A Procuradoria-Geral da República abriu um inquérito "com vista a averiguar a eventual existência de procedimentos incorretos ou irregulares" do Ministério Público no caso das adoções no lar da Igreja Universal do Reino de Deus, informou a PGR em comunicado.."Este processo é dirigido pelo Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa e encontra-se em segredo de justiça. Acresce que a matéria em questão está intrinsecamente ligada com processos concretos que correram termos na jurisdição da família e crianças, área de especial e relevante intervenção do Ministério Público. Assim, por considerar que a atuação funcional do Ministério Público no âmbito deste universo de processos não pode deixar de ser objeto de análise, a Procuradora-Geral da República determinou a abertura de um inquérito com vista a averiguar a eventual existência de procedimentos incorretos ou irregulares", explica a nota enviada à imprensa esta terça-feira..Uma investigação jornalística de sete meses realizada pela TVI descobriu que pelo menos dez crianças portuguesas foram "roubadas" às mães biológicas na década de 90 do século passado, a partir de um centro de acolhimento em Lisboa financiado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), e levadas para adoção internacional ilegal..Contactada pelo DN, a Procuradoria-Geral da República respondeu que "existe um inquérito relacionado com essa matéria, tendo o mesmo sido remetido ao Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa para investigação". A Polícia Judiciária, através do seu diretor nacional adjunto, Pedro do Carmo, adiantou ao DN que "nunca nenhuma entidade ou autoridade denunciou até hoje qualquer um destes casos à PJ. Para nós é uma matéria desconhecida". Acresce outro problema: "Os crimes prescreveram". Ilícitos graves como sequestro de crianças ou associação criminosa, têm um prazo máximo de 20 anos para serem investigados, explicou. Por exemplo, o primeiro caso relatado na reportagem, de três irmãos levados para os Estados Unidos, aconteceu em 1995, pelo que prescreveu em 2015..Segurança Social agiu agora.O inquérito em curso no DIAP de Lisbo adeveria servir para apurar responsabilidades mas se todos os factos prescreveram vai ser difícil. De qualquer forma, o processo foi aberto depois de uma denúncia feita agora pela Segurança Social ao Ministério Público. E a Segurança Social agiu depois de a TVI a contactar a propósito da descoberta dos factos chocantes ocorridos há mais de 20 anos. "No âmbito da investigação levada a cabo pela TVI relativa à "Casa de Acolhimento Mão Amiga", integrada na Obra Social da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o Instituto da Segurança Social, tomando conhecimento dos factos descritos, apresentou (...) uma participação ao Ministério Público/DIAP de Lisboa", comunicou a Segurança Social depois de questionada pela estação televisiva. Também só agora a autoridade máxima do Estado em matéria de adoção concluiu que o lar financiado pela IURD não estava legal à data dos factos (entre 1995 e 2001), apesar de a Segurança Social enviar para lá crianças, como relatou a reportagem. "Na sequência dos e-mails remetidos pela estação televisiva, o Instituto da Segurança Social. I.P., teve a oportunidade de rever juridicamente esta matéria, concluindo que essa casa de acolhimento, não estando licenciada, se encontrava em incumprimento do disposto legal aplicável", refere o comunicado..Segundo informações avançadas pela TVI, a IURD tem atualmente nove milhões de fiéis, espalhados por 182 países, 320 bispos e cerca de 14 mil pastores..Esta igreja evangélica foi fundada no final da década de 1970 e é liderada pelo bispo Edir Macedo, considerado um os homens mais ricos do Brasil..A IURD refuta as acusações de rapto e de um esquema de adoção ilegal de crianças portuguesas e considera-as fruto de "uma campanha difamatória e mentirosa".