Norte de Portugal, subvertendo para isso a ordem constitucional na Comunidade Autónoma [...], justificando o uso da violência contra pessoas e bens como única forma de alcançar os seus propósitos", escreveu o tribunal.
(Atualizado às 10h50 com informação do Cuerpo Nacional de Policía de Espanha)